Harry e Meghan: o desafio de criar uma nova narrativa fora da Família Real?
Por: Ana Claudia Paixão - Via Miscelana
No início de 2024, decidi dar uma pausa na discussão sobre a Família Real britânica, diante da polarização intensa e da violência verbal que cerca o tema. Desde que Meghan Markle "ousou" romper com a vida que se desenhava para ela — como coadjuvante de uma narrativa já estabelecida e alvo constante da imprensa — os bastidores da realeza atingiram um tom imprevisível e exaustivo. Essa história tem inúmeras camadas, mas compreendê-la demanda um esforço psicológico considerável.
Poucos que opinam sobre Meghan e Harry se dão ao trabalho de ouvi-los diretamente, o que prejudica a comunicação e alimenta versões unilaterais. Ainda assim, é impossível ignorar a contradição que emerge em suas atitudes. Embora estejam comprometidos com causas importantes, há um traço de inconsistência que os torna alvos fáceis de críticas. Sem o suporte da estrutura palaciana, o casal está construindo sua própria narrativa e, contra as previsões de muitos, tem obtido sucesso nesse caminho.

É inegável que Harry e Meghan abriram diálogos relevantes sobre saúde mental, racismo e o impacto das estruturas tradicionais. A entrevista com Oprah, por exemplo, gerou uma onda de reflexões globais, colocando questões importantes em debate. Meghan também tem investido em iniciativas voltadas para mulheres e empreendedorismo, enquanto Harry trabalha com projetos que priorizam a saúde mental e o bem-estar de veteranos. Essas ações mostram um compromisso genuíno com questões sociais, mesmo que nem sempre sejam recebidas de forma unânime.
Tenho, no entanto, minhas ressalvas quanto à decisão de Harry de expor sua família publicamente e seu desejo de se estabelecer como figura de liderança no cenário internacional. A experiência demonstra que, em momentos de conflito, a contenção pode ser mais poderosa do que o confronto direto. Contudo, a posição de Harry é clara: ele acredita que sua família não apenas aprovou, mas também plantou as histórias prejudiciais publicadas sobre ele e Meghan. Suas declarações variam entre acusações de ciúmes, inveja ou pura maldade.
Independentemente das razões, sua intenção é desmascarar o que considera ser um sistema tóxico e manipulado.
Do ponto de vista psicológico, suas acusações refletem tanto suas feridas pessoais quanto a dinâmica maior da monarquia. Ao declarar que sua imagem pública passada era uma farsa e que os bastidores estavam repletos de humilhações, Harry nos faz questionar a autenticidade da persona que agora projeta. Há uma falta de consistência em algumas narrativas, o que facilita críticas e questionamentos sobre sua postura.
Apesar disso, é inegável que Harry e Meghan encontraram um espaço para se consolidar. Ele tem se mostrado mais confiante como figura pública, embora ainda carregue gestos e expressões que revelam insegurança ou irritação em entrevistas. Seus discursos têm evoluído, com menos dependência de temas como sua mãe, Diana, ou seu tempo no exército — marcas que por muito tempo definiram sua identidade.
A recente entrevista de Harry ao The New York Times reforçou a tensão ao abordar os rumores de divórcio, que ele negou, e questões legais em andamento, que ele evitou detalhar. O príncipe pareceu defensivo, desconfiado e visivelmente frustrado. No entanto, há indícios de que o casal está em uma curva de transição. Meghan tem se focado em empreendimentos, enquanto Harry tem abraçado a filantropia com mais seriedade. Essa divisão de frentes sugere um caminho menos turbulento no futuro.
No fim, Harry e Meghan estão redefinindo suas vidas sob os holofotes. Mesmo com tropeços e críticas, seguem construindo uma narrativa própria que os diferencia — seja para o bem ou para o mal.

Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.