Westbrook: uma carta de amor

Chegamos no meio da temporada regular da NBA e podemos afirmar com certa certeza que a NBA está mudando. Os times que nos últimos anos dominaram os primeiros lugares agora sofrem para entrar na zona de play in. Jogadores estão envelhecendo (como deve ser) e um novo mundo desponta na melhor liga de basquete do mundo.
Não é de hoje que falamos que a era James, Curry e Durant está acabando. Apesar de ainda serem jogadores clutch e longe da aposentadoria, é possível ver a luz no fim do túnel. Cruel, mas faz parte da vida do atleta.
Focamos muito em jogadores que geralmente ganham MVPs e campeonatos e esquecemos que a NBA também é feita de histórias de superação. Não tem ninguém que pode me convencer que não foi emocionante o jogo do Isiah Thomas depois de perder a irmã ou o "jogo da gripe" do Jordan. O esporte vive para esses momentos.
Dito isto, tenho a melhor história de superação e resiliência da NBA atual. Se você acompanha a liga há algum tempo, deve se lembrar da temporada triplo-duplos do Russell Westbrook.
O ano era 2016 e a NBA virou de cabeça para baixo com o que esse cara estava aprontando. Wesbrook bateu o recorde com 42 triplo-duplos na mesma temporada, e em 2021 ele passou Oscar Robertson e agora detém o recorde geral com 202. Isso mesmo: 202 triplo-duplos. Muito provavelmente, enquanto você lê esse artigo ele deve ter batido o próprio recorde.
Para quem caiu aqui de paraquedas, triplo-duplo é quando você faz mais de dois dígitos em três das cinco categorias principais de um jogo: pontos, rebotes, assistências, roubos de bola e bloqueios. Já adianto que não é fácil. Nikola Jokic está normalizando o feito, mas a gente já chega nele nos próximos parágrafos.
Fato é que Russell venceu o MVP daquele ano. O que ele fez vai para a história da liga, não tem como negar, mas eu focaria em outro aspecto do jogo dele. Durante esses triplo-duplos a gente esqueceu de ver um fato importante: O Oklahoma City Thunder, time dele na época, não era uma equipe forte, Westbrook carregou o time nas costas. Sem West, a gente nem estaria falando desse time. O que é irônico, ainda mais vendo o que o Thunder está fazendo nessa temporada. Mas, como disse, são outras épocas.
Desde essa temporada e a consagração do MVP, Russell teve a maior queda livre da carreira. Foram anos sendo trocado por franquias, entre lesões e desconfianças. Era como se as pessoas tivessem simplesmente esquecido de tudo o que ele fez. Como se num passe de mágica ele esquecesse de jogar basquete. São as dores de ser um atleta de alto nível, faz parte do processo.
Não vou me atentar aos anos de completo abandono da parte da comunidade do basquete, mas vou focar no que Westbrook está fazendo atualmente. Russell chegou no Denver Nuggets cercado de muitas dúvidas. Me lembro de como criticaram o jogador quando ele ainda era do Clippers e segurou nas costas um playoff sem Paul George e Kawhi Leonard machucados