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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Fluoxetina combate depressão, não causa dependência, mas retirada é gradual

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Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

24/11/2020 04h00Atualizada em 07/01/2022 12h28

Resumo da notícia

  • É um antidepressivo da classe dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina
  • O medicamento é também indicado para tratar TOC, pânico, bulimia, entre outras doenças
  • Ele pode ser usado por crianças, jovens e até idosos, mas exige monitoramento constante
  • Para descontinuar o tratamento é preciso acompanhamento médico

Aprovada em 1987 nos Estados Unidos, a fluoxetina foi o primeiro inibidor seletivo da recaptação da serotonina, e foi lançada no mercado para tratar a depressão e outras enfermidades psiquiátricas.

O que é fluoxetina?

Trata-se de um antidepressivo de segunda geração que pertence à classe dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS).

Devido às suas características, ele só pode ser comercializado sob receita médica.

Em quais situações deve ser usada?

Dada a utilização desse fármaco há mais de 30 anos, ele é considerado seguro e eficaz. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado.

A medicação pode ser prescrita para adultos, com o objetivo de aliviar sintomas relacionados às seguintes condições:

  • Depressão (associada ou não à ansiedade)
  • TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo)
  • Transtorno de pânico
  • Bulimia nervosa
  • Transtorno disfórico pré-menstrual (TPM, irritabilidade e disforia - o desconforto causado pela ansiedade)

Os médicos também podem indicar esse medicamento em outros quadros clínicos, como o transtorno bipolar, depressão resistente (nesses casos, associado a outros fármacos específicos), nos transtornos de estresse pós-traumático e de personalidade Borderline, mutismo seletivo e Fenômeno de Raynaud. Tais indicações não constam da bula, por isso são chamadas de off-label. Esses dados foram publicados nas revistas médicas Lancet e Medicine (Baltmore).

Entenda como ela funciona

A fluoxetina possui boa farmacocinética, ou seja, ao ser administrada pela via oral, ela é rapidamente absorvida no trato gastrointestinal, e é distribuída pelos tecidos, até que chega a seu alvo (o SNC - Sistema Nervoso Central), efetua sua ação, e se transforma em um produto excretável (metabolização).

Ao terminar sua tarefa, ela sai do corpo pela via renal. Os seus efeitos começam a ser percebidos entre 2 a 4 semanas após o início do tratamento.

Cristina Stern, professora do Departamento de Farmacologia da UFPR, explica que o objetivo do uso da fluoxetina é garantir a maior disponibilidade de um neurotransmissor que atua no equilíbrio do humor. "E ela faz isso impedindo a recaptação pré-sináptica (células cuja função é gerar e liberar sinais entre os neurotransmissores) da serotonina", diz a especialista.

Conforme a gravidade da doença, a medicação poderá ser usada de 6 a 12 meses, e até por 2 anos ou mais, especialmente nos casos em que haja risco de os sintomas voltarem.

Conheça as apresentações disponíveis

A marca de referência da fluoxetina é o Prozac®. Mas você pode encontrar as versões genéricas.

Aliás, esse princípio ativo consta da Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), por isso tem distribuição gratuita em todas as UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Para ter acesso a ele, basta apresentar a receita médica.

Confira as apresentações e doses disponíveis:

  • Cápsula - 20 mg
  • Líquido - 20 mg
  • Comprimido - 20 mg

O medicamento pode causar dependência?

"Ao contrário de outras classes de medicamentos, como os benzodiazepínicos (diazepam), a fluoxetina e os demais antidepressivos não são remédios que têm efeito imediato. É preciso esperar semanas até que comecem a fazer efeito", diz Marcelo Daudt von der Heyde, psiquiatra e professor da Escola de Medicina da PUC-PR.

Segundo o médico, esse tempo de espera funciona como um elemento de proteção, afastando a possibilidade de dependência da medicação. Apesar dessa característica, Heyde desaconselha a descontinuidade do tratamento por conta própria.

