Briga com Mansilla, batida em Mônaco: as imagens reais da série 'Senna'

A série "Senna", da Netflix, com o ator Gabriel Leone no papel de Ayrton Senna, cobre alguns dos momentos mais marcantes da vida do piloto brasileiro. Como na carreira de qualquer grande atleta, alguns deles chegam a parecer fortes ou inusitados demais para ser verdade. Estas oito histórias, contudo, são reais. Veja as imagens.

1. O título mundial de kart que nunca chegou

Senna perdeu o campeonato para o holandês Peter Koene em 1979, apesar de ambos terem empatado por pontos. Houve controvérsia quanto à regra de desempate: a equipe brasileira acreditava que o critério mais justo seria utilizar o resultado da última das três provas da final, vencida pelo brasileiro.

Federação decidiu utilizar a semifinal, que dava a vitória a Koene. Senna até chegou a comemorar o resultado em Estoril antes de ser informado que a regra de desempate lhe tirava o título.

2. Aposentadoria precoce

Na série, Senna se muda para Norfolk com sua esposa Lilian em 1981, para disputar a Formula Ford 1600 pela Van Diemen. Lá, ele venceu 12 de 20 corridas do ano e se sagrou campeão, além de ter conquistado uma rivalidade com seu companheiro de equipe, o argentino Enrique Mansilla.

Na corrida do circuito de Mallory Park, Mansilla bateu seu carro em Senna e o jogou para fora da pista. O argentino alegou que Senna já havia feito o mesmo em provas anteriores, mas o brasileiro não gostou e eles acabaram em uma briga física. No entanto, foi a vida familiar que acabou tirando o piloto brasileiro do esporte: a esposa não havia se adaptado à Inglaterra e ele anunciou a aposentadoria para tocar os negócios da família no Brasil.

Ayrton Senna acompanhado de Lilian Vasconcellos na Inglaterra, em 1981
Ayrton Senna acompanhado de Lilian Vasconcellos na Inglaterra, em 1981 Imagem: Ketih Sutton/Divulgação/Arquivo Folhapress
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3. Vitória com fita adesiva

De volta à Europa em 1982, Senna foi campeão europeu e britânico da Formula Ford 2000. Em 1983, ele passou para a Formula 3 na Inglaterra e a disputa era apertada com o inglês Martin Brundle. Para vencer a corrida final, o piloto usou uma tática curiosa: sua equipe usou uma fita adesiva para fechar a saída de ar do radiador de óleo.

Foi perfeito. O óleo atingiu a temperatura certa depois de uma volta, mais ou menos, em vez das seis ou sete como de costume. Senna na época, segundo arquivos do Instituto Ayrton Senna

Na sexta volta, a temperatura da água subiu. Como tinha treinado, Senna afrouxou o cinto de segurança o bastante para esticar o braço e remover a fita. "Quando eu olhei para frente, já estava quase na chicane. Eu achei que iria perder o controle por um instante. De repente, eu não era mais parte do carro. Eu estava deslizando lá dentro. Foi bem complicado", teria dito na ocasião.

A estratégia deu certo e ele venceu o campeonato. Em seguida, recebeu convites para testar carros na Formula 1, seu objetivo maior.

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4. O "rei de Mônaco"

Senna estreou na Formula 1 pela Toleman em 1984, uma equipe pequena sem grandes resultados até então. Mas no GP de Mônaco, teve uma das corridas mais importantes da carreira, que estabeleceu sua fama de "rei da chuva" e de Mônaco. Mesmo com as pistas molhadas e acidentes acontecendo, ele largou em 13º e conseguiu ultrapassar até os favoritos.

A corrida, que deveria ter 76 voltas, era liderada pelo seu futuro rival, Alain Prost, da McLaren. Na volta 29, Prost começou a pedir o fim da corrida, devido à forte chuva. O francês parou o carro ao ver o diretor acenando a interrupção da prova, mas Senna o ultrapassou em seguida e foi o primeiro a cruzar a linha de chegada.

Prost foi declarado vencedor da prova. Parte da imprensa e do público, contudo, criticaram a decisão baseada nas posições na volta anterior, antes do aceno final. A lenda de Senna nas pistas molhadas nascia, Prost recebeu apenas metade dos pontos pela prova encurtada e o título daquele ano ficou com Niki Lauda.

