Mauro Cezar Pereira

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Flamengo de BAP começa com a mão pesada, incomoda Boto e recua de demissões

O início de gestão BAP no Flamengo, com mão pesada e certo revanchismo contra quem fosse próximo dos seus antecessores, gerou situações desnecessárias. Com poucos dias no poder, foi preciso voltar atrás, recuar de demissões e ceder ante a insatisfação dos jogadores e do novo diretor de futebol, José Boto.

De cara, dispensas em quantidade, em áreas diversas fora do futebol, sem um tempo razoável para que Paulo Dutra, de volta como diretor geral, pudesse avaliar os funcionários. Da mesma forma, no Centro de Treinamentos o experiente José Luiz Runco retornou feroz como diretor médico depois de aproximadamente 10 anos.

Quase todos os antes subordinados ao seu desafeto, Márcio Tanure, que ocupou o cargo até dezembro, foram demitidos. Houve tempo para que a capacidade de cada um fosse avaliada? Aparentemente não, afinal, dispensas ocorreram antes mesmo da reapresentação do elenco depois das férias, quinta-feira.

Há dois anos, no AV Cast, podcast do canal "Atenção, Vascaínos", sem citar o nome de Tanure, Runco comentou, sob seu ponto de vista, os motivos do desentendimento com o médico que ele agora substitui no clube. A situação envolvia seu filho, Guilherme, que trabalhava no Flamengo e se demitiu.

Em 2024, no podcast do ex-jogador Diego Ribas, Tanure falou de seus problemas com Runco, admitiu que não mais se falaram e abordou de passagem o desentendimento entre os dois. Aparentemente havia um acerto de contas em meio a essa troca. Isso respingou em Boto, que se incomodou com a forte intervenção.

O português não esperava chegar ao Rio de Janeiro nesse clima, depois que o candidato que o contactou venceu a eleição e o time fechou 2024 campeão da Copa do Brasil. Obviamente os jogadores ainda não veem nele um profissional com tamanho para ser o comandante do futebol do Flamengo. Isso terá de mostrar na prática, dia após dia. Sim, Boto vai ter que se impor porque já nada em águas turbulentas.

O nutricionista de performance Paulo Cavalcanti foi demitido e readmitido no mesmo dia. Runco inicialmente eliminou esse cargo. De volta ao Flamengo, a coordenadora de nutrição Silvia Ferreira foi acionada e consegui convencer o diretor médico a mantê-lo. Na tentativa de consertar a situação, fizeram com que Silvia e Paulo gravassem vídeos falando sobre o trabalho e os planos. Uma óbvia contenção de crise.

O fisioterapeuta Lanyian Neves, por sua vez, foi demitido. Por pressão dos atletas, principalmente os estrangeiros, cancelaram a dispensa do profissional que já estava habituado com a rotina diária e conhece as necessidades, as demandas de cada um, como o uruguaio Arrascaeta, cuja parte física há anos mostra fragilidade.

Fato é que o clube mandou embora, com cartas de demissão assinadas, e só foi possível voltar atrás porque tudo aconteceu tão rapidamente que a documentação de desligamento dos funcionários não havia sido encaminhada. É mais difícil do que a nova gestão pensava.

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Não seria o caso de continuar sendo permissivo, paternalista e tolerante com jogadores eventualmente paparicados, claro que não. Mas mexer profundamente em uma estrutura que funcionava e desagradá-los por nada foi um passo errado e perigoso. O histórico do Flamengo mostra que pela força não se vai longe.

O desafio de Boto é ser justo, oferecer as melhores condições, atender às demandas do elenco, dar a ele o que for necessário para o dia a dia e, então, quando for preciso, cobrar. O Flamengo de BAP começou acertando contas do passado, errou na mão, colocando o futuro em jogo e agora tenta corrigir a rota.

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