Ele diz que o maior risco seria voltar a ter os sintomas após o abandono da terapia. "Embora não seja o caso de uma síndrome de retirada, é preciso dar tempo para o corpo se adaptar à ausência da fluoxetina", acrescenta o médico.

Quando a interrupção do uso da fluoxetina é feita de forma abrupta, o paciente terá de lidar, por algum tempo, com sintomas desagradáveis, como os abaixo descritos:

  • Tontura
  • Dor de cabeça
  • Alterações de sono
  • Distúrbios sensoriais
  • Formigamento (parestesia)
  • Irritabilidade

Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?

De acordo com os especialistas, quando existe um diagnóstico bem estabelecido, a fluoxetina é bastante efetiva para o tratamento de várias condições psiquiátricas e, com o devido monitoramento, pode ser usada por longos períodos porque, em geral, é bem tolerada.

Embora os médicos reconheçam que os efeitos colaterais possam se manifestar no longo prazo, os benefícios da medicação superam os seus riscos.

Quanto às desvantagens, eles apontam a prescrição indiscriminada do medicamento, sem que haja um diagnóstico preciso, além da menor relação com o aumento de peso, quando comparados aos outros antidepressivos.

Saiba quais são as contraindicações da fluoxetina

Ela não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento na presença das seguintes condições:

  • Problemas no coração
  • Uso de outros antidepressivos (como os IMAO - inibidores da monoamina oxidase)
  • Uso de linezolida (antibiótico de amplo espectro)
  • Uso de antipsicóticos (como a olanzapina)
  • Uso de tamoxifeno (usado no tratamento do câncer de mama)
  • Gravidez
  • Tentativa de gravidez
  • Lactação
  • Glaucoma
  • Epilepsia
  • Diabetes

Crianças e idosos podem usá-lo?

O uso da fluoxetina, ao longo de 30 anos, já foi bastante estudado e, assim, ela é considerada segura, eficaz e bem tolerada quando utilizada de forma correta, principalmente entre os adultos. Assim, a depender da doença a ser tratada, a medicação pode ser usada na infância e na adolescência, e a idade mínima para início da terapia é de 8 anos.

Os pais de crianças e jovens devem ser advertidos de que esses pacientes precisam ser constantemente monitorados no início do tratamento. Isso porque o medicamento pode induzir a ideação (pensamento) de suicídio.

Em casos graves, pode ser útil o uso combinado com outro remédio que previne esse tipo de reação. Importante ressaltar que, apesar desse risco, a depressão não tratada tem desenlaces piores do que esse efeito inicial.

Quanto aos idosos, eles também podem se beneficiar da fluoxetina, mas o médico deve considerar os efeitos do fármaco junto aos possíveis outros medicamentos usados por esses pacientes (polifarmácia). A depender do quadro, existem outras opções de tratamento, com menor risco de efeitos colaterais nesse grupo.

Estou grávida? Posso usar fluoxetina?

Tão logo tenha conhecimento de que está grávida, fale com seu médico para que ele possa avaliar a relação entre custo e benefício da continuidade, ou mesmo do início do tratamento com essa medicação, principalmente porque há risco de malformação fetal.

O fabricante ressalva a possível presença de sintomas passageiros de retirada do remédio no final da gravidez. Mas os especialistas concordam que é baixo o risco de complicações para a mãe e o bebê.

O que deve guiar a decisão médica do uso ou não do medicamento é a gravidade da doença, e os riscos do não tratamento dela.

Aliás, uma depressão não tratada pode levar a problemas com a placenta, parto prematuro e baixo peso do bebê.

Fluoxetina e amamentação

Apesar de o manual do Ministério da Saúde sobre o uso de remédios durante o período de lactação colocar a fluoxetina como compatível com a amamentação, o medicamento pode passar pelo leite materno. Por isso, fale com o profissional da área da saúde que a acompanha sobre sua intenção de amamentar ou sobre a real necessidade do uso da fluoxetina durante o período de amamentação.

