Força de Bella está no 'não' à cultura de empresas que protegem abusadores
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Em mais um caso de "todo mundo já sabia", os desentendimentos de Cauã Reymond e Bella Campos em "Vale Tudo" o expuseram como um homem "machista, agressivo e debochado". Não pareceu novidade para quem já tinha trabalhado — ou se relacionado — com o ator.
Andréia Horta, que contracenou com ele na novela "Um lugar ao sol", escreveu numa rede social, sem citá-lo: "Quando um homem tóxico, misógino, violento, abusivo, ardiloso, perverso, mau caráter é denunciado isso precisa ser escutado e medidas serem tomadas. Sofrer as consequências disso com as pessoas fingindo que não veem é no mínimo doloroso e revoltante. Isso acontece todos os dias".
A atriz jogou duas perguntas no ar: "Por que esses homens seguem impunes fazendo o que fazem? Que tipo de atitude da sociedade segue protegendo o agressor?".
Mariana Goldfarb, ex do ator, também se posicionou, lembrando que ela avisou, mas "ninguém quis escutar". A modelo, depois de se relacionar por alguns anos com Cauã, foi a público dizer que tinha sofrido violência psicológica e moral. Era 2023. A vida e a carreira do ator, assim como os seus milionários contratos de publicidade, seguiram como se nada tivesse acontecido.
Isso ajuda a responder à pergunta de Andréia Horta.
Quando uma mulher denuncia um homem carismático, famoso, poderoso, o mais provável é que ela seja desacreditada, tratada como louca, histérica, exagerada, ressentida ou ciumenta. Muito mais raro é o seu relato ter alguma consequência prática para o abusador.
Com uma eterna sensação de impunidade e onipotência, eles repetem os comportamentos misóginos, atropelando as mulheres que passam pelo caminho.
Quando os abusos acontecem no ambiente de trabalho, as vítimas têm um medo adicional: o risco maior é que elas percam trabalhos, enquanto homens conhecidamente violentos seguem multiplicando seus contratos e sua renda.
Por isso mesmo, as empresas contam com o silêncio das mulheres. O que atropelou a Globo, neste caso, foi um conflito geracional.
Ao escalar uma atriz quase 20 anos mais jovem como par de um ator de 44 — o que já carrega uma boa dose de machismo —, a emissora passou a ter de lidar com uma geração que não foi ensinada a se calar.
Ao se posicionar contra a misoginia normalizada pela instituição, Bella Campos, 27, se recusa a ser acuada e intimidada por um homem supostamente mais forte do que ela.
Mais que isso: Bella está dizendo não a uma cultura empresarial que se perpetua apesar de um ou dois bodes sacrificados pelo caminho. No "Vale Tudo" de 2025, a Globo tem mais uma chance de mudar a própria história.
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