O que empresários de tecnologia faziam na posse de Trump?

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Em outubro do ano passado, a consultoria Interbrand atualizou o seu ranking das marcas mais valiosas do mundo. As cinco primeiras colocadas são do setor de tecnologia. Na lista da Fortune Global 500, que leva outros critérios em consideração para eleger as maiores empresas, aconteceu a mesma coisa. Elas só mudaram de ordem. Qual história esse dado nos conta?
Entre as tantas imagens que nasceram da posse de Donald Trump, nos Estados Unidos, uma em especial chamou a atenção nas redes sociais. Nela, aparecem as lideranças das principais empresas de tecnologia, um ao lado do outro. Até o TikTok, proibido de funcionar no país até algumas horas antes da posse, apareceu com o seu CEO. O produto mais valioso do nosso tempo é a atenção?
Ditado que roda por aí, vale no nosso caso, também: se você usa algum produto ou serviço sem pagar nada por isso, então na verdade, o produto é você. Faz sentido. Finalista do Prêmio Jabuti 2022, "A Superindustria do Imaginário", do professor Eugênio Bucci, nos explica isso como se fosse uma aula - detalhe em detalhe. Nosso olhar, entendido aqui como atenção e intenção sobre as pessoas e coisas, nunca valeu tanto. E nunca esteve tão sequestrado. Não é à toa que o subtítulo do livro é assim: "Como o capital transformou o olhar em trabalho e se apropriou de tudo que é visível". Tudo mesmo. Inclusive a política institucional.
Lendo aqui e ali, aprendi que historicamente os empresários do Vale do Silício, considerado o berço dos empresários e das empresas de tecnologia, tendiam a apoiar o Partido Democrata. Derrotado. Este ano, boa parte deles declarou apoio público ao projeto de país e a visão de mundo de Trump. Botaram dinheiro na campanha e nas festas que celebraram a posse. Vem aí um outro ditado: não existe almoço grátis.
Logo depois da cerimônia de posse, Trump assinou dezenas de decretos. Ora revogando, ora implementando suas ideias e promessas de campanha. Fez isso na frente da imprensa. Ele, mais que ninguém, sabe que hoje em dia a história acontece na imagem. Por exemplo, revogou um decreto de 2023 em que Joe Biden buscava reduzir os riscos no desenvolvimento de inteligência artificial para quem consome, trabalha e para a segurança nacional. Pronto, este era o preço do almoço. E foi só a primeira tarde de trabalho.
Muitos livros têm tentado nos contar o que anda acontecendo ao mundo. Especialmente neste terreno, da tecnologia. Ou, pelo menos, a uma parte dele que acredita em coisas como isso: mérito. Todo mundo tem as mesmas 24 horas, é só se esforçar. O que complica tudo é o "só". E todo o resto ao redor desta ideia que não para de pé na realidade do primeiro ônibus saindo da periferia de alguma cidade, às 4h30 da manhã.
O Adam Alter, por exemplo, escreveu "Irresistível: por que você é viciado em tecnologia e como lidar com ela". Outra aula para entendermos a cultura de apostas que está varrendo o bolso do povo trabalhador brasileiro. Já Clay Johnson, que escreveu "A Dieta da Informação", defende que enfrentamos uma tempestade de distrações como nunca na história humana. E o que acontece em nós e em nossas relações por causa disso.
Durante a cerimônia de posse, Donald Trump repetiu algumas vezes sobre um certo ouro que estava sob os seus pés e que, segundo ele, levará os Estados Unidos de volta ao lugar do qual nunca deveriam ter saído: o de líder do mundo moderno. Talvez o ouro deste tempo esteja mais naquela fileira de empresários da mesma festa. Um ao lado do outro e sorrindo. É que eles não sorririam se a notícia ali fosse ruim. Para eles.
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