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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Atenolol trata pressão alta, mas parar sem ajuda leva a efeito rebote

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Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

01/09/2020 04h00

Resumo da notícia

  • O atenolol pertence a um grupo de medicamentos definidos como betabloqueadores
  • Ele é indicado para o tratamento de hipertensão, arritmias e prevenção da angina
  • O objetivo dessa terapia é prevenir doenças do coração, como infarto e suas complicações
  • Ele não deve ser descontinuado sem orientação médica, dado o risco de efeito rebote

O atenolol é um betabloqueador usado desde 1981 para o tratamento de várias condições cardiovasculares. O pioneiro uso dessa classe de medicamentos se deu em 1958, quando o farmacologista escocês, James Black, o utilizou para tratar a angina de peito (dor torácica decorrente do inadequado fornecimento de sangue ao coração). Em razão desse feito, Black recebeu o prêmio Nobel.

O que é o atenolol?

Trata-se de um tipo de um medicamento classificado como betabloqueador, e só pode ser comercializado sob receita médica.

Essa classe de fármacos tem como característica a capacidade de bloquear os efeitos do sistema nervoso simpático, que é responsável pela resposta ao estresse, com a elevação da pressão arterial.

Em quais situações ele deve ser usado?

Dada a utilização desse fármaco há quase 40 anos, ele é considerado muito seguro e eficaz. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado.

A medicação pode ser indicada para aliviar sintomas relacionados às seguintes condições:

  • Hipertensão (pressão alta)
  • Angina de peito (Angina pectoris)
  • Infarto agudo do miocárdio (inclusive tratamento precoce e tardio)
  • Alguns tipos de arritmias

O médico poderá também valer-se desse betabloqueador para prevenir sintomas de enxaqueca, ansiedade, crises de abstinência alcoólica. Contudo, essas indicações não estão contempladas na bula do remédio (são off label).

É importante ressaltar que, no tratamento da ansiedade, o atelonol não trata a doença em si, mas sintomas como tremor, aceleração do batimento cardíaco, e tem como objetivo trazer conforto para o paciente.

Entenda como ele funciona

Amouni Mourad, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP explica que o atenolol possui boa farmacocinética. "Mais de 90% da quantidade absorvida alcança a circulação sistêmica inalterada, e é rapidamente distribuída para os tecidos, até que chega a seu alvo, efetua sua ação, se transforma em um produto excretável (metabolização). Ao terminar sua tarefa, ela sai do corpo pela via renal, principalmente, e fecal".

Quanto ao mecanismo de ação (farmacodinâmica), o atenolol, como outros betabloqueadores, age modificando a forma como o corpo responde a determinados impulsos nervosos.

"O coração tem alguns receptores chamados Beta [em especial o Beta 1], e quando a adrenalina age nesses receptores, ela aumenta a frequência do batimento cardíaco e a força de contração do coração. O atenolol bloqueia o estímulo causado pela adrenalina. É assim que o fármaco reduz a pressão arterial e a pressão cardíaca". A explicação é de José Rocha Faria Neto, professor de cardiologia da Escola de Medicina da PUC-PR.

Após a administração, seus efeitos já são perceptíveis em 60 minutos, e alcançam sua maior potência entre 2 e 4 horas, o que pode durar por até 24 horas.

Conheça as apresentações disponíveis

Embora o Atenol® tenha tido sua produção descontinuada pelo fabricante, ele continua sendo a marca de referência do atenolol, mas existem várias outras com o mesmo princípio ativo, além das versões genéricas.

Aliás, algumas apresentações do atenolol constam da Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), por isso têm distribuição gratuita em todas as UBS (Unidades Básicas de Saúde). Para ter acesso a elas, basta apresentar a receita médica.

O remédio apresenta-se no formato de comprimidos com 25 mg; 50 mg e 100 mg.

A depender da indicação do atenolol como, por exemplo, no caso da terapia da hipertensão, geralmente ele é de uso contínuo.

Por que ele deve ser descontinuado sob orientação médica?

Parar o tratamento por conta própria pode ter como consequência eventos graves. Esta é a advertência de Marcelo Polacow, farmacêutico e vice-presidente do CRF-SP.

