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As padarias mais antigas de São Paulo

Fachada da Padaria 14 de Julho - Alberto Rocha/Folhapress
Fachada da Padaria 14 de Julho Imagem: Alberto Rocha/Folhapress

Cíntia Marcucci

Colaboração para o Urban Taste, em São Paulo

06/08/2019 16h20

Em uma tarde de segunda-feira de inverno bem ensolarada, um carro estaciona no número 92 da Rua 14 de Julho, no Bixiga, e dele descem dois senhores. Depois de um tempo na padaria, saem com seus pacotes cheios de delícias. "Sabe o que eu mais gosto daqui? É que todo mundo pode provar as coisas! Adoro o pão de linguiça e cobro o pessoal quando não deixam a faca pra gente cortar e provar uns pedacinhos de queijo no balcão da entrada", conta Ivo Coneglian, aposentado, de 71 anos.

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Morador da rua 13 de Maio, ele diz que na Padaria 14 de Julho, uma das mais antigas da cidade, pouca coisa mudou e a essência do lugar segue a mesma pelo menos desde quando ele começou a frequentá-la, na década de 1960. Com os amigos, Ivo gosta de percorrer as tradicionais padarias do bairro, como a Basilicata, a Italianinha e São Domingos, todas centenárias, e se diverte quando descobre o tema da reportagem. "Conhece a Santa Tereza? Daqui a duas horas eu estou por lá pra tomar um cafezinho!", diz, falando sobre da padaria mais longeva de São Paulo - e do Brasil - ainda em atividade, que fica ao lado do Fórum João Mendes, na Sé.

Não é por acaso que o Bixiga concentra tantos estabelecimentos históricos ligados à comida. O bairro foi um dos primeiros pontos da colonização italiana em São Paulo e foram esses imigrantes que trouxeram para o país o hábito de fazer pão com farinha de trigo e fermentação natural para vender. Antes, como conta Odir Cunha no livro Bravos Panificadores - A História dos 100 anos da Aipan (Editora Magma), os pães eram feitos domesticamente e para consumo das famílias, com farinha de milho ou mandioca, e as padarias eram locais de luxo, para turistas, lá no porto do Rio de Janeiro.

Proibido para menores de 100 anos

Os italianos acabaram se espalhando por outros bairros e, com eles, também foram as padarias. A Padaria Carillo, na Mooca, é uma delas. Fundada em 1912, é tocada hoje pelos bisnetos do fundador Rafaelle Carillo, Guilherme e Gabriel. No domingo, no entra e sai de clientes, quase todos são cumprimentados pelo nome.

Seu Joaquim Duarte, 71 anos, era um deles que, ao ver a reportagem do Urban Taste observando tudo sem fazer o pedido logo puxou assunto: "Você está indecisa? Leva um de cada e depois volta para buscar do que mais gostou!", brincou. Os seus pães favoritos são o de torresmo e o de calabresa. Morador do bairro, ele frequenta a padaria desde que tinha 5 anos. "Nada mudou. É como se fosse o avô dos meninos ainda comandando as fornadas, por isso eu gosto daqui", disse.

Guilherme, um dos bisnetos, foi trabalhar com o avô em 2003, quando só se abria a padaria de fim de semana e se fazia as entregas de porta em porta. "A gente mudou um pouco, temos mais pães recheados, abrimos todos os dias, mas continuo fazendo as entregas e os pães do jeito que ele fazia", conta.

Entre todos os aprendizados, o mais difícil foi o esquema do avô. "Ele sabia tudo de cabeça, como cada freguês gostava do pão, quanto pedia, como deveria entregar - se deixava no portão, se tocava a campainha - até as contas da caderneta ele tinha decoradas. E muitos clientes querem que continue assim, então nos adaptamos a isso."

Mas e os portugueses?

Sim, eles também fazem parte dessa história, embora a tradição entre padarias e os imigrantes portugueses tenha se consolidado só mais tarde na capital paulista. Além da Santa Tereza, fundada por duas famílias portuguesas - hoje nas mãos de outros empresários e bastante modernizada -, outra padaria emblemática da cidade é a Lisboa, na Praça Silvio Romero, no Tatuapé.

Quando foi fundada, em 1913, ela atendia os moradores locais e também uma clientela que vinha da região de Taubaté. Hoje a padaria segue os conceitos contemporâneos de negócio: é automatizada, tem mesas para tomar café, almoçar ou fazer um lanche além do balcão e da vitrine de produtos.

Mas basta passar umas horas por ali para observar que o entra e sai tem uma boa dose de clientes de longa data, como Madalena Prieto, 81. "Faz uns 50 anos que venho aqui. Tem outras padarias mais perto da minha casa, daquelas bem modernosas. Mas eu gosto dos produtos e do atendimento daqui, que nunca muda, é sempre muito bom. Todos os dias eu caminho para buscar meus pãezinhos no fim da tarde."

Claro que nenhuma delas parou no tempo e todas trabalham com serviços de entregas por aplicativos e outras facilidades. Mas o Urban Taste recomenda que você vá ver onde essa parte da cidade é fermentada e assada. E, para ajudar, preparou um roteiro para você buscar seu pão quentinho com mais de 100 anos de história.

