Rhonda abre Coala Festival com o que há de mais disruptivo no feminismo
O nome dela é Rhonda, "she's a big, big star". Assim mesmo, em inglês. E abriu o 10º ano do Coala Festival com um show rascante. A personagem criada pela carioca Silvia Machete após uma viagem sua aos Estados Unidos pós-divórcio já tem dois discos do que será uma trilogia: primeiro, "Rhonda", e o mais recente, "Invisible Woman", são daqueles que não saem de moda — especialmente o segundo, que já dá para dizer que é um dos melhores do ano.
Mesmo se apresentando no ingrato horário das 14h30 de uma sexta-feira útil, sua base de fãs chegou junto. O show é grandioso em seu lado musical e no performático, em que Rhonda encarna o lado circense pelo qual Silvia Machete se tornou conhecida, sem deixar espaço para monotonia.
Acompanhada de uma superbanda, ela passeou pelos dois álbuns citados e ainda deu aula de inglês para o público. Ela dizia: "Repitam comigo: 'One glass, one, two, one teet, a beautiful teet" —, com aquele sorrisinho sarcástico, claro.
Ao cantar seu cover para "With No One Else Around", de Tim Maia, ela chamou o público para perto do palco, em um dos momentos mais catárticos do show. Digo um dos porque o repertório de Rhonda é feito de músicas de "broken heart", o show tem solos tanto da guitarra quanto do baixo e do teclado, além das letras ultra-românticas, claro. Sendo as músicas do primeiro disco mais sofridas, e as do segundo um pouco mais leves.
Se, por causa das temáticas, Silvia lembra uma diva americana "femme fatale" se apresentando em um festival americano sob o sol, meio "decadence avec elegance", por outro lado ela é o que há de mais disruptivo no discurso contemporâneo feminista.

Por exemplo, ao falar que se divorciar é maravilhoso, "eu amo me divorciar". Ou seja, seja divorciada, seja livre! Nada de romantismos arcaicos por aqui. E palhaçada sempre. Silvia solta fumaça no guitarrista, brinca com o ventilador nos seus cabelos de uma peruca metálica etc.
E, pra fechar de maneira apoteótica, Silvia tira o figurino Rhonda e encarna a si mesma com um camisetão escrito "To Good 2 B Famous" e seu bambolê que roda no dedinho, vai no pescocinho, cai na cinturinha e dali sobe e desce enquanto ela enrola um cigarro (com um supervento), fuma e recebe um drink parecido com um martini, mas que, depois que ela bebe, passa a soltar bolhinhas de sabão pela boca. "Uhuuuuuu", todo mundo grita, vibra e filma.
Se disserem que ela voltou americanizada, vou ser obrigada a rebater: só pra quem não tem ouvidos para música nova, com letras e arranjos contemporâneos e bem produzida.
3 comentários
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.
Salvador Rodrigues de Lima
Nem sabia que essa cantora existia mas agora, depois desse empolgante texto laudatório e totalmente técnico e imparcial, me pergunto como passei a vida inteira sem tomar conhecimento dessa deusa da musica contemporânea, e ainda filósofa de mão cheia, com opiniões contundentes sobre o divorcio, por exemplo. Sem falar da espetacular performance que deixou a jornalista, contratada da cantora, sem fôlego.
Paulo Roberto Pepe
Disruptivo defender o divôrcio????sério mesmo?. Vc não acha que tinha uma palavra moderna e precisava de uma frase para incluí-la. Não vi o show e vc pode até ter razão...sei que é horrivel aparecer chato dando palpite no texto...mas isso me lembrou o texto lido pelo Ariano Suassuna sobre o grupo Kalipso, Em um trecho ele lê que Chimbinha era um músico genial (sic). Aí=í, Ariano pergunta, se eu usar genial pro Chimbinha como faço para me referir a Mozart...
Renato Corsani
ahahahaha viva o divórcio! Viva o amor fluido! Viva a baixaria! Viva ser hipócrita! Viva a alma de barro! ahahaha só pode estar de sacanagem