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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Febre raramente indica quadro grave e tem como causa comum infecções

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

16/06/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Febre é o aumento da temperatura corporal
  • Infecções por vírus ou bactérias, em especial as do trato respiratório, são causas frequentes
  • Reação natural do corpo, ela deve ser avaliada junto a outros sintomas presentes
  • Antipiréticos podem aliviar o sintoma, mas se a febre persiste, é preciso investigar sua origem

Pouco importa a sua idade. Se você tem febre, isso significa que o sistema de proteção do seu organismo está cumprindo sua função. Quando a temperatura normal do seu corpo aumenta, é sinal de que ele está tentando combater algum processo inflamatório ou infeccioso.

Em todo o mundo, a febre é uma das queixas mais frequentes entre as pessoas que buscam o pronto atendimento médico. As estatísticas sobre esse tipo de serviço revelam que ela representa de 5% a 8% de todas as consultas realizadas nesses locais, e esse quadro ainda está presente em mais de 30% dos pacientes não cirúrgicos. Os dados são do CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

A temperatura do seu corpo é variável, e pode ser mais baixa pela manhã e mais alta no final da tarde. Assim, são considerados ideais parâmetros que vão desde 36ºC até 37,7ºC. Temperaturas acima de 37,8ºC já caracterizam febre.

Embora esse sintoma sempre assuste, especialmente quando se manifesta em crianças e idosos, em geral, ele não é considerado grave. Aliás, alguns médicos até entendem que a febre não precisa ser tratada, porque ela é "desejável". Afinal, ela é uma reação natural do organismo que sinaliza que algo não está bem.

Entenda como a temperatura sobe

A parte do seu corpo responsável pelo controle da temperatura é o cérebro. Quando o organismo percebe a presença de algum microrganismo que está desequilibrando os seus processos naturais, o hipotálamo funciona como um termostato.

Ao elevar a temperatura corporal, a meta é tentar bloquear a ação de algum agente causador de doenças, como vírus ou bactérias. A sensação febril é o resultado de uma cascata de ações promovidas por esse sistema. Confira:

  • O sangue se desloca da superfície da pele para o interior do corpo para reduzir a perda de calor. Por isso você sente extremidades mais frias.
  • Os arrepios aumentam o calor por meio da contração muscular.
  • Dirigidas pelo hipotálamo, a produção e manutenção do calor se mantêm.
  • Quando a temperatura volta ao normal, o excesso de calor é liberado pelo organismo por meio do suor.

Reconheça sinais que indicam febre

Além do aumento da temperatura, você poderá notar os sintomas abaixo descritos:

  • Sensação de cansaço
  • Aumento do suor
  • Tremor
  • Ranger de dentes
  • Rubor facial (vermelhidão na face)

Por que isso acontece?

As causas mais comuns da febre são infecções de algum tipo. Veja as origens mais frequentes delas, em todas as faixas etárias:

  • Vírus: como gripes, resfriados e infecções do trato respiratório superior ou inferior (nariz, garganta, pulmão etc., por exemplo). Entre as crianças, esta é a causa da febre em mais de 90% dos casos;
  • Bactérias: como infecções do trato respiratório superior ou inferior e infecções urinárias;
  • Doenças crônicas: artrite reumatoide ou colite, por exemplo;
  • Doenças tropicais: como a malária, dengue e febre amarela;
  • Uso de medicamentos: algumas pessoas apresentam febre como efeito colateral da medicação;
  • Tumores (mais raros).

Saiba como medir a temperatura

A melhor forma de fazer isso é por meio do uso de um termômetro digital, que deve sempre ter uma bateria de reserva, especialmente se você não o usa com frequência. De fácil acesso e econômico, ele é considerado preciso.

Você deve fazer a medição axilar, ou seja, na axila. Para isso, coloque o termômetro nela e mantenha o braço imóvel (inclusive das crianças) para que o termômetro não se desloque. Espere que o sinal do alarme toque e confira a medição no visor.

Existem outras formas de medição, como a retal e a oral, que poderão ser realizadas em ambientes hospitalares. É possível também medir a febre na orelha e na testa (adesivo). Contudo, essas práticas são consideradas menos precisas.

