Topo

COI: Avanço do Covid-19 nos EUA e América do Sul fez Olimpíada ser adiada

Jamil Chade e Karla Torralba

Do UOL, na Suíça e em São Paulo

25/03/2020 07h04

Presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach atendeu jornalistas do mundo inteiro por teleconferência hoje (25), um dia após o adiamento oficial da Olimpíada de Tóquio como consequência da pandemia de coronavírus. Depois de ficar claro que o planeta não estava preparado para a realização do seu maior evento esportivo, o dirigente afirmou que o aumento de casos de Covid-19 nos Estados Unidos e América do Sul fez o COI mudar de ideia sobre os Jogos de 2020, e uma nova data ainda é discutida.

"Tóquio era a cidade mais preparada. Não há rascunho para adiamento. Nunca foi feito. Mas estamos confiantes", ressaltou Bach, que ainda explicou que o adiamento exigirá sacrifícios e uma mudança complexa na agenda do esporte mundial com conversas entre todas as federações e países.

Os Estados Unidos, uma das maiores potências olímpicas, pediram de forma firme o adiamento dos jogos junto a outros países, como Canadá, Brasil, Espanha e Alemanha e outros. Além disso, é de lá a emissora com o maior investimento para a transmissão dos Jogos Olímpicos. Até o fim de 2019, a NBC havia vendido US$ 1 bilhão em patrocínios para a Olimpíada.

Bach explicou que o adiamento foi decidido em reunião de urgência com o governo japonês, que ainda esperava ser capaz de fazer a Olimpíada em 2020.

"Estávamos confiantes de que, ao adaptar medidas, em quatro meses, o Japão poderia organizar os jogos. Mas cresciam as nossas dúvidas se o mundo estaria pronto. O Japão estava confiante em ir adiante. No domingo, vimos os casos na África. Vimos que estamos no começo do surto, com números baixos. Vimos a dinâmica na América do Sul e Estados Unidos. Esse foi o momento em que eu chamei reunião de emergência para abrir discussão no Japão para abrir discussão sobre adiamento. Não poderíamos administrar tal adiamento sem o apoio do Japão", disse.

Thomas Bach mencionou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para explicar a demora para a confirmação do adiamento da Olimpíada. O país é considerado agora o grande foco da doença.

"As medidas [contra o coronavírus] de muitos governos eram limitadas até meados de abril. Não víamos medidas durando até julho. Trump falou sobre a perspectiva de retirar restrições em abril. No momento em que eles [OMS] mudaram [o discurso], foi um pico de preocupação. Foi momento crucial", contou.

"O Japão aceitou conversar, com o nosso compromisso de que o cancelamento não seria considerado. Horas depois da reunião [de domingo], vimos mais restrições de viagens surgirem e o vírus se espalhando na Oceania. Na segunda-feira, recebemos declaração da OMS de que era alarmante. Diziam que a proliferação estava se acelerando e que a OMS queria uma reunião de emergência com G20. Isso nos fez entrar em contato com o Japão de novo. Na conferência entre Abe e eu, Abe sugeriu o adiamento. Partimos do princípio de colocar a saúde dos atletas e de todos e contribuir para conter o vírus", continuou.

O adiamento foi comunicado ontem inicialmente pelo Primeiro-Ministro do Japão, Shinzo Abe, e depois pela entidade olímpica internacional em um movimento nunca antes visto na história dos Jogos. Em 1916, 1940 e 1944 as edições das Olimpíadas foram canceladas por causa das Guerras Mundiais.

Nova data

"Vamos ter consultas com as 33 federações. Vamos ver quais são as opções e, depois de consultas, vamos levar em consideração o calendário do esporte e outras questões. Queremos a solução o mais rapidamente possível", declarou o presidente do COI.

"Queremos no mais tardar no verão de 2021. O grupo de trabalho pode considerar cenário mais amplo. Não está restrito ao verão. Tudo está sobre a mesa. Vamos e queremos organizar Jogos em ambiente seguro para todos", alertou.

"O cancelamento foi considerado"

"Claro que cancelamento foi considerado, como todas as opções sobre a mesa. Mas ficou claro desde o começo que o cancelamento não deveria ser algo que o COI favoreceria, pois nossa missão é organizar os jogos. Quando conversamos domingo, abrimos a porta para discutir o adiamento, dissemos que, dado à dinâmica dramática [da doença], iríamos não apenas falar do trabalho. Mas também gostaríamos de ter acordo com o Japão sobre adiamento. Essa mensagem foi dada a Abe", narrou o dirigente.

Mobilização dos atletas pelo adiamento

O presidente do COI também afirmou que conversou com mais de 200 atletas sobre o rumo dos Jogos de Tóquio.

"Sempre consideramos a voz dos atletas. Estamos em constante contato com comissão de atletas. Também enviei uma carta aos atletas. Tivemos ligações entre comissão e representantes de atletas. Tivemos apoio unânime, inclusive do Canadá. Tivemos chamada com mais de 200 atletas. Não houve uma só voz pedindo o cancelamento. Falaram sobre os treinamentos, torneios pré-olímpicos. Levamos tudo isso em consideração", contou.

Como fica a Vila Olímpica?

Os prédios onde a maioria dos atletas ficaria hospedada durante a Olimpíada ainda são uma incógnita para o Comitê Olímpico Internacional. Isso porque os apartamentos foram vendidos, e seus donos esperavam receber as chaves após os Jogos, no segundo semestre de 2020.

"É uma das milhares de questões que terão de lidar. Esperamos que haja uma Vila Olímpica. Estamos em uma situação sem precedentes e em um desafio sem precedentes. O adiamento dos Jogos vai necessitar sacrifícios e compromissos por parte de todos. Vamos ter de encontrar a melhor solução dentro das situações em que vivemos. Vou ficar muito satisfeito se pudermos manter a Vila Olímpica, que é onde a Olimpíada realmente tem sua experiência", falou o presidente.

Código embed: ' data-autoplay='false' data-related='false' data-btnfollow='falseframeborder='0' allow='autoplay; encrypted-media' allowfullscreen>