"Pessoas que fazem uso crônico desse medicamento podem ter o chamado efeito rebote. Como o organismo se adapta aos efeitos do atenolol, a interrupção abrupta da sua administração poderá acarretar a intensificação de sintomas, como arritmias, e a frequência da angina", diz o especialista. "A prática também se relaciona ao aumento de incidência de infarto e morte por causa cardiovascular", acrescenta Polacow.

Por que há risco de dopping?

A medicação bloqueia o efeito da adrenalina. Para quem faz atividade física, o uso de betabloqueador não é desejável porque se perde a capacidade cardiovascular. Assim, o atenolol pode ser útil em esportes que requeiram firmeza, destreza, como o tiro esportivo ou o arco e flecha.

"Quando nos submetemos a qualquer tipo de prova, temos uma descarga de adrenalina. É ela que nos mantém alerta, prontos para a luta. Contudo, ela também traz o tremor e o desconforto cardíaco. O atenolol controla esse efeito. Daí o cuidado com o dopping", esclarece a farmacêutica Gracinda Maria D'Almeida e Oliveira, docente da Escola de Medicina da PUC-PR.

Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?

Na opinião dos especialistas consultados, o maior benefício do atenolol é a facilidade de acesso (ele consta do Rename 2020 e também da Farmácia Popular).

Já quanto às desvantagens, sua eficácia tem sido questionada na redução de desfechos cardiovasculares em pacientes hipertensos, quando comparado a outras drogas. Além disso, medicamentos da mesma classe têm sido relacionados à intolerância à glicose, aumento do triglicérides, com elevação do colesterol.

Saiba quais são as contraindicações do atenolol

Ele não pode ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Avise seu médico caso se identifique com alguma das seguintes condições:

  • Pressão baixa
  • Problemas circulatórios (Síndrome de Reynaud)
  • Acidose metabólica (pH do sangue baixo)
  • Doença pulmonar
  • Asma
  • Batimento lento do coração (bradicardia)
  • Doenças do coração relacionada a seus impulsos elétricos
  • Insuficiência cardíaca descompensada (sem tratamento)
  • Diabetes
  • Problemas nos rins ou no fígado
  • Tumor na glândula adrenal

Crianças e idosos podem usá-lo?

O uso de betabloqueadores entre idosos requer cautela, justamente pelo efeito que ele tem de desacelerar o coração. Assim, esse grupo deve sempre ter acompanhamento médico para que se observe o esquema de doses e se evite efeitos adversos.

Quantos às crianças, embora exista na literatura médica diretrizes para uso pediátrico, o fabricante adverte a falta de experiência do uso do fármaco nessa população.

Dados recentes do National Center for Biotechnology Information, biblioteca médica do Instituto de Saúde dos Estados Unidos, indicam que "o uso do atenolol não é recomendado em crianças e, mesmo em pequenas quantidades, podem resultar em overdose".

Estou grávida? Posso usar atenolol?

Em geral, esse medicamento não é indicado para gestantes. Caso descubra que está grávida, fale com seu médico para que ele possa avaliar os riscos e benefícios da continuidade do uso do atenolol.

A razão para isso é que o medicamento é capaz de ultrapassar a barreira da placenta e ainda se relaciona com a restrição do crescimento fetal. Eventualmente, o especialista poderá lançar mão de fármacos similares que possam ser usados durante a gravidez.

É seguro usar atenolol enquanto estou amamentando?

O MS (Ministério da Saúde) sugere que o uso do fármaco seja criterioso durante esse período, isso porque os betabloqueadores são excretados em pequenas quantidades no leite materno.

Já a Academia Americana de Pediatria adverte para o risco de hipoglicemia e bradicardia entre os recém-nascidos. Consulte seu médico sobre a melhor solução para manter-se saudável e, ao mesmo tempo, proteger seu bebê.

Qual é a melhor forma de consumi-lo?

Em geral, o atenolol não causa desconforto estomacal e, portanto, ele pode ser ingerido antes ou após as refeições —mas sugere-se não utilizá-lo após jejuns prolongados. Aliás, são desconhecidas interações alimentares.

