Rodrigo Mattos

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Tite ignora 'o campo fala' em favor da fila de medalhões no Flamengo

A frase ?o campo fala? e a expressão "meritocracia" são usadas em abundância por Tite em sua carreira. Teoricamente, isso significa que trata-se de um técnico adepto de escalar aqueles jogadores que estão melhor, que apresentam desempenho superior em campo.

A derrota do Flamengo para o Peñarol nas quartas-de-final da Libertadores, no entanto, mostra um treinador bem mais afeito a seguir hierarquias e priorizar medalhões - a fila impera. O que, aliás, não é diferente do que já ocorreu em sua carreira.

As duas últimas partidas do time rubro-negro tiveram em Léo Ortiz um dos melhores em campo atuando como volante. Boa cobertura e passes verticais para o ataque. Cansa no meio do segundo tempo, fato, mas enquanto inteiro se destaca.

Diante do jogo decisivo, Tite optou por mantê-lo na reserva. Atuaram no setor Pulgar, como primeiro volante, e De La Cruz, como segundo homem de meio de campo. O primeiro tem tido atuações irregulares.

Já De La Cruz, por quem o Flamengo desembolsou R$ 90 milhões à vista, tem queda recente significativa após bom início de temporada. Reveza seu tempo entre seleção uruguaia, departamento médico ou período de recuperação. Bola mesmo ele joga com pouca frequência no período agudo da temporada.

Com esses dados, Tite optou por escalar ambos. No lance do gol do Peñarol, Pulgar erra o passe que arma o contra-ataque, todos sabemos. Mas pouca gente viu que De La Cruz volta acompanhando Cabrera, autor do gol, até que desiste dele na intermediária defensiva e o deixa só. Cabrera então entra só na área para chutar no canto e fazer.

O gol é uma soma de erros individuais, mas é também uma falha coletiva. O Flamengo corre todo errado para trás para se defender, abrindo espaços mesmo com superioridade numérica.

Não foi nem a única vez que houve erro tipo de erro coletivo, nem que De La Cruz trotou, nem o único erro de passe de Pulgar - foram três equívocos armando contra-ataque no segundo tempo.

"Alerta" para o desempenho, Tite tirou Pulgar só com 11min do segundo tempo para a entrada do argentino Carlos Alcaráz. De volante, Alcaráz também foi mal. Apático, De La Cruz ficou em campo até 20min do segundo quando Tite o tirou para colocar Léo Ortiz.

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Ressalte-se que havia outros jogadores mal no Flamengo. Embora esforçado, Arrascaeta não vivia grande noite, apesar de um ou outro brilho esparso. Bruno Henrique fez o que pode, mas sofre fora de posição. No desespero, o time tentava cruzar aleatoriamente e errava tudo, foram vários destes descalibrados. Quando acertava, o centroavante era Carlinhos, de poucos recursos.

E havia um problema coletivo sério que é culpa de Tite. O time pressionou mal a marcação, teve dificuldades da linha de cinco do Peñarol e demonstrou um excessivo nervosismo. Houve alguma dinâmica de ataque só nos 20min finais do primeiro tempo.

Não havia o recurso da base como tantas vezes na história do Flamengo. Por que Tite não gosta de utilizar garotos então eles nunca estão prontos. Caiu um contundido, contrata um ex-seleção. Alex Sandro, aliás, foi outro mal, em queda após a estreia.

E o time rubro-negro se encaminhou para uma melancólica derrota em casa em meio a um bumba meio boi de bolas na área no final quando o Peñarol fazia sua cera sem ser incomodado. Tite, que não ouviu o campo falar, acabou escutando protestos contra si mesmo da arquibancada.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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