Clapton não sabe, mas me ajudou a superar o tratamento contra dependência
Juntamente com tudo que aconteceu no futebol no Brasil, eu não poderia, de forma nenhuma, deixar de ir assistir ao show do 'Deus da guitarra', Sir Eric Clapton. Esse cara tem uma importância dentro do cenário do rock e do blues que poucos têm.
Sempre fui apaixonado pelo som de Eric Clapton, desde o início no Yardbirds, passando por uma das bandas mais incríveis da história, que é o Cream, junto com outros dois gênios, Jack Bruce e Ginger Baker. Ele também fez parte do Derek and the Dominos, antes de construir uma carreira solo espetacular.
Que delícia ouvir seus grandes clássicos ao vivo pela segunda vez na minha vida! A história desse cara é tão trágica quanto espetacular. Ele enfrentou a dependência química grave e se internou algumas vezes para tratar dos vícios em heroína, cocaína e álcool. Sem contar que passou por uma das maiores tragédias que um pai pode vivenciar: a morte de seu filho, Conor.
O garoto tinha quatro anos quando caiu do 53º andar do edifício Galleria Condominiums em Nova York. Com uma dor profunda e em pleno desespero, ele resistiu às tentações e não recaiu. Ao invés disso, conseguiu canalizar todo o seu sofrimento para criar uma das músicas mais lindas e emocionantes da história.
'Tears in Heaven' é um momento profundo em seu show, em que o público interage com sua dor, saudade e amor. Não tem quem não chore e não cante o refrão junto com Eric Clapton.
Depois de seu tratamento em Antígua, onde mais tarde apoiaria a criação de um centro de reabilitação existente até hoje, chamado Crossroads Center, ele organizou um evento chamado Crossroads Guitar Festival, que visava arrecadar dinheiro para contribuir no tratamento de dependentes de drogas.
Em 2007, Eric Clapton lançou sua biografia, onde contou detalhadamente sua história de dependência de drogas, internações e tratamentos. Coincidentemente, em setembro de 2007, eu fui internado, onde fiquei um ano, saindo apenas em outubro de 2008. No Natal de 2007, fizemos amigo secreto na clínica, e uma garota me tirou e me deu de presente a biografia dele.
Eu estava num momento depressivo, revoltado contra o tratamento, em negação e querendo ir embora. Depois de ler a biografia de Eric Clapton, pensei o seguinte: 'Se ele conseguiu se recuperar de vários vícios, eu também consigo.'
E daí em diante, entrei no tratamento e me recuperei. Hoje, não bebo e não fumo, e assistindo a ele no palco, me emociono muito por ter me ajudado diretamente, mesmo sem ter a mínima ideia de que ajudou a me recuperar.
Ir ao seu show é fazer uma viagem no tempo com um gênio da guitarra que sai tocando o som que fez através dos tempos, hipnotizando a todos. O espetáculo começa com um 'classicaço' do rock da época do Cream.
Abrem-se as cortinas e a gente ouve de cara 'Sunshine of Your Love', que é espetacular. Eric Clapton está com 79 anos e, incrivelmente, depois de ser diagnosticado com neuropatia periférica, uma patologia neurológica que atinge as extremidades, seus dedos ficaram endurecidos por um bom tempo, tornando impossível fazer qualquer coisa com as mãos, inclusive e principalmente tocar guitarra. Mas, com um forte tratamento e à base de medicamentos, ele conseguiu voltar a tocar maravilhosamente bem.
Para finalizar, quero destacar uma das imagens mais icônicas da década de 60: a fotografia de uma velhinha passeando com um cachorro fazendo xixi em um muro pichado, com a seguinte frase: 'Clapton is God.'
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