Esse medicamento deve ser administrado por via oral, preferencialmente, com água.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. O importante é que o atenolol seja ingerido na forma indicada pelo médico.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas. Apesar disso, algumas pessoas poderão observar as seguintes manifestações:

Comuns

  • Sonolência
  • Cansaço
  • Tontura
  • Extremidades frias (dedos do pé e das mãos frios)
  • Náusea
  • Diarreia
  • Constipação

Raros - procure o médico imediatamente caso observe os seguintes sintomas e sinais:

  • Dificuldade para respirar com tosse curta que aumenta quando você sobe uma escada, por exemplo;
  • Inchaço nas pernas e nos tornozelos, dor no peito, batimento cardíaco irregular;
  • Problemas para respirar, suor frio, dor repentina no peito que piora ao tossir e nas respirações profundas;
  • Batimento do coração acelerado, temperatura alta, tremor e confusão.

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com o atenolol. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas:

  • Outros fármacos para controle da pressão alta
  • Outras medicações para tratar a arritmia (ex. flecainida, digoxina)
  • Medicamentos para tratar a asma ou a DPOC
  • Antidiabéticos (como e glimeperida) e insulina
  • Anti-inflamatórios não esteroidais (como indometacina e ibuprofeno)
  • Fármacos para alergias (efedrina, noradrenalina, adrenalina)
  • Remédios que tratam sinusite e resfriados (inclusive os de livre venda na farmácia)

Até o momento há pouca informação sobre a interação com fitoterápicos, mas avise seu médico caso esteja fazendo uso deles. Quanto aos suplementos, multivitamínicos com minerais podem reduzir o efeito do atenolol.

A recomendação dos especialistas é que a administração do remédio e das vitaminas ocorram com o espaço de, ao menos, 2 horas.

Posso tomar álcool enquanto usar esta medicação?

O atenolol pode ter seu efeito potencializado quando se ingere esse tipo de bebida, aumentando o risco para tonturas ou outros incômodos. Aconselha-se observar o efeito do remédio para você, especialmente no início do tratamento, ou quando seu médico sugerir o aumento das doses.

O atenolol corta o efeito do anticoncepcional?

Não. Contudo, fale com seu médico porque alguns tipos de contraceptivos são contraindicados para pessoas com hipertensão.

A minha vida sexual pode ser prejudicada?

Livia Sissi Gonçalves Souza Piechnik, médica especialista em saúde coletiva com ênfase em estratégia de saúde da família e docente do curso de medicina da Universidade Positivo garante que esse efeito colateral não é comum entre os que fazem uso do atenolol.

"O que essas pessoas precisam saber é que todo paciente hipertenso pode ter disfunção sexual relacionada à hipertensão, e que o tratamento dessa enfermidade tem efeito preventivo. À medida que se controla a progressão da doença, diminui, também, o risco de prejuízo para a vida sexual", conclui Piechnik.

Existe interação com exames laboratoriais?

Podem ser observadas alterações nos resultados de exames que analisam a função do fígado (níveis de transaminases), mas é incomum. Mais raramente se verificou alteração em testes imunológicos (anticorpos antinucleares).

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
  • Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Utilize o medicamento na posologia indicada;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - FIOCRUZ) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo); Gracinda Maria D'Almeida e Oliveira, professora da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), com experiência na área de farmacologia, atuando principalmente na atenção farmacêutica, assistência farmacêutica, farmacêuticos e farmacovigilância; José Rocha Faria Neto, professor de cardiologia da Escola de Medicina da PUC-PR; Livia Sissi Gonçalves Souza Piechnik, mestre em saúde da família pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), médica especialista em saúde coletiva com ênfase em estratégia de saúde da família pela Universidade Positivo e professora do curso de medicina da Universidade Positivo (PR); Marcelo Polacow, farmacêutico, mestre e doutor em farmacologia, vice-presidente do CRF-SP. Revisão técnica: Amouni Mourad e José Rocha Faria.

Referências: Ministério da Saúde; ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária);
Rehman B, Sanchez DP, Shah S. Atenolol. [Atualizado em 2020 May 2]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK539844/.