Entre tapas e beijos, 'Ainda Estou Aqui' explode bilheterias no mundo

Entre tapas e beijos, o filme Ainda Estou Aqui vai ganhando seu espaço nos cinemas espalhados pelo mundo.
É óbvio que a verdadeira história contada no livro do Marcelo Rubens Paiva, do mesmo nome, está deixando quem lê ou assiste ao filme atordoado por uma verdade dura, crua e cruel em que o povo brasileiro viveu de 1964 até 1984, quando, mesmo com a emenda Dante de Oliveira (Diretas Já) não passando na Câmara dos Deputados, em Brasília, a ditadura militar esfacelada chegava ao fim.
O que mais vem chamando a atenção das pessoas espalhadas pelo mundo, além das performances dos atores e atrizes, é a própria história perversa e detalhada que era desconhecida pelo público internacional.
A fama do Brasil de ser um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, escondia os porões da ditadura, os torturadores e suas horríveis torturas do mundo.
O país do futebol pentacampeão, das praias deslumbrantes, dos carnavais, de suas lindas mulheres passava uma imagem de pura felicidade, enquanto centenas de pessoas eram penduradas em paus de arara, levando choque nas partes íntimas, entre tantas outras atrocidades sofridas por um povo que não era tão feliz assim.
Acredito que a sutileza usada por Walter Salles em tratar do tema, dando a entender que essas coisas aconteciam de verdade, alcançou mais facilmente a imaginação das pessoas estrangeiras que nem sequer se davam conta de que, no país tropical, pessoas eram mortas e desaparecidas pelo próprio Estado.
Além de tudo isso, e da incrível interpretação de Fernanda Torres como Eunice Paiva, houve também o encantamento das pessoas pela Fernanda.
Suas entrevistas em inglês fizeram com que os americanos vissem também seu conhecimento cultural, sua clareza em contar a sua história e a de sua maravilhosa mãe, Fernanda Montenegro, além de explicar perfeitamente como era o período de chumbo da ditadura militar no Brasil.
Sendo Fernanda, Fátima, Vani ou qualquer outra mulher brasileira, ela apresenta o seu bom humor, sua veia cômica e espalha toda sua simpatia.
Podemos dizer que Fernanda Torres hoje é um ídolo nacional e internacional, como já foram Pelé, Senna, Ronaldo, Guga, Gisele, entre tantos outros, em áreas completamente diferentes durante nossa história.
Principalmente por se destacar através da cultura cinematográfica, que é um campo minado nessas grandes premiações de Hollywood.
Ali, onde é muito difícil entrar e ser notado, muitos grandes filmes, diretores, atores e atrizes renomados são, muitas vezes, ignorados pela indústria, que é influenciada pelo lobby e pela influência dos grandes produtores.
Na era predatória de Harvey Weinstein, que era o todo-poderoso da indústria cinematográfica, os bastidores, os presentinhos e as ameaças ditavam muitos vencedores.
Por exemplo, Fernanda Montenegro, em 1999, só não venceu o Oscar com sua incrível interpretação no filme Central do Brasil, também do Walter Salles, porque Harvey interferiu a favor de Gwyneth Paltrow.
Convenhamos que sua interpretação em Shakespeare Apaixonado foi muito abaixo da nossa Fernanda Montenegro.
Festivais como Cannes, Veneza, Berlim e tantos outros, que são independentes, são incríveis, mas não atingem o grande público. E, querendo ou não, os prêmios "hollywoodianos" dão mais prestígio, visibilidade, status e, claro, muito mais bilheteria para os filmes, diretores, atores, atrizes e todo o staff.
Eu acredito que temos muitas chances como filme de língua não inglesa e com a Fernanda Torres como melhor atriz.
Mas, na grande premiação do Oscar, que é o de melhor filme, fica mais complicado porque eu acho Conclave uma grande trama de suspense com um ótimo roteiro.
De qualquer maneira, independentemente de vencermos ou não o Oscar, já entramos no cenário cinematográfico mundial e no radar de Hollywood.
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