Alicia Klein

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OpiniãoEsporte

Galo x Flamengo: o assustador custo de não saber perder

Queria estar aqui escrevendo sobre mais uma grande partida do Flamengo e a promissora carreira de Filipe Luís. Campeão com diversos méritos, ele é — ao lado de Roger Machado — um sopro de esperança em meio a um deserto de treinadores nacionais.

Mas cá estou teclando sobre violência. Sobre quebra-quebra em estádio. Sobre barbárie. Sobre sangue e lágrimas.

Não é exagero. O que alguns torcedores do Atlético-MG fizeram ontem na Arena MRV não pode ser minimizado. Como não pode nenhum episódio dessa natureza.

Invasão. Correria. Porrada. Medo. Entre os feridos, um fotógrafo atingido no pé por uma das quatro bombas arremessadas no gramado. Nuremberg José Maria, de 67 anos, fraturou ao menos três dedos e precisará passar por cirurgia.

Percebem a gravidade? Uma pessoa que estava trabalhando foi atingida por uma bomba e ficará um tempo sem poder trabalhar. Uma repórter foi chamada de piranha. À espera da premiação, jogadores, comissão técnica e profissionais de imprensa saíram correndo de gente que invadia o campo. Dezenas, senão centenas de crianças, talvez não voltem a um estádio de futebol tão cedo.

Sem entrar no prejuízo financeiro e esportivo causados ao time que essa gente supostamente apoia.

Tudo por quê? Porque o Galo perdeu. Como se a derrota fosse algo inconcebível. Intolerável. Inadmissível. Como se não houvesse sempre 50% de probabilidade de precisar lidar com ela.

Meu filho odeia perder. Chora, chuta a bola para longe, arremessa o Uno para o alto, não quer mais brincar. Quando se acalma, minutos depois, tento explicar a ele que não dá para jogar sem saber assimilar a derrota. Que faz parte. Que não nos torna menores. Que só com a prática melhoramos para, quem sabe, perdermos menos. Ele tem 5 anos. E está começando a entender.

Como explicar, então, algo como o que vimos ontem? Por que esses torcedores estão tão bravos? Por que estão brigando, mamãe?

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Porque perderam. Será mesmo? Talvez a realidade seja mais triste, mais difícil de explicar aos mais jovens e de nós mesmos aceitarmos.

Mais uma vez, vimos o futebol servindo de refúgio para quem, no fundo, só quer descer o cacete no coleguinha do lado. Um pretexto para quem adora a violência pela violência. Para quem pouco se importa com o clube e se regozija com a oportunidade de exalar pelos poros tudo que há de pior na masculinidade tóxica.

Sim, são torcedores. Sim, precisam ser banidos dos estádios e punidos com o rigor da lei. Mas infelizmente a realidade não é tão simples quanto ensinar meninos que está tudo bem perder porque faz parte do jogo. O buraco, infelizmente, é bem mais embaixo, e as consequências, bem mais nefastas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

47 comentários

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Luis Falcao

Se aqui a CBF fosse séria, o Juiz já deveria ter FINALIZADO o jogo. Assim, os torcedores teriam frustada qualquer chance de reação, prejudicando o time que dizem torcer. E, quem sabe, os clubes não começariam a barrar esses c r i m i n o s o s que só fazem afungentar as famílias dos estádios. 

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Ivan Sergio Siqueira Dupuy

Especificamente no jogo de ontem estava presente um ódio dos atleticanos contra o Flamengo, que é cultivado desde 1980, principalmente pela imprensa mineira e por dirigentes. Os torcedores que jogaram bombas e tentaram invadir o campo ontem foram fanatizados durante toda a sua vida pela ideia que o Atlético é sempre perseguido pelo time da mídia, da cbf, da globo, etc... Acabar este complexo de inferioridade é trabalho para décadas e atitudes provincianas, como tocar o hino do galo na hora da premiação do título, mostra que não está nos planos dos atleticanos.

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Herbert Vicente Bastos

Alícia, o time mandante tem que ser punido pelos atos dos seus torcedores, dentro e fora do estádio. E tem que valer também para os bandos organizados que fazem emboscada contra torcedores de times adversários, como ocorreu semana retrasada. De nada adianta perda de mando, portões fechados. Tem que haver perda de pontos, rebaixamento e até mesmo exclusão do campeonato. E a cbf (minúscula) como organizadora dos torneios co-responsabilizada pela falta de fiscalização e passada de pano para seus afiliados. Só assim poderemos um pouco mais de segurança para esse entretenimento. 

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