Volta de Neymar representa o fracasso dele e do futebol brasileiro
Não nos enganemos. O iminente retorno ao Brasil de Neymar é um sinal de fracasso. Dele e nosso.
Sim, o atacante teve muito sucesso no início de sua carreira no Santos e na Europa. Sim, é um dos jogadores que mais ganhou dinheiro no futebol. Sim, tornou-se uma imensa celebridade dentro e fora do mundo da bola. Sim, se conseguir voltar em alto nível pode fazer enorme diferença por aqui.
Hoje, porém, Neymar é preterido por um clube saudita. Não consegue "acompanhar" os companheiros em um país que, embora riquíssimo e pontuado com estrelas, não é dos mais competitivos. Jorge Jesus basicamente disse: "Não quero". O Barcelona, de novo, não se animou em recontratá-lo.
Restou o Brasil. Restou aceitar pousar aqui por seis meses e tentar jogar o suficiente para animar a Europa, quem sabe regressando à primeira prateleira do futebol a tempo da Copa de 2026.
Para isso, o atleta topou abrir mão de cerca de 60 milhões de dólares, que ainda teria a receber do seu contrato com o Al-Hilal. Aparentemente, está topando vestir a camisa de um time que acabou de subir da Série B e passa por um processo de reestruturação diante de enorme dificuldades financeiras. E em um campeonato que ele mesmo admitiu não assistir.
Segue a entrevista dele ao podcast de Romário:
Romário: "Tu gosta de assistir Brasileirão?"
Neymar: "Não."
Romário: "É foda, né."
Neymar: "Pô, me chamaram para ver jogo, mandei tomar no cu."
Romário: "Até porque é isso mesmo, tomar no cu, os caras jogam porra nenhuma, futebol feio da porra."
Neymar: "É porque eu me estresso vendo jogo."
Imagina o estresse de jogar aqui. Calendário lotado, gramados ruins, arbitragem pior ainda. Pelo menos ele vai ser querido. Ovacionado. Idolatrado. Se jogar.
Enfim, é o que restou a Neymar. Por ora.
É também o que restou ao nosso futebol, carente de títulos e ídolos na seleção: aplaudir de pé e dar graças aos céus pelo retorno de um cara que jogou 20 partidas nos últimos dois anos e que há pelo menos cinco não faz uma grande temporada. Alguém cujo maior título com a Amarelinha é a Copa das Confederações de 2013, e o último grande por clubes, a Liga dos Campeões de 2015. Sem falar no seu comportamento fora dos gramados.
Pelo visto, é o que temos para hoje. Infelizmente.
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160 comentários
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Evair Jorge Correa Pinto
Impressionante da entrevista, é a linguagem "formal", "castiça". Um primor a ser reproduzido em horário nobre na TV.
Domingos Spinelli
Concordo 100% com você Alícia. O "menino" Ney, irresponsável e anti-profissional, que jogou uma carreira no lixo por conta de sua postura amadora em um futebol cada vez mais profissional, só está voltando porque nem na Arábia Saudita eles o querem mais. Restou a ele voltar a jogar em um Santos recém chegado da série B, com sérios problemas financeiros e um time bem mediano, pra ser bonzinho. Mas considero tudo bastante lógico e coerente: o Al-Hilal se livrou de um peso morto, que ganhou centenas de milhões de Reais para não fazer rigorosamente nada, e os europeus lhe fecharam as portas, pois sabem que hoje ele não passa de um engodo, e o seu "nome" no futebol vem do que fez há muito tempo atrás, como você bem explicou.
Toni Danilo Domingos Silva
Perfeita a análise Alicia ... Em cima dos fatos sem demagogia barata.