Pastor cancelado pela igreja inspira Caetano em turnê, quem é Kleber Lucas

Durante a turnê com sua irmã Maria Bethânia, que chegou a São Paulo no último sábado, Caetano Veloso tem incluído no repertório a canção "Deus Cuida de Mim", composta pelo pastor e músico gospel Kleber Lucas, que enfrentou o bolsonarismo, atraindo a ira dos evangélicos radicais.

O que aconteceu

Kleber Lucas, uma das maiores estrelas do gospel nacional, uniu forças com Caetano Veloso para regravar "Deus Cuida de Mim". A canção recebeu o título de "Cristã do Ano" no Prêmio Multishow 2023, gerando controvérsia no meio evangélico devido ao posicionamento político e à colaboração com um artista de fora do segmento religioso.

Nascido na favela da Coreia, em São Gonçalo, Kleber cresceu entre a fé pentecostal e as tradições do candomblé. Essa vivência moldou seu compromisso com o diálogo inter-religioso e a inclusão. Ele é pastor da Igreja Batista Soul e um ativista contra o fundamentalismo religioso que domina parte das igrejas brasileiras.

A regravação de "Deus Cuida de Mim" foi lançada em dezembro de 2022. A música foi composta por Kleber Lucas e havia sido lançada originalmente em 1999. Kleber tem mais de 30 anos de carreira e milhões de discos vendidos.

Em entrevista ao Fantástico, Caetano foi questionado sobre o motivo de ter gravado a música. "Eu acho que foi Deus", respondeu. Ao receber o prêmio, Kleber defendeu a convivência harmoniosa entre diferentes crenças.

Eu sou mais um filho da favela. (...) Muitas vezes a gente não tinha o que comer e nem onde dormir. Nesses momentos, era na igreja Assembleia de Deus ou nos terreiros de candomblé lá da favela da Coreia onde eu nasci, em São Gonçalo [onde conseguíamos ajuda]. Essa música e esse momento representam a possibilidade de diferentes crenças poderem viver de forma harmoniosa e respeitosa.
Kleber Lucas

Desgaste e boicote

A relação de Kleber com o meio gospel se desgastou durante a ascensão do bolsonarismo. Em 2022, ele lançou "Messias", uma música que criticava a politização da fé e denunciava privilégios fiscais a lideranças evangélicas. "Eu não vou me calar com pastores que fazem arminha com a mão", diz a canção, ecoando sua insatisfação com o uso político da religião.

Por apoiar Luiz Inácio Lula da Silva e rejeitar a instrumentalização da fé, Kleber foi boicotado por pastores e perdeu convites para apresentações. "Muitos queriam que minha vida terminasse ali", ele confessou, refletindo sobre as dificuldades impostas pelo cancelamento.

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Após o boicote das igrejas, Kleber, que também é doutorando em história, enfrentou dificuldades financeiras e isolamento. Sem convites para eventos e com a renda afetada, ele reafirmou sua fé: "Se uma porta se fecha aqui, outras se abrem ali", afirmou em entrevista à Folha.

A parceria com Caetano Veloso trouxe nova visibilidade, destacando sua mensagem de amor e reconciliação. "Foi um resgate não apenas artístico, mas espiritual", afirmou.

20 comentários

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Alexandre Lopes de Matos

Cristão que não é de esquerda está com um problema sério de alinhamento com Cristo. 

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Sandra Zarpelon

Só é notícia porque é ponto fora da curva. A imensa maioria dos pastores é fundamentalista e amante do dinheiro. Compaixão e misericórdia não existe na vida da maioria dos pastores evangélicos. Tomara que haja um movimento interno que mude isso, mas não vejo possibilidade. As exceções vão continuar virando notícia (boa, pelo menos)

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Jose Claudio dos Santos

Kleber Lucas é um excelente músico, compositor, faz músicas excelentes e que tocam o coração das pessoas. Kleber Lucas é um dos representantes de uma nova visão evangélica, uma visão inclusive e de respeito as minorias, com forte base bíblica. Ricardo Gondim, Oriovaldo, Renê Kivitz, Henrique Vieira são alguns pastores que estão transformando o pastorado evangélico. Perseguidos, hoje são reconhecidos como o futuro, deixarão um legado de mudanças.

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