Dor 24 horas por dia: como é viver há 4 anos com doença crônica e invisível
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Quando eu digo que tenho dor crônica, a maioria das pessoas faz cara de interrogação. Até quatro anos atrás, eu também não tinha ideia de que a dor podia ser uma doença —para mim, ela sempre estava associada a alguma outra condição ou lesão.
Isso caiu por terra quando comecei a sentir dores fortes e inexplicáveis no início de 2021. Sempre convivi com dores, mas, naquele ano, elas estavam um pouco diferentes do normal. Começaram pela cabeça e pelas costas e foram se espalhando para outras partes do corpo. Tomei todos os remédios possíveis, e nada. Desde então, elas nunca mais passaram. Nem por um minuto. Sinto dor 24 horas por dia.
Me chamo Larissa Teixeira, sou jornalista e a partir de agora vou compartilhar aqui em VivaBem minha experiência como paciente de dor crônica. Neste espaço, pretendo contar minhas experiências e dividir muita coisa que aprendi ao longo desses quatro anos.
Ainda em 2021, decidi fazer dezenas de exames e consultar todas as especialidades médicas para entender o que estava errado no meu corpo. Eu tinha que ter algo grave. Costumo dizer que tive um "burnout médico", porque passei esse ano inteiro pulando de consultório em consultório, de tratamento em tratamento, mas sem resultado algum.
Eu achava que, em determinado momento, iria descobrir o que estava por trás disso e poderia me curar. Ninguém conseguiu me explicar e, cada vez que eu me desesperava, a dor ficava ainda pior. Desenvolvi uma depressão e tive inúmeras crises de ansiedade, porque eu não conseguia entender o que estava acontecendo.
A falta de respostas fez com que eu começasse a estudar e a ouvir especialistas no assunto. E a primeira coisa que aprendi foi que a dor é um sinal de alerta do nosso corpo e um mecanismo de proteção —ela serve para nos avisar que algo não está bem. Quando encostamos o dedo em uma panela quente, por exemplo, sentimos dor e retiramos a mão, evitando uma queimadura grave.

Mas, às vezes, nosso cérebro pode estar enganado: envia dor mesmo na ausência de perigo. Foi aí que eu entendi que a dor não é necessariamente um sintoma, pode ser a própria doença. Não é preciso haver lesão para que sintamos dor. Em alguns casos, a dor se inicia com algum tipo de ferimento, mas persiste mesmo após o término do tratamento; em outros, como o meu, pode começar sem muita explicação.
Durante muito tempo, consumi o que havia disponível sobre o tema, tentando compreender as causas e testar todos os possíveis tratamentos. Achei que, se me esforçasse muito, conseguiria melhorar. Foram anos de esforço contínuo, como se tudo estivesse no meu controle e a culpa fosse toda minha. Hoje em dia, entendo que a dor é influenciada por muitos fatores, e que talvez eu não encontre soluções tão simples.
São muitas as hipóteses, mas a verdade é que ainda estamos patinando para encontrar as respostas. A dor crônica é uma doença invisível, incompreendida e incapacitante, que afeta profundamente a qualidade de vida de quem sofre com a condição.
São tantas batalhas enfrentadas ao longo do dia que sinto como se estivesse correndo uma maratona, com a diferença de que nunca encontro a linha de chegada. No dia seguinte, preciso correr tudo de novo, e de novo, e de novo.
É uma experiência completamente subjetiva e individual, mas, ao mesmo tempo, coletiva. Estudos recentes estimam que entre 20% e 30% da população mundial sofra com dores crônicas.
São milhões de pessoas convivendo com dores todos os dias, muitas delas sem informação a respeito ou acompanhamento profissional adequado.
Eu queria que, no início de 2021, algum médico tivesse me orientado, e que eu tivesse encontrado informações acessíveis na internet. Sinto que, até hoje, é um assunto pouquíssimo explorado e desconhecido para muita gente.
Eu entendo que ninguém é capaz de sentir a dor do outro, mas, quando a experiência é compartilhada, ela sempre fica um pouquinho melhor. Por isso decidi contar minha experiência aqui e trazer alguns temas para a discussão.
Ter uma doença crônica muda absolutamente tudo —quem você é, como leva a vida, como enxerga o mundo. Você estabelece novas prioridades, entende seus limites e aprende a dizer não.
Tem alguma dúvida ou quer compartilhar algo que você sente? Escreva para lateixeira@uolinc.com e me siga no Instagram (@dadoreoutrosdemonios).
3 comentários
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Marco Antonio Cismeiro Bumba
Olá Larissa! Sei um pouco do que você passa por ter um filho em casa com dor crônica a anos. Ele foi diagnosticado com fibromialgia, que somente um médico altamente qualificado em dor pode dar o diagnóstico. Poucos exames levam a este diagnóstico. Minha sugestão: procure o Dr Claudio Correa, médico especialista em dor do Hospital 9 de Julho em São Paulo. Ele que conseguiu descobrir o que o meu filho tinha, após anos de peregrinação em diversos médicos. Se precisar de mais alguma informação, pode perguntar. O que pude ajudar para você descobrir e encontrar um caminho para uma melhor condição de vida estou disponível para passar a minha experiência com meu filho. Abraço fraterno
Paulo Rodrigues
As vezes a dor representa o simbolismo de uma perda traumática por exemplo de um ente querido e às vezes de forma compensatória. Uma vez um senhor idoso me falou de uma dor crônica a vida inteira em forma de cefaléia, imediatamente me concentrei e visualizei ele com 10 anos vendo o pai morrendo muito arrependido, aí lhe perguntei na hora: E o seu pai? - E, ele arregalou o olho e falou do que presenciou aos 10 anos em relação a ver o pai morrendo muito arrependido, explicou o motivo e eu lhe respondi: Porisso que o senhor escolheu a sua profissão, para fazer o bem e compensar aquilo que o seu pai fez. Se sentiu confortado e curado. A pior dor é a dor da alma, e, esta, as vezes, só um sensitivo capta a origem. Vi uma mulher psicalgia latente e no seu histórico tinha a mordida de um cão em sua cabeça aos 5 anos. As vezes a dor retorna em flash back anos após alguma lesão com sintomas físicos e similaridade da dor. Hipnose regressiva é uma opção.