No Rock in Rio, Hyldon, 73, lança música que começou a escrever em 1977

Autor de clássicos como "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" e "Dores do Mundo", Hyldon lança a música "Aconteceu em Geribá", que começou a ser escrita nos anos 1970 e foi finalizada neste ano, às vésperas da sua apresentação no Rock in Rio.

O que ele disse

O músico vai comandar um baile black com Cláudio Zoli e a Banda Black Rio, no show "Para Sempre Soul", que acontece na Global Village, neste sábado (21), às 17h. Aos 73 anos, ele se prepara para um documentário e seu álbum novo — enquanto tem discos relançados e participa de festivais.

"Eu me sinto muito honrado, porque geralmente esses festivais chamam gente jovem ou que está bombando na internet. Eu não sou nada disso. Eu acho que é um reconhecimento do meu trabalho e da minha insistência em fazer música de qualidade. Minha música não é descartável. Eu fico muito feliz", contou em conversa com Toca.

Acho que tudo deixou para acontecer neste ano. Eu fui pro Coala e a gente fez um puta show. Parece que meu mapa astral e os planetas estão confluindo e dizendo: 'Vai, Hyldon!'. Hyldon

Mesmo já tendo participado de quatro edições do Rock in Rio, esta é especial pela celebração da música brasileira. Para ele, participar deste show é levar para o palco toda uma geração de músicos, entre eles, os amigos Cassiano e Tim Maia: "De certa forma o Cassiano e o Tim estarão lá com a gente. Eles estão no meu DNA. Aprendi muito com os dois. Foi Tim Maia quem me ensinou a tocar baixo. E a gente tem muita influência deles: eu, a Black Rio e o Zoli".

Eu estou muito concentrado para o show e estudando as músicas. Vai ser um suingue só. Vai ter instrumento de sopro também, porque banda de soul que se preze tem que ter metais. Nós vamos fazer um baile black. Hyldon

Hyldon durante show no Coala Festival 2024
Hyldon durante show no Coala Festival 2024 Imagem: Van Campos/AgNews

Búzios

"Aconteceu em Geribá" marca o encerramento de um ciclo que se iniciou quando Hyldon preferiu se manter distante do mercado da música após sofrer um boicote da gravadora. O presidente da sua gravadora à época teria ordenado que sua música de trabalho não fosse tocada nas rádios. O que fez com que ele largasse tudo e se mudasse para Búzios — na Região dos Lagos no Rio de Janeiro.

Continua após a publicidade

"O ano de 1977 foi muito importante para mim. Eu gravei um disco maravilhoso com músicos da pesada. Tinha o Azymuth e o Dominguinhos. Minha música estava tocando à beça", conta.

De repente um divulgador amigo veio falar que tinham ordens do presidente da Sony para parar de tocar. Roberto Carlos teria ficado com ciúmes de outro cantor romântico e, assim como teria feito com Fagner, mandou parar. Mas olha, não acredito nisso, seria muita mesquinhez, nossa música não tem nada a ver com a dele. Eu fiquei muito abalado. Hyldon

Hyldon, que se apresenta no Rock in Rio 2024, durante show no Coala Festival, do dia 7 de setembro
Hyldon, que se apresenta no Rock in Rio 2024, durante show no Coala Festival, do dia 7 de setembro Imagem: Divulgação

Nessa época, em Búzios, Hyldon montou a Geribanda e se apresentava em um bar na cidade com músicas próprias. Foi quando começou a escrever a música inspirada na bioluminescência da areia da praia de Geribá.

A música veio agora porque esse era o tempo dela. Eu não tinha conseguido terminar ela em 1977. Aí resolvi fazer um disco neste ano, que não é contra o mercado, mas é a minha música, e ela tava pedindo pra fazer algo com piano, baixo acústico, uma jogada assim meio jazz. E pediu essa música com a sonoridade da Geribanda. É como se fosse as pazes com o mercado. Hyldon

Continua após a publicidade

A música faz parte do disco pronto que vai ser lançado com um documentário no próximo ano. Seus discos antigos também foram relançados neste ano.

Nova geração

Hyldon diz ter aprendido com Tim Maia a ouvir o novo e o velho. Para ele, a nova geração do soul absorve muita coisa de fora, por conta das facilidades da internet, diferente dos pioneiros que abrasileiraram o ritmo e faziam música com influências nacionais. Mas ele enxerga a continuidade do seu trabalho nos novos nomes da música.

Eu tenho um monte de afilhado. No hip hop principalmente. Eu tenho muitas gravações com essa galera. Eu acho que a sociedade ainda não entendeu o valor do rap, mesmo com os Racionais em livros. A cultura hip hop não é só o rap, é a dança, é o grafite, é a maneira de se vestir. Os primeiros caras do hip hop samplearam a gente. Essa vivência do rap conversa com a construção do soul. Hyldon

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.