Rafa Brunelli sobre capacitismo: 'Ter dó não muda em nada a dificuldade'
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Expressões como 'mancada' e 'João sem braço', assim como certos comportamentos cotidianos, podem estar carregados de capacitismo. Rafa Brunelli, criadora de conteúdo com neurofibromatose, compartilhou sua visão sobre algumas dessas expressões em relação a PCDs (pessoas com deficiência) que precisam ficar no passado.
A começar por: "Não ter dó, porque ter dó é uma coisa que é horrorosa, (...) o ter dó não muda em nada a dificuldade, a dificuldade continua existindo", disse.
Durante o 'Acessíveis', videocast de Titi Müller e MariMoon no Canal UOL, a influencer desabafou sobre como PCDs são tratados como "exemplo de superação" por realizarem tarefas cotidianas:
"Olha, ela não tem uma perna, toma banho sozinha'. Sim, ela é uma pessoa cujo corpo é diferente, ela treinou dessa nova maneira.Rafa Brunelli
Ela ainda reforçou que uma deficiência é apenas parte da vida de alguém, e não define quem a pessoa é. A influencer também chamou atenção para o uso de expressões capacitistas no cotidiano, que podem ser substituídas por alternativas mais respeitosas.
Aquela coisa clássica, 'ai, não tô achando alguma coisa. Tô cego, cadê meu celular?'. Não dá pra se 'estar' uma deficiência, e sim, 'se ter' uma deficiência. A mesma coisa do 'Amiga, tá surda?'. A gente cai no mesmo exemplo.Rafa Brunelli
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Rafa também fez um alerta sobre a superficialidade com que algumas pessoas tentam entender o universo PCD, cometendo o equívoco de achar que todas as pessoas com deficiência têm as mesmas limitações.
"São corpos diferentes, mesmo que estejam dentro desse guarda-chuva da pessoa com deficiência. Mas tem tanto corpos físicos, como corpos como o autismo, que não é uma deficiência tão perceptível ao olhar", disse.
Dificuldade em juntar as pautas PCD e LGBT: "Culto ao corpo padrão"
Solteira e não monogâmica, Rafa Brunelli tem usado sua vivência como pessoa com deficiência para desbravar temas que ainda encontram barreiras, como o afeto e a diversidade na comunidade LGBTQIA+. Recebendo cantadas de mulheres e nudes de homens, ela explicou o que define sua orientação: "Pra pansexualidade, não importa o gênero."
No 'Acessíveis', Rafa contou que há uma dificuldade em reconhecer PCDs como pessoas que vivem o afeto. "A gente está acostumado a não pensar que uma pessoa com deficiência tem uma orientação sexual, que ela transa". Essa visão, segundo ela, é ainda mais desafiadora quando se trata de abordar a pauta PCD dentro da comunidade LGBTQIA+.
Eu acho que é bem mais difícil a gente trabalhar a comunidade PCD dentro da LGBT, que já é uma comunidade mais estruturada. E principalmente, pensando em homem cis, né, na letra 'G', que hoje em dia tá num culto ao corpo padrão.Rafa Brunelli
Rafa entende que, entre pessoas trans, questões como a disforia de corpo já estão sendo debatidas de forma mais ampla. No entanto, ela apontou que nas demais letras da sigla corpos gordos e corpos PCDs ainda carecem de espaço nas discussões.
A criadora de conteúdo também compartilhou como se redescobriu após aceitar seu corpo como PCD. Ela relembrou que a adolescência foi marcada por exclusões: evitava praias, piscinas e até apresentações teatrais devido à vergonha de seu corpo.
Não era colocada nesse lugar de atração amorosa, afetiva, sexual. E quando eu comecei a me entender dentro do meu corpo, eu comecei a entender o que eu procuro, o que eu busco afetivamente, sexualmente.Rafa Brunelli
Após a gravação do episódio, Rafa compartilhou nas redes sociais um vídeo revelando que passou a se entender como pessoa trans.
'Acessíveis' no UOL
Toda terça, MariMoon e Titi Müller recebem convidados para um papo que vai de histórias de bastidores ao apocalipse climático, passando por tópicos como maternidade, redes sociais, relacionamento e cultura pop. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube de Universa. Assista ao episódio completo com Rafa Brunelli:
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