Somente o médico pode avaliar se os benefícios do fármaco devem ser mantidos, se as doses devem ser reduzidas, e se há algum outro medicamento que possa substituir a fluoxetina, dado o seu perfil de segurança.

Qual é a melhor forma de consumi-lo?

A orientação é de que ele seja ingerido com água.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. O importante é que a fluoxetina seja ingerida uma vez ao dia, na forma indicada pelo médico ou o fabricante e sempre no mesmo horário.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando utilizado de acordo com as orientações médicas. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns aparecem no início do tratamento, e tendem a desaparecer tão logo ele se estabeleça.

Algumas pessoas poderão observar as seguintes manifestações:

Comuns

Raras - procure o médico imediatamente caso observe os seguintes sintomas e sinais:

  • Dor ou pressão no peito
  • Dificuldade para respirar
  • Tontura ou desmaio
  • Ereção dolorosa que dure no tempo (mesmo fora das relações sexuais)
  • Todo tipo de sangramento que não cessa (inclusive nasal)

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com a fluoxetina. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são exemplos de interação, mas não excluem outras que, eventualmente, possam ter o mesmo efeito.

Por isso, sempre informe ao profissional quais medicamentos você tem utilizado no momento da prescrição da fluoxetina. Confira:

  • Outros tipos de antidepressivos (como o diazepam, lítio, amitriptilina, bupropiona)
  • Medicamentos para controle do batimento cardíaco (propranolol)
  • Anti-inflamatórios não esteroidais (ácido acetilsalisílico)
  • Anticoagulantes (varfarina)
  • Remédios para controle do apetite (fentermina)
  • Medicação para dor (opioides como o tramadol)

Até o momento há pouca informação sobre a interação com fitoterápicos, mas avise seu médico caso esteja fazendo uso de hipérico, que poderia potencializar os efeitos colaterais da fluoxetina.

Minha vida sexual pode ser afetada?

O objetivo do tratamento é melhorar o humor, o que potencialmente tem efeito positivo para a vida sexual. Contudo, alguns pacientes que fazem uso prolongado da fluoxetina relatam prejuízos como redução do desejo, da capacidade de ereção e dor nela, além de problemas com a ejaculação.

Entre as mulheres pode haver alteração da libido, além de dificuldade para alcançar o orgasmo.

A fluoxetina corta o efeito do anticoncepcional?

O medicamento não afeta a ação de nenhum tipo de contraceptivo.

Existe interação com exames laboratoriais?

Não são conhecidas interações.

Há alguma interação alimentar?

Não há registro de interações com qualquer tipo de alimento.

Posso beber álcool enquanto uso fluoxetina?

Tontura, sonolência e dificuldade de concentração, problemas de raciocínio e julgamento são algumas das reações decorrentes do uso concomitante do medicamento com o álcool.

O farmacêutico Marcelo Polacow, vice-presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo), sugere que o consumo desse tipo de bebida seja limitado durante o tratamento, ou que, ao menos, se evite a prática de atividades que exijam atenção, como dirigir, por exemplo.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
  • Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Utilize o medicamento na posologia indicada;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - FIOCRUZ) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Marcelo Polacow, farmacêutico, mestre e doutor em farmacologia, vice-presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo); Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de Farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutora em ciências da saúde pela FCMSCSP (Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo) e assessora técnica do CRF-SP; Cristina Stern, professora do Departamento de Farmacologia da UFPR (Universidade Federal do Paraná); Marcelo Daudt von der Heyde, psiquiatra e professor da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Hillhouse TM, Porter JH. A brief history of the development of antidepressant drugs: from monoamines to glutamate. Exp Clin Psychopharmacol. 2015;23(1):1-21. doi:10.1037/a0038550; Sohel AJ, Shutter MC, Molla M. Fluoxetine. [Atualizado em 2020 Jun 27]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459223/.