Uma outra opção é o termômetro de infravermelho, que só deve ser usado em crianças acima dos 4 anos de idade. Ele é útil, especialmente quando há necessidade de se manter distante do paciente. Porém, requer maior investimento econômico e ainda é considerado menos preciso do que as medições retal e oral.

Quando devo me preocupar?

A médica de família e comunidade, Patrícia Carla Gandin Pereira, docente das Escolas de Medicina da PUC-PR e da Faculdade Positivo, afirma que todo sintoma que aparece de repente e persiste deve ser investigado.

"É importante que as pessoas saibam que sintomas como tosse ou diarreia persistentes, falta de ar, fezes ou urina com sangue, dor intensa de cabeça, no abdome ou muscular, e mesmo manchas na pele (rush cutâneo), quando associados à febre, indicam possíveis doenças que merecem tratamento", fala a especialista. Nesses casos, busque ajuda médica o mais rápido possível.

Outros grupos também precisam de maior atenção, como indivíduos que usem medicamentos como corticosteroides, tenham se submetido a um transplante, estejam fazendo ou tenham feito quimioterapia, ou sejam pacientes com HIV. Todas essas condições prejudicam as defesas do corpo e deixam as pessoas mais expostas a infecções.

Além disso, fale com um médico, caso a febre não passe e você tenha alguma das condições a seguir:

  • Doença Pulmonar Crônica
  • Asma
  • Doenças do coração (exceção feita para pessoas com hipertensão controlada)
  • Diabetes ou outra doença metabólica
  • Doença crônica gastrointestinal, hepática ou renal
  • Doenças autoimunes

E quanto às crianças, o que indica a hora de ir ao médico?

Para um pequeno número de crianças, a febre não pode ser tolerada. Estamos falando daquelas que possuem alguma doença cardíaca ou pulmonar grave, ou um bebê muito pequeno (idade inferior a 3 meses), que poderia se desidratar rapidamente.

Além desse grupo específico, é preciso buscar ajuda de um médico pediatra ou de família quando presentes as situações abaixo descritas:

  • Aparência de doente: a criança não responde nem se interessa por suas atividades
  • Perda de apetite
  • Choro constante
  • Dificuldade para se levantar
  • Rigidez na nuca
  • Manchas na pele
  • Dificuldade para respirar ou engolir
  • Dor abdominal
  • Dificuldade ou dor para urinar
  • Rubor (vermelhidão) ou inchaço em alguma parte do corpo
  • Convulsão

E quanto aos idosos?

Também entre eles, a febre, isoladamente, não preocupa. O conselho de Natan Chehter, médico preceptor de geriatria do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, é observar o idoso para identificar nele algum tipo de repercussão sistêmica (outros sintomas).

"Poderão estar presentes a sonolência —que indica que a pressão está mais baixa— dificuldade para se alimentar, além de sinais de desidratação [dor de cabeça, tontura, boca seca, cansaço, confusão mental, redução da diurese (urina)]", descreve o médico. Diante de algum desses sinais, é preciso buscar ajuda rapidamente.

Posso usar um antitérmico antes de falar com o médico?

Sim, mas você deve monitorar o aparecimento de desconforto físico e acréscimo de sintomas. O mesmo pode ser feito enquanto se espera a intervenção médica.

Lembre que esse tipo de medicamento não trata doenças. Ele somente é utilizado para o controle do sintoma. Portanto, use-o de forma racional, ou seja, na dose certa e por tempo limitado.

É preciso ter cuidado com a automedicação porque esse tipo de fármaco, embora seja considerado seguro e eficaz, quando mal utilizado, pode levar a problemas hepáticos e renais. O conselho dos especialistas é que se dê preferência à dipirona ou ao paracetamol, em todas as faixas etárias, sempre utilizando as menores doses indicadas.

Meu filho pode ter uma convulsão?

Uma das preocupações mais comuns entre as mães de crianças pequenas é que a febre, se não for logo controlada, pode ter como consequência a convulsão.

