Flavia Guerra

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Opinião

Mostra SP: filmes premiados voltam na repescagem e discutem estado do mundo

Assim como a programação que contou com mais de 400 filmes, a premiação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2024 mirou a diversidade. De "Megalopolis", de Francis Ford Coppola, que encerrou o evento e recebeu o troféu Leon Cakoff, a dezenas de filmes de novos diretores e seus olhares sobre o estado do mundo, a Mostra continua privilegiando a diversidade e o olhar do público, uma vez que o júri escolhe os melhores a partir da seleção dos 16 preferidos do público.

A mulher no mundo contemporâneo, o envelhecimento, os afetos, um planeta em transformação, questões climáticas, a questão Palestina-Israel... Enfim, o estado do mundo na tela e na repescagem do evento, que ocorre até quarta-feira (3) no CineSesc.

O Troféu Bandeira Paulista 2024, principal prêmio da Mostra SP, concedido a filmes de diretores que assinam seus primeiros ou segundos longas-metragens, foi dividido entre dois filmes bem distintos, mas que tratam de duas jornadas de personagens femininas complexas com narrativas simples e bem resolvidas. "Familiar Touch", de Sarah Friedland, conta a história de Ruth. Cozinheira talentosa, ela agora enfrenta o Alzheimer na terceira idade e é levada pelo filho para um lar de idosos que ela mesmo escolheu quando sua saúde a permitia decidir para onde iria caso precisasse de cuidados mais intensivos.

Em vez de tratar da rotina e dos desafios de Ruth Goldman (Kathleen Chalfant) com comiseração ou excesso de drama, a diretora filma uma história em que há cuidado, humanidade e respeito, principalmente por parte dos funcionários do local. Em uma das cenas mais interessantes, ela entra na cozinha e começa a preparar o café da manhã de todos, como fez a vida toda em seu restaurante. Em vez de criar uma confusão, impedi-la ou subestimá-la, o que poderia desencadear uma crise, os funcionários a acolhem, deixam que ela comande o trabalho enquanto o médico conduz uma conversa com ela. É um raro momento de cinema que coloca o espectador no centro da ação e, sem fazer alarde, consegue realmente fazê-lo se sentir na pele de quem convive com a demência.

Já "Hanami", o outro vencedor, dirigido pela portuguesa de origem cabo verdiana Denise Fernandes, conta a história de Nana, jovem que cresceu em uma remota ilha vulcânica de onde todos querem partir. Mas ela quer ficar. Sua mãe, Nia, que sofre de uma doença misteriosa, partiu logo depois que ela nasceu. A mãe volta quando Nana já é adolescente e as visões de mundo se chocam. Se Nia, como muitos, partiu em busca de uma vida melhor, Nana, apesar das questões sociais, econômicas e até geológicas da Ilha do Fogo, valoriza sua terra e sua cultura. A volta da mãe, além do contato com outras gerações sobrepõe tempos e mundos.

"Obrigada ao público, ao júri, à equipe do filme, maravilhosa. Agradeço às pessoas da Ilha do Fogo, que deram o máximo para que esse filme acontecesse, e a São Paulo por essa memória que vai ficar para sempre", declarou Denise ao receber o prêmio.


Entre os documentários, os prêmios foram para o contundente "No Other Land", de Basel Adra, Rachel Szor, Hamdan Ballal e Yuval Abraham, uma produção Palestina e Noruega, que trata da luta e da amizade entre um jovem palestino que luta por seu povo e encontra em um jornalista judeu companheirismo nessa luta e também amizade, apesar de tantas diferenças. Outro premiado foi "Sinfonia da Sobrevivência", do brasileiro Michel Coeli (Brasil).

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O júri da Mostra SP foi formado pelo cineasta iraniano Mohsen Makhmalbaf, a atriz Camila Pitanga, do ator e cineasta português Gonçalo Waddington, da curadora e produtora Hebe Tabachnik, do produtor Kyle Stroud, do crítico de cinema francês Thierry Meranger.

O júri ainda concedeu um prêmio de Melhor Direção para Adam Elliot, pela direção do filme "Memórias de um Caracol", uma animação em stop motion que conta a história de uma garota solitária que coleciona caracóis ornamentais e é apaixonada por livros. Ainda muito jovem, Grace foi separada do irmão gêmeo, o pirofagista Gilbert. O trauma lhe causou um quadro crônico de ansiedade e angústia e dificuldade para tocar a vida cotidiana. Um dia, ela conhece uma senhora estranha e encantadora, e a amizade a inspira a ter mais força para viver. Vencedor do prêmio de Melhor Filme no Festival de Annecy, o principal evento de animação do mundo, é candidato a uma vaga no Oscar 2025.

"Manas", de Marianna Brennand, premiado no Festival de Veneza 2024, levou o Prêmio da Crítica de Melhor Filme Nacional. Já "Levados pelas Marés, de Jia Zhangke, levou o Prêmio de Melhor Filme Internacional. A ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) escolheu como Melhor Filme Brasileiro da Competição Novos Diretores o documentário "Intervenção", de Gustavo Ribeiro.

"Serra das Almas", de Lírio Ferreira, levou o prêmio Netflix e vai ser exibido não só no Brasil, mas nos 190 países em que o streaming está presente. "Haja legenda!", brincou o diretor de obras como "Baile Perfumado" e "Sangue Azul".

"Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, que levou o prêmio de Melhor Roteiro em Veneza 2024, entre outros prêmios importantes, e está em franca campanha ao Oscar 2025, foi o Melhor Filme Brasileiro do Público. "Este é o prêmio mais bonito que o filme já ganhou. É o máximo!", comentou a produtora Daniela Thomas para Splash. "O filme nunca está pronto. O prêmio do público é o prêmio onde cada espectador completou o filme. E o somatório desses olhares é que geram o prêmio mais lindo de cinema. Ganhar este prêmio na Mostra, que é nossa casa de cinema, e recebê-lo na Cinemateca Brasileira é muito comovente", completou Walter Salles.

Confira a programação da repescagem

Sábado, 2 de novembro
15h: Intervenção, de Gustavo Ribeiro
17h10: Malu, de Pedro Freire
19h20: Balomania, de Sissell Morell Dargis
21h30: Sinfonia da Sobrevivência, de Michel Coeli

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Domingo, 3 de novembro
15h: Febre, de Elisa Eliash (Sessão CineClubinho)
16h50: Zafari, de Mariana Rondón
19h: A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha
21h20: No Other Land, de Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor

Segunda-feira, 4 de novembro
15h: Apocalipse Nos Trópicos, de Petra Costa
17h20: Sol de Inverno, de Hiroshi Okuyama
19h20: Barba Ensopada de Sangue, de Aly Muritiba
21h40: Não Sou Eu, de Leos Carax

Terça-feira, 5 de novembro
15h: Memórias de Um Caracol, de Adam Elliot
17h: Sister Midnight, de Karan Kandhari
19h20: Familiar Touch, de Sarah Friedland
21h20: O Caso dos Estrangeiros, de Brandt Andersen

Quarta-feira, 6 de novembro
15h: De Hilde, com Amor, de Andreas Dresen
17h40: Serra das Almas, de Lírio Ferreira
20h15: Gulmohar, de Rahul V. Chittella

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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