Edmo Atique Gabriel

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Opinião

Taquicardia, problema nos rins e mais: o lado obscuro da bebida energética

Existem modismos em todos os setores de nossa vida. Temos a busca pelo corpo perfeito, as dietas milagrosas, o uso desenfreado de anabolizantes e, sobretudo no universo dos mais jovens, o consumo exagerado das bebidas energéticas.

Por trás desses hábitos, ou encontramos desculpas supostamente convincentes, ou encontramos a fuga do próprio ser humano, ou seja, a necessidade de ser o que na verdade não é, a necessidade de mostrar ou provar aos outros algo que não lhe faz parte.

O consumo das bebidas energéticas virou uma febre nas baladas, em ambientes corporativos e nas reuniões de família e amigos. Com o propósito de se ganhar mais disposição e energia, as pessoas buscam essas bebidas e muitas vezes misturam seu conteúdo com bebidas alcoólicas e drogas ilícitas. O resultado acaba sendo uma viagem mental, sem limites, excitabilidade excessiva e comportamentos e falas inadequadas e incompatíveis com a verdadeira postura daquela pessoa.

O que conceitualmente seria uma bebida energética? Trata-se de um grupo de bebidas que contêm cafeína, com ou sem ingredientes adicionais. Tipicamente, são bebidas com alto teor de cafeína e os principais adicionais, legalmente autorizados, seriam outros estimulantes como açúcar, guaraná, taurina e l-carnitina.

Os defensores dessas bebidas, entre eles os próprios fabricantes, advogam que elas melhoram o nível de atenção, o estado de alerta, a concentração e, consequentemente, favorecem o desempenho intelectual e o rendimento físico. Quantos de nós já usamos essas bebidas para não dormir no volante e para passar uma noite em claro estudando para provas? Contra esses fatos não há argumentos.

Não podemos negligenciar que realmente essas bebidas produzem alguns efeitos positivos, como os já citados. A questão crucial é que existe um limite muito tênue entre efeitos positivos e o lado obscuro. Somos individualmente diferentes em inúmeras facetas, como no que tange a nossa reatividade orgânica a essas bebidas. Qual a quantidade segura? Qual a marca de bebida energética que melhor se ajusta às nossas funções orgânicas? Quais componentes dessa bebida energética podem mais causar efeitos colaterais? Não existe e não existirá uma resposta padrão e, por esse motivo, a precaução e a moderação são mandatórias.

Lado obscuro dessas bebidas pode ser testemunhado nas emergências médicas. Cada vez mais pessoas procuram esse tipo de serviço após uma ingesta robusta dessas bebidas e apresentando sintomas cardiovasculares e neurológicos. Taquicardia, dor no peito, falta de ar se somam a crises de ansiedade, pânico, pensamentos suicidas e delírios.

Não bastasse essa desfiguração, essas pessoas podem apresentar sinais de desidratação e alterações no funcionamento dos rins. Em síntese, o lado obscuro pode eventualmente ser o prenúncio de um infarto fulminante, um derrame cerebral e uma atitude mental descontrolada.

Alguns pesquisadores destacam que o consumo excessivo dessas bebidas poderia desencadear uma anomalia conhecida como rabdomiólise. Para ficar mais fácil entender o que seria isso, imaginem que, pelo efeito estimulante dessas bebidas, os músculos de nosso corpo —e são inúmeros— começassem a se desfazer literalmente, a se degradar em múltiplos fragmentos capazes de obstruir o fluxo sanguíneo que chega aos nossos rins. Estes órgãos param de filtrar o sangue, não produzimos mais urina suficiente para eliminar as toxinas e o excesso de água e, de imediato, coração e pulmão entram em sobrecarga. A morte é uma questão de tempo.

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Acerca dos componentes dessas bebidas, alguns comentários são fundamentais.

Começando pela cafeína, podemos dizer que um consumo diário médio na faixa de 70 a 150 mg poderia ser favorável para melhorar a disposição e energia física.

Essas bebidas energéticas podem oferecer valores de cafeína acima de 500 mg por unidade (lata ou garrafa).

A taurina é uma substância abundantemente encontrada no coração e nos músculos e desempenha múltiplas funções positivas em nosso corpo. A grande controvérsia é que existem bebidas com 100 mg e com 10 g de taurina, facilitando efeitos colaterais.

A l-carnitina é encontrada em alimentos de origem animal e auxilia para que nossas células produzam mais energia. O extrato de guaraná pode conter mais cafeína do que o próprio grão de café. Imaginem, portanto, o impacto de uma bebida com todos esses ingredientes em doses elevadas.

Pesquisadores italianos das Universidades de Roma e Pisa realizaram uma revisão sistemática em 2023, abordando o lado obscuro das bebidas energéticas e apresentando o "ranking" dos efeitos colaterais nos principais órgãos do corpo. Vejam a seguir.

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Porcentagem de complicações globais por órgãos :

Cardiovasculares: 48%

Neurológicas: 26%

Gastrointestinais: 14%

Renais: 8%

Ginecológicas: 2,3%

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Dermatológicas: 2,3%

Porcentagem de complicações cardiovasculares :

Arritmias: 41.5%

Parada cardíaca: 15%

Infarto do coração: 12%

Morte: 7%

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Porcentagem de complicações neurológicas:

Eventos psicóticos*: 40%

Convulsão: 27%

Distúrbios da visão: 9%

Derrame cerebral: 4,5%

Ansiedade e agitação: 4,5%

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*Alucinações, delírios e pensamentos desorganizados

Embora as bebidas energéticas possam ser convenientes para melhorar o estímulo e a disposição, seus efeitos colaterais podem representar um potencial risco de morte, principalmente quando consumidas de forma exagerada e misturadas com outras bebidas estimulantes, ou mesmo em associação com álcool e drogas ilícitas.

Como cada pessoa tem seus limites e sua reatividade a esse tipo de bebida, não consumam simplesmente por modismo, por influência de redes sociais ou para ser agradável a outras pessoas. Consulte um médico para lhe orientar qual seria a bebida energética mais propícia para você, qual dose, qual marca e com qual periodicidade. Não abusem da sorte.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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