5. O "maior erro" da sua carreira

Em 1988, já famoso como o "rei de Mônaco", Senna também cometeu um erro que entrou para a história. Durante a prova, ele chegou a estar mais de 50 segundos à frente de Prost, em um circuito em que a volta dura cerca de 1,5 minuto. Até que, na volta 67, ele bateu sozinho na entrada do túnel, por um erro próprio.

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Senna liderava quando, surpreendentemente, bateu sozinho. A reação dos fiscais de pista mostra que o espanto foi geral
Senna liderava quando, surpreendentemente, bateu sozinho. A reação dos fiscais de pista mostra que o espanto foi geral Imagem: Reuters

Senna deixou o carro na pista e foi embora para casa, sem falar com ninguém da equipe. A corrida, contudo, teria servido como uma experiência de aprendizagem marcante para um piloto que se tornou famoso pela obsessão de ser sempre mais rápido, mesmo com a vitória garantida. Prost, naquele dia, venceu Mônaco. Mas o campeonato daquele ano foi de Senna, seu primeiro título mundial de F1.

6. Desclassificação no Japão e perda de título

O GP do Japão de 1989 era decisivo para Prost e Senna, que disputavam o título daquele ano. Prost liderava a corrida, mas na volta 47, Senna tentou ultrapassá-lo, nenhum dos pilotos cedeu e eles acabaram batendo. O francês abandonou a prova, acreditando que o acidente pesaria a seu favor na decisão do campeonato.

Senna gesticulou para auxiliares da pista para que empurrassem seu carro e voltou à corrida. Ele venceu nas duas voltas finais, mas acabou desclassificado por não ter voltado exatamente ao ponto onde bateu com Prost para continuar a corrida — ele a retomou a partir da curva. A decisão lhe custou o título daquele ano, que ficou com o francês.

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O brasileiro ficou indignado com a decisão do presidente da federação de automobilismo, Jean-Marie Balestre. Senna o acusou de tentar favorecer seu conterrâneo, o que o próprio Balestre admitiu em 1996. Por causa da contestação, contudo, Senna foi multado à época em US$ 100 mil e foi proibido de correr por seis meses, uma decisão que acabou suspensa.

7. Outra batida em Prost

No ano seguinte, o campeonato voltava a ser decidido no Japão entre Senna e Prost. Dias antes, o brasileiro pediu que a posição de largada do pole position fosse alterada como em outros circuitos para o lado esquerdo da pista, mais "limpo" e com mais aderência, já que ele argumentava que o outro lado prejudicava quem estava em primeiro. O pedido foi negado por Balestre.

O brasileiro e o francês voltaram a colidir, logo na primeira curva. O brasileiro ganhou o título e Prost disse que aquilo que ele fez era "nojento" e não tinha "espírito esportivo".

Quando ele perde, é sempre assim. Ele reclama. Esse é o caráter do Prost. Eu sabia que a largada seria dificílima, para conseguir pular na frente. E foi o que aconteceu. O resultado da corrida acabou sendo indiretamente decidido pela posição de largada. Se eu estivesse do lado limpo da pista, teria feito uma largada melhor, teria pulado na frente, com certeza, teria uma possibilidade menor de acidente na primeira curva. Infelizmente, eles me colocaram do lado pior. Perdi no pulo, no farol verde. [...] Não consegui evitar. Esse título eu dedico a todos que lutaram contra mim no ano passado e me machucaram muito. Está aí a demonstração para eles de quem é o campeão. Ayrton Senna à imprensa na época, conforme registrado pela TV Globo

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Anos depois, Senna admitiu que havia colidido de propósito. Ele se sentiu prejudicado pela federação ao perder o título em 1989 e, novamente, por causa da posição de largada de 1990.

8. A vitória com uma só marcha em Interlagos

Já bicampeão em 1991, Senna nunca havia vencido o GP do Brasil. A disputa entre Senna, Nigel Mansell e Ricardo Patrese era acirrada quando o câmbio de seu carro parou de funcionar. Ao fim da prova, ele tinha apenas a sexta marcha e estava sofrendo com espasmos musculares por conta do esforço físico de dirigir o carro naquela condição.

Senna terminou a prova apenas três segundos na frente de Patrese, mas acabou ovacionado pela torcida. Seu cansaço evidente no pódio, no entanto, entrou para a história.

Ayrton Senna com o troféu do GP do Brasil de 1991
Ayrton Senna com o troféu do GP do Brasil de 1991 Imagem: Paul-Henri Cahier/Getty Images

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