O dia em que Fernanda Montenegro perdeu o Oscar para Gwyneth Paltrow

Fernanda Torres, 59, pode ser indicada ao Oscar nesta quinta-feira (23), e os brasileiros estão animados em dobro com essa possibilidade: além da conquista da atriz, a indicação também colocaria o país um pouco mais perto de uma reparação histórica.

O que aconteceu

Fernanda Montenegro, 95, mãe de Fernanda Torres, foi indicada ao Oscar de melhor atriz em 1999. A indicação foi por sua atuação como Dora em "Central do Brasil", que também concorreu a melhor filme estrangeiro naquele ano.

Ela foi a primeira atriz latino-americana a concorrer na categoria. Até hoje, nenhuma venceu o prêmio principal de atuação. Em 1962, Rita Moreno se tornou a primeira mulher latino-americana a vencer um Oscar, na categoria de melhor atriz coadjuvante. Mas, até hoje, a mãe de Fernanda Torres foi a única atriz indicada ao prêmio de melhor atriz por um papel em língua portuguesa.

Fotografia marca o lugar de Fernanda Montenegro no Oscar 1999
Fotografia marca o lugar de Fernanda Montenegro no Oscar 1999 Imagem: Fred Prouser/Reuters

Fernanda concorria com quatro outras atrizes. Eram elas: Cate Blanchett, por "Elizabeth"; Gwyneth Paltrow, por "Shakespeare Apaixonado"; Meryl Streep, por "Um Amor Verdadeiro"; e Emily Watson, por "Hilary e Jackie".

Quem levou o prêmio para casa foi Gwyneth Paltrow. Ao receber o troféu, ela agradeceu as outras indicadas: "Gostaria de agradecer a Academia, do fundo do meu coração. Gostaria de agradecer Emily Watson, Fernanda Montenegro, minha amiga Cate Blanchett e a melhor atriz que já existiu, Meryl Streep. Não me sinto muito merecedora disso, na sua presença".

Em seguida, Gwyneth agradeceu Harvey Weinstein e sua produtora, a Miramax. "Obrigada por seu apoio constante", disse a atriz. Naquele ano, o estúdio tinha dois filmes indicados ao Oscar: "Shakespeare Apaixonado" e "A Vida é Bela". As obras foram indicadas a 20 categorias, e venceram dez delas —inclusive a de melhor filme, que foi para "Shakespeare Apaixonado", e melhor filme estrangeiro, para "A Vida é Bela".

Aquele Oscar acendeu uma polêmica sobre o lobby nas grandes premiações de cinema. A campanha da Miramax para o Oscar de 1999 custou US$ 15 milhões —hoje equivalentes a US$ 28 milhões, ou R$ 170 milhões. No dia seguinte à premiação, o produtor Arthur Cohn criticou a prática em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo: "Temos aí uma prova de que os milhões de dólares investidos pela Miramax fizeram de 'A Vida É Bela' um enorme sucesso comercial. E, infelizmente, o dinheiro, mais uma vez, acabou influenciando no resultado da noite passada".

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Fernanda Montenegro ao lado do produtor Arthur Cohn no Oscar 1999
Fernanda Montenegro ao lado do produtor Arthur Cohn no Oscar 1999 Imagem: AFP Photo/Lucy Nicholson

Vale muito aquele prêmio nos Estados Unidos. É uma coisa extremamente americana, com repercussão no mundo. Lá, ninguém tem problema de fazer lobby. Fernanda Montenegro em entrevista à GloboNews em 2018

Fernanda Montenegro diz que era "impossível" vencer o prêmio. "Imagina. Meryl Streep perdeu. A [Cate] Blanchett no auge, nossa senhora! Fez duas Elizabeths extraordinárias. Como eu ia pensar em ganhar alguma coisa? Fiquei lá, foi interessante, importante. Não é que não é importante, não estou jogando fora e nem menosprezando, pelo amor de Deus. É uma experiência humana e, dentro da nossa área, espantosamente interessante de ver", disse à GloboNews em 2018.

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