Filho diz que Estado assumir morte de Rubens Paiva é 'patriótico e justo'

Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado Rubens Paiva, afirmou que o reconhecimento do Estado brasileiro de que seu pai foi morto de forma violenta pela ditadura militar foi um "gesto de patriotismo".
O que aconteceu
Marcelo, que é escritor e autor do livro "Ainda Estou Aqui", que inspirou o filme homônimo estrelado por Fernanda Torres, destacou que o Estado necessitou do longa para fazer a retificação na certidão de óbito de seu pai. "Essa correção tem um duplo sentido para mim e acho que para a família também: ela é justa, é um gesto patriótico, [mas] precisou do filme para o Estado brasileiro, depois de 53 anos, reconhecer [o assassinato do meu pai]... É uma coisa contraditória para a gente", declarou em entrevista ao Fantástico (Globo), neste domingo (26).
Estado reconheceu que morte de Rubens Paiva não foi natural, mas sim resultado da violência causada pelos agentes da ditadura. A retificação na certidão de óbito do ex-deputado foi feita na quinta-feira (23), mesmo dia em que o filme "Ainda Estou Aqui" recebeu três indicações ao Oscar 2025, principal premiação de cinema do mundo.
Rubens Paiva foi dado como desaparecido em 20 de janeiro de 1971. Em dezembro de 2024, o Conselho Nacional de Justiça publicou resolução que obriga o Estado a retificar registros de mortos e desaparecidos vítimas da ditadura que durou de 1964 a 1985 no Brasil, entre os quais está o ex-deputado — os restos mortais dele nunca foram encontrados.
Certidão de óbito retificada pelo Estado foi assinada pela primeira vez em 1996. Naquele ano, o Poder Público emitiu o documento após uma luta de 25 anos da esposa do político, Eunice Paiva. É a vida de Eunice que é retratada no livro e no filme que tem feito sucesso em todo o país.
Ao Fantástico, Marcelo Rubens Paiva destacou que escreveu "Ainda Estou Aqui" em homenagem à mãe, que sofreu de Alzheimer em seus últimos anos de vida —ela morreu em 2018, aos 86 anos. Seu nome se tornou símbolo contra o regime militar.
Filha se emocionou com filme
Ana Lúcia Paiva, filha de Eunice e Rubens, disse ter se emocionado com a cena de Fernanda Montenegro no filme. "Foi muito impressionante... Vê-la fazer essa cena quase que igual [a minha mãe] foi uma das cenas em que eu fiquei mais emocionada".
Ela também explicou que a cena em arruma a roupa do pai, antes de ele ser levado pela ditadura, foi real — aquela foi a última vez que Ana Lúcia viu o pai. "Todo mundo me fala dessa cena da camisa, que é uma cena que realmente aconteceu. [Naquele dia] eu cheguei em casa, fui dizer bom dia para o meu pai, e pedir uma camisa porque era moda na época a gente ir para a praia com a camisa do pai, e foi a última vez que eu vi ele".
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