Santa Tereza

Desde 1872, é a mais antiga em atividade não só de São Paulo, como de todo o Brasil. Recebe uma infinidade de advogados e juízes engravatados durante a semana para o almoço no piso superior ou nos balcões. Já aos fins de semana, os moradores do centro e turistas é que circulam pelos balcões. Uma das opções aos sábados e domingos é o café colonial, com pães, bolos, frios, sucos e cafés por R$ 25,90 por pessoa (das 8h30 às 12h30).

Vai lá:
Praça Dr. João Mendes, 150, Centro, São Paulo.
Segunda a sexta, das 6h às 22h.
Sábado, das 6h às 21h.
Domingo, das 7h às 21h.
Mais informações pelo Instagram da Padaria Santa Tereza.

Lisboa

Desde 1913, fica em uma das esquinas mais famosas da Zona Leste. A padaria mudou e acompanha o estilo das modernas, mas continua com o mesmo tamanho, e o prédio por fora tem a mesma estrutura de quando o estabelecimento foi fundado. O misto quente simples sai por R$ 13 e o pão na chapa R$ 3.

Vai lá:
Praça Silvio Romero, 112, Tatuapé, São Paulo.
Todos os dias, das 6h às 23h.
Telefone: (11) 2295-9444
Mais informações pelo Instagram da Padaria Lisboa.

Carillo

Desde 1912. Do forno à lenha dos anos 1940 saem os disputados filões (R$ 10, de 500 g) e mais diversos tipos de pães recheados (R$ 23 a R$ 29, conforme o sabor), feitos sob o comando dos simpáticos irmãos Gabriel e Guilherme, a quarta geração no comando dos negócios. No aniversário de São Paulo em 2019, a família inaugurou, em um imóvel vizinho, a Taberna Carillo, que serve almoços, cafés e petiscos tradicionais italianos de segunda a sábado.

Vai lá:
Rua Demétrio Ribeiro, 29, Parque da Mooca, São Paulo.
Segunda a sexta, das 6h às 21h.
Sábado, das 4h às 21h.
Domingo, das 4h às 15h.
Telefone: (11) 2605-4045
Mais informações pelo Instagram da Padaria Carillo.

14 de Julho

Cannolis da padaria 14 de Julho, no Bixiga - Alberto Rocha/Folhapress - Alberto Rocha/Folhapress
Imagem: Alberto Rocha/Folhapress

Desde 1897. A portinha do imóvel verde na boca da Radial Leste, quando é vista de longe, não demonstra, mas em seu espaço diminuto guarda delícias que vão desde o pão italiano simples e o filão (R$ 9 inteiro ou R$ 10 fatiado), passando por queijos, embutidos, antepastos, até doces portugueses. Ah, claro: e uma vitrine cheia de cannoli. Prove o sanduíche de porchetta, suculento e com nacos de pele de porco pururuca, que serve tranquilamente duas pessoas com bastante fome (R$ 38,90).

Vai lá:
Rua 14 de Julho, 92, Bixiga, São Paulo.
Segunda, das 12h30 às 20h.
Terça a sábado, das 7h às 20h30.
Domingo, das 7h às 20h30.
Mais informações pelo Facebook da Padaria 14 de Julho.

Basilicata

Desde 1914. Na última reforma, em 2017, a padaria foi ampliada em um ambiente que mistura o moderno com o antigo, presente em detalhes como tijolos, ladrilhos, nas portas dos fornos, nas paredes, nas pás de padeiro penduradas no teto ou na cafeteira italiana, que faz as vezes de torneira no banheiro. Funciona como um pequeno empório de prazeres. O pão altamira redondo, feito com farinha de semolina de grano duro, custa R$ 12.

Vai lá:
Rua Treze de Maio, 596, Bela Vista, São Paulo.
Segunda a sábado, das 7h30 às 23h30.
Domingo, das 7h30 às 17h.
Feriado, das 7h30 às 22h.
Mais informações pelo Instagram da Padaria Basilicata.

Italianinha

Desde 1896. A fórmula é a mesma: pão italiano, antepastos, queijos, embutidos e sanduíches que podem ser regados sempre com uma bela taça de vinho. A Italianinha e a 14 de Julho são, hoje, comandadas por membros de uma mesma família, a Franciulli. Tem também cardápio de rotisseria. A berinjela a parmegiana sai por R$ 51,90 o quilo.

Vai lá:
Rua Rui Barbosa, 121, Bixiga, São Paulo.
Segunda, das 14h às 20h.
Terça a sábado, das 7h às 20h.
Domingo e feriado, das 7h às 15h.
Mais informações pelo Instagram da Padaria Italianinha.

São Domingos

Interior da padaria São Domingos, na Bela Vista - Alberto Rocha/Folhapress - Alberto Rocha/Folhapress
Imagem: Alberto Rocha/Folhapress

Desde 1913. A São Domingos é a outra daquelas padarias que dá pra ver da Radial Leste. No caso, é a de janelas e toldo azuis. No cardápio, os tradicionais pães e antepastos, além de doces tradicionais, como o crustoli, uma massa frita, polvilhada ainda quente com canela e açúcar e vendida depois de fria em pacotes de 200 g (R$ 14,99).

Vai lá:
Rua São Domingos, 330, Bixiga, São Paulo.
Segunda e terça, das 7h às 19h.
Quarta a sábado, das 7h às 20h.
Domingo, das 7h às 15h.
Mais informações pelo Facebook da Padaria São Domingos.

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