Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Super-mundial é sintoma de um mundo que precisa sempre de uma dose a mais

Antes, um estadual era a dose exata do êxtase. Vencer o Carioca, o Gaúcho, o Baiano, o Catarinense etc era motivo de ir para a rua celebrar. Mas um dia eles não bastaram mais.

Era agora preciso ganhar o Brasileiro para ser chamado de time grande e forte e poderoso. Ganhar a Libertadores era o mais absoluto trunfo. Viajar para o Japão e jogar uma partida contra europeus significava a conquista mais desejada. Flamengo, São Paulo e Grêmio deixaram o país orgulhoso numa época em que as transmissões de TV eram granuladas.

E de repente nada disso importa mais tanto assim.

Passou a ser corriqueiro. É bom, a gente vibra, chora, se acaba de emoção. E dois dias depois tudo volta ao normal. É preciso mais. Não podemos nos contentar, não podemos estar satisfeitos. Mais, mais, mais. Sempre mais.

Nesse ritmo, surge o Super-mundial intergaláctico de clubes. Uma Copa do Universo dos clubes. Quem vencer, terá conquistado o inimaginável. O verdadeiro campeão do mundo. Esqueçam esse troço mixuruca de ir jogar no Japão ou no Qatar um torneio estranho com times árabes, mexicanos e africanos. Vamos fazer um torneio de verdade e inédito. Sim, a classe de jogadores de futebol está reclamando faz tempo do calendário insano. Não importa. Pensamos nesse torneio aqui e ele vai ter que fazer parte do ano vigente do futebol mundial.

E a FIFA, que precisava esperar a próxima Copa do Mundo para lucrar, agora enche seus cofres de forma mais rápida.

Os times brasileiros podem sim fazer bonito e vencer os todo-poderosos europeus. Não é provável, mas esta longe de ser impossível. Claro que o Super-mundial vai ser um sucesso. Nós, os amantes desse esporte, queremos ver jogos, e jogos bons.

Mas a reflexão aqui é sobre a dosagem do que precisamos tomar para aliviar o tédio de nossas existências dentro de um mundo que supervaloriza o trabalho, a produção e o consumo. Mais, mais, mais.

Um dia já fomos felizes com uma taça de Estadual. Mas dizer isso hoje em dia é mostrar o atestado de ingenuidade e de excesso de romantismo que já não cabem mais nessa sociedade da produtividade. E nem temos tempo para esse debate, na real. O trabalho chama, os boletos chegam, deixemos isso para lá.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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