Contudo, os médicos garantem: crises convulsivas febris acometem pequena parte da população pediátrica (2% a 5% das crianças menores de 5 anos), e geralmente são benignas (não se relacionam à epilepsia). A explicação é de Débora Carla Chong e Silva, pediatra e professora das Escolas de Medicina da UFPR e da PUC-PR, que revela que esse receio dos pais tem até uma designação própria: febre fobia.

"A febre pode chegar até os 40ºC, causará enorme desconforto para a criança, mas não causará, necessariamente, a convulsão", explica a médica. "Em geral, ela acontece nas idades entre 6 meses a 6 anos, e basta que a criança tenha tal predisposição nessa fase da vida. A febre nem precisa ser alta", completa.

As evidências científicas disponíveis até o momento mostram que esse quadro tem causa multifatorial. Acredita-se que se trate de uma fragilidade do SNC (Sistema Nervoso Central), em desenvolvimento, aos efeitos da febre, além da combinação de predisposição genética e fatores ambientais. Os dados foram publicados pelo periódico Drugs in Context.

O que esperar da consulta?

O médico vai levantar seu histórico de saúde, o que inclui eventuais doenças presentes ou passadas, uso de medicamentos, entre outras situações, e ainda fará o exame físico.

Esteja pronto para responder a ele qual é o padrão da sua febre, ou seja, quais são as suas características. Um exemplo é saber dizer como ela se manifesta: de vez em quando ou somente à noite etc.

Além disso, habitue-se a fazer uso do termômetro para poder relatar, com maior precisão, a temperatura medida.

A depender da apreciação desses dados, exames complementares poderão ser solicitados para confirmação da suspeita diagnóstica. São eles o hemograma, exame de urina, radiografia do tórax e punção de liquor (nos casos mais graves e críticos como a meningite).

Como é feito o tratamento?

Ele corresponderá à causa da febre. Na presença de uma doença infecciosa ou inflamação, estas deverão ser tratadas para que o sintoma desapareça.

No entanto, para trazer maior conforto ao paciente, os médicos podem indicar o uso de antitérmicos, também conhecidos como antipiréticos. Os mais utilizados são o paracetamol e a dipirona.

Dá para prevenir?

Não é possível prevenir a febre, pois ela é um mecanismo de defesa natural do corpo que se manifesta diante de agentes que causam doenças. O que pode ser feito é prevenir as enfermidades mais comuns que têm a febre como sintoma, como é o caso das infecções por vírus ou bactérias.

Assim, coloque em prática medidas de higiene como lavar as mãos e os alimentos adequadamente, evite aglomerações, mantenha a casa arejada, bem como colabore para que o sistema imunológico seja capaz de defendê-lo de doenças comuns. A receita para isso é investir em hábitos de vida saudáveis como alimentação equilibrada, boa hidratação, prática de exercícios físicos e noites de sono de qualidade.

Dicas dos especialistas

Raramente a febre é um sintoma que indica um quadro grave. Em geral, as medidas de controle do problema visam minimizar o desconforto do paciente. Você pode colaborar para a sua rápida recuperação adotando as seguintes medidas:

  • Mantenha-se hidratado
  • Evite agasalhar-se demais (inclusive crianças e idosos)
  • Banhos mornos podem trazer conforto, mas podem elevar os calafrios. Evite banhos frios
  • Repouse
  • Evite o consumo de álcool, café ou chá. Essas bebidas podem potencializar a desidratação

Fontes: Patrícia Carla Gandin Pereira, médica de família e comunidade, mestre em saúde e gestão do Trabalho, professora do internato de medicina de família da PUC-PR da disciplina de saúde coletiva da Faculdade Positivo (PR); Débora Carla Chong e Silva, pediatra e especialista em pneumopediatria, professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Natan Chehter, geriatra titulado pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e médico preceptor de Geriatria do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Revisão técnica: Patrícia Carla Gandin Pereira.

Referências: Alexander KC Leung et alii. Febrile Seizures: na overview. Drugs Context. 2018; Rui P, Kang K. National Hospital Ambulatory Medical Care Survey: 2017 emergency department summary tables. National Center for Health Statistics; E Y Chan W T Chen, P N Assam. External Cooling Methods for Treatment of Fever in Adults: A Systematic Riview. JBI Libr Syst Rev. 2010; Paracetamol for treating fever in children. Cochrane. 2002.