Ricky Hiraoka

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Opinião

O que as novelas atuais podem aprender com 'Alma Gêmea' e 'Força de Mulher'

"Mania de Você" quase protagonizou um feito raro na quinta (31) passada: ter menos audiência que uma reprise do Vale a Pena Ver de Novo. A novela das nove cravou 19,2 pontos na Grande SP (cada ponto equivale a 73.279 domicílios e 191.477 indivíduos), meio ponto a mais que "Alma Gêmea", que segue fazendo bonito nos fins de tarde da Globo.

Outro folhetim que tem alcançado médias cada vez maiores é a produção turca "Força de Mulher", que registrou 9,4 pontos e já é a atração mais vista da Record.

A saga da viúva Bahar, que não mede esforços para driblar seus problemas de saúde e criar os dois filhos, herdou espectadores que não se encantaram com "Mania de Você" e parte do público que abandonou as novelas infantis do SBT.

'Força de Mulher': novela turca da Record sobe audiência da emissora
'Força de Mulher': novela turca da Record sobe audiência da emissora Imagem: Reprodução/Record

Num contexto em que as novelas nacionais contemporâneas têm sofrido há alguns anos para emplacarem, é possível analisar o sucesso de "Alma Gêmea" e de "Força de Mulher" e encontrar denominadores em comum que explicam a boa aceitação dessas duas tramas e que podem guiar o desenvolvimento de futuras produções.

Premissas simples, mas poderosas

Tanto "Alma Gêmea" quanto "Força de Mulher" têm um ponto de partida que pode ser explicado e entendido com muita facilidade. Vale enfatizar que simplicidade não é sinônimo de obviedade.

As duas novelas, cada uma a seu modo, conseguem desenvolver uma história inventiva e atraente, mesmo tratando de conflitos que foram amplamente explorados pela teledramaturgia.

Em uma realidade em que as pessoas não desgrudam do smartphone e acessam redes sociais enquanto veem TV, a simplicidade dessas tramas contribui para que o público as compreenda sem investir toda a sua atenção com que é exibido na telinha. A velocidade e o excesso de acontecimentos que marcaram o início "Mania de Você" exigiram dos fãs da novela estarem ligados o tempo todo na trama.

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Novela como um espelho do espectador

Uma das chaves do sucesso de qualquer novela é a identificação. O público não precisa se enxergar 100% nos personagens, mas, no mínimo, é necessário que ele se reconheça de alguma maneira nos conflitos retratados ou aspire viver situações semelhantes ao que acompanha no folhetim.

Por mais que em alguns momentos "Alma Gêmea" e "Força de Mulher" sejam um vale de lágrimas, a audiência consegue se identificar com os dramas dos protagonistas e dos personagens secundários porque eles são calcados em questões românticas e familiares, problemas que todos enfrentam em algum momento na vida.

Em "Mania de Você", por exemplo, a ação se desenrola a partir de armações e golpes e pela ambição desmedida dos personagens.

Romance bem estruturado

Novelas desde sempre são guiadas por encontros e desencontros amorosos. Às vezes, a trama central não é o conflito romântico, como o caso de produções bem-sucedidas: "Por Amor", "Senhora do Destino" e "A Próxima Vítima".

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Mas todo bom folhetim tem, pelo menos, um casal com quem os espectadores desenvolvem uma relação de projeção, que faz com que eles torçam para haver um final feliz. "Alma Gêmea" e "Força de Mulher" possuem histórias de amor construídas de maneira crível, fazendo com que o público acredite que os personagens são apaixonados e merecem ficar juntos para sempre.

"Mania de Você" falha miseravelmente nesse aspecto. A paixão entre Viola (Gabz) e Rudá (Nicolas Prattes) não convence, porque não houve uma progressão dramática que fizesse os espectadores acreditarem nesse romance.

Tudo foi muito instantâneo e, para piorar, tanto Viola quanto Rudá traem a confiança de Luma (Agatha Moreira), que não só fez tudo para ajudá-los e defendê-los como é a vítima do maior golpe da novela. Fica complicado torcer para dois personagens que agem com deslealdade.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

6 comentários

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Norma Moreira

Acredito que A Chave do sucesso seja o "conto de fadas", a fuga da realidade. Certa vez, após anos sem assistir um único minuto de uma novela, sentei em frente à TV e assisti um pouco. Eu não aguentei mais do que 5 minutos pq a violência da novela era a msm ou pior do que a realidade. Pra que eu vou me encher de revolta assistindo uma novela? Já não me basta a realidade nossa de cada dia? A arte, segundo Nietzsche, existe para que a realidade não nos destrua. Destruíram a arte no Brasil, infelizmente. Eis a razão do sucesso das novelas antigas, das turcas e dos doramas. Eu quero contos de fadas, histórias de mocinhas, mocinhos, vilões, gente bonita. De feia já basta eu, de violento já basta o meu país.

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Leonardo Felipe Nery

Os autores atuais não veem novelas. Isso é um problema, pois não sabem como conduzir uma torcida pelos personagens. Acabam apelando para os casais, que estão chatos. Eles se conhecem e já se declamam apaixonados para sempre. Torcer para ficarem juntos? Por quê se já estão desde o início. A direção da Globo subestima o público e acha que vai engolir qualquer coisa. 

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Gustavo Augusto de Oliveira Martins

Acredito que as pessoas estão mais conservadoras e isso está se refletindo na audiência das novelas. Geralmente, as tramas mais leves eram destinadas ao horário das seis (ou horário da tarde, enfim), e as tramais mais dramáticas/sofisticadas (com enredos políticos, sociais, de violência urbana etc.) eram destinadas às novelas das oito/nove. Mas não deixavam de ser grandes sucessos (vide Vale Tudo, O Salvador da Pátria, Rei do Gado etc.). O que acontece é que grande parte do público foi migrando para o streaming, e as "tias do sofá", mais conservadoras, não querem saber de "maldade", "traição" nas "suas" novelas. E com esse conservadorismo (hipócrita, na verdade), qualquer cena que fuja da "família feliz" vira "imoralidade", "baixaria" etc. Não é à toa a polêmica em volta do remake de Vale Tudo, onde querem "humanizar" Odete Roitman.

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