Mariana Varella

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Reportagem

Quais vacinas são recomendadas para pessoas afetadas nas enchentes do RS?

As enchentes no Rio Grande do Sul (RS) já atingiram 441 dos 497 municípios do estado. Quase 2 milhões de pessoas foram afetadas, sendo 340 mil desalojadas.

Segundo o boletim da Defesa Civil divulgado no dia 10, as forças de segurança e voluntários conseguiram resgatar mais de 70 mil pessoas até o momento. São mais de 20 mil homens e mulheres mobilizados pelas Forças Armadas para conter os efeitos das enchentes que ainda devem continuar nos próximos dias.

Devido à exposição a água de enchentes, moradores e socorristas estão em risco de sofrer acidentes e ter doenças causadas pela exposição à água das enchentes ou que podem ser transmitidas de pessoa para pessoa.

"São doenças que podem ser contraídas pelo contato com a água contaminada e infecções respiratórias que podem ser adquiridas em abrigos e locais de aglomeração", explica o infectologista Alessandro Pasqualotto, presidente da SGI (Sociedade Gaúcha de Infectologia).

O médico atende, juntamente com outros colegas da SGI, vítimas das enchentes em campo. "O sistema de saúde do Rio Grande do Sul praticamente se desfez", diz.

Para evitar maiores danos, a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a SGI e a Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações) lançaram, no dia 10, um documento com recomendações de imunizações para a população exposta a enchentes e equipes de socorro e resgate.

O intuito do documento é garantir que crianças e adolescentes estejam protegidos contra doenças evitáveis por vacinação; reduzir a probabilidade de surtos de doenças evitáveis por vacinação em grandes aglomerações; orientar a imunização adequada para a prevenção de doença; e orientar e contribuir com os esforços das autoridades públicas na gestão e imunização de imunizantes nas equipes atuando em campo, para que trabalhem com segurança.

"O estado não conta, no momento, com uma política clara de vacinação", reforça o dr. Pasqualotto, que ajudou a elaborar as recomendações.

O documento observa, ainda, que para a vacinação de rotina durante os períodos de enchentes, crianças e adolescentes sem registro de vacinação devem ser tratados como se estivessem em dia com as vacinas e receber somente as doses indicadas de rotina para a sua idade atual. As famílias devem ser informadas sobre a necessidade de comparecer posteriormente a uma unidade de saúde para avaliação da carteira e da necessidade, ou não, de atualizar sua vacinação.

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As gestantes devem receber as vacinas inativadas especialmente indicadas para pessoas deslocadas por desastres, desde que não contraindicadas para esse grupo.

VACINAS ESPECIALMENTE RECOMENDADAS EM SITUAC?O?ES DE ENCHENTES

Além das vacinas administradas rotineiramente como parte dos programas de imunização à população em geral, as seguintes vacinas devem ser administradas em pessoas expostas, exceto se portarem documento com registro das doses realizadas (carteira de vacinação):

1. Influenza 2024 e covid-19

Quem vacinar: todas as pessoas com 6 meses de idade ou mais, exceto aquelas com contraindicações para essas vacinas.

Justificativa: essas vacinas são importantes para evitar surtos em abrigos e devem ser recomendadas para todos. No entanto, ambas passam a ter sua eficácia cerca de duas semanas após a aplicação e, portanto, outros cuidados, para mitigar a transmissão desses vírus respiratórios devem ser adotadas.

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2. Tríplice Viral (sarampo, rubéola, caxumba)

Quem vacinar: todas as pessoas entre 12 meses e 59 anos de idade, exceto aquelas com contraindicações para essa vacina e as que tiverem registro documentado na carteira de vacinação de duas doses da vacina após o primeiro ano de vida.

Justificativa: vacinas são importantes para evitar surtos em abrigos e devem ser recomendadas para todos que não estejam vacinados pelo menos com 1 dose.

3. Hepatite A

Quem vacinar: desde 2014, a vacina é recomendada pelo PNI para todas as crianças aos 12 meses de idade (até os 5 anos, se ainda não vacinadas). Nos CRIEs, a vacina está disponível para pacientes imunodeprimidos, seja por doença ou tratamento, e para pessoas com doenças crônicas especificadas. A vacina também é recomendada no país para controle de surtos demonstrando alta efetividade nesses cenários.

Recomendação em enchentes: devido ao risco de surtos durante e após períodos de enchentes, há um alto risco de exposição ao vírus da hepatite A no Rio Grande do Sul. Assim, as sociedades médicas recomendam, se disponível, a vacinação para os grupos de alto risco para as complicações expostos no documento.

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4. Tétano

Quem vacinar: adolescentes, adultos e idosos devem receber uma dose de reforço antitetânico se não tiverem sido vacinados contra o tétano nos últimos 5 anos ou sem a carteira de vacinação.

Justificativa: em situações de inundação, o contato com água e objetos contaminados pode aumentar o risco de feridas e cortes, aumentando o risco de tétano. Por isso, é importante assegurar que todos estejam com a vacinação antitetânica atualizada, especialmente se estiverem envolvidos em trabalhos de resgate, limpeza ou reconstrução.

5. Raiva

Quem vacinar: a vacina antirrábica só deve ser usada para profilaxia pós-exposição em caso de acidente de risco para a raiva (por exemplo, após mordida de animal mamífero, inclusive cavalos e gado) ou exposição a morcego de acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde. A prevenção pós-exposição pode incluir uma série de doses da vacina e uso de soro antirrábico heterólogo ou homólogo, a depender do tipo de acidente de risco, e deve ser instituída o mais brevemente possível.

Justificativa: em caso de desastres ambientais, resgates e a convivência com animais domésticos ou não, o risco de acidentes de risco para a raiva tem maior risco de ocorrer. O uso de imunizante contra a raiva não deve ser feito de rotina, nem mesmo para aqueles envolvidos nos regastes. Seu uso deve ser restrito para casos de acidentes de risco para a raiva, conforme protocolo usual para essa situação médica. Pessoas nessas situações de risco devem procurar imediatamente um serviço de saúde para avaliação.

Além dessas vacinas, se possível, socorristas devem se imunizar também contra a hepatite B, por estarem potencialmente expostos a fluidos corporais, e febre tifoide.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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