Ricky Hiraoka

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Opinião

Muito além dos pais: por que todos deveriam ver a série 'Má Influência'

Nos anos 1980 e 1990, o jeito descontraído e os figurinos curtos das apresentadoras infantis faziam muita gente acusá-las de iniciar precocemente crianças e pré-adolescentes no imaginário sexual. Há um certo exagero nessa teoria, que diz mais a respeito de quem a propagava do que sobre essas comunicadoras cujo maior "pecado" era incentivar o consumismo exagerado.

O que Xuxa, Angélica e companhia fizeram na TV aberta não chega nem perto daquilo que é produzido por influencers mirins nas redes sociais e no YouTube. Embora comecem com vídeos inocentes de coreografias, brincadeiras e avaliação de brinquedos, as postagens dessas minicelebridades escalam muito rápido para um conteúdo dúbio, que flerta verdadeiramente com a sexualidade.

Embora tenha passado despercebida no Brasil, a série documental "Má Influência: O Lado Sombrio dos Influencers Infantis", que estreou há duas semanas na Netflix, ajuda a compreender por que a existência de crianças e adolescentes produzindo conteúdo para a internet é tão problemática, e a regulamentação das redes sociais precisa ser debatida com seriedade e atenção.

Através da trajetória de Piper Rockelle, uma jovem que foi alçada ao estrelato digital ainda criança graças à voracidade e a ganância de sua mãe, Tiffany Smith, a série de três episódios traça um panorama que explica didaticamente como menores idade são explorados para que adultos lucrem em cima de seu trabalho.

Não bastasse isso, "Má Influência: O Lado Sombrio dos Influencers Infantis" mostra como essas crianças e pré-adolescentes, muitas vezes, são forçados a encenarem situações "românticas" e são incentivados a fazerem poses nada inocentes para satisfazer uma audiência que, em boa parcela, é formada por homens acima de 18 anos que, definitivamente, não buscam esse tipo de conteúdo com boas intenções.

Além de estarem expostos a situações que ultrapassam a barreira da legalidade e da moralidade, esses jovens influencers ainda são submetidos a um desgaste de sua saúde mental, pois viram reféns de números de visualizações e curtidas e têm todos os passos de descobertas e explorações típicas do crescimento de um ser humano acompanhados por centenas de milhares de pessoas que não pensam duas vezes antes de julgar e condenar essas celebridades digitais.

Assim como o hit "Adolescência", "Má Influência: O Lado Sombrio dos Influencers Infantis" também nos faz pensar em nossa responsabilidade diante desse contexto em que crianças e adolescentes têm suas vidas dilaceradas pela falta de regras que ainda impera na internet e quais soluções podemos encontrar para contornar esse problema enquanto sociedade. A triste constatação é que, talvez, a gente não consiga fazer quase nada para alterar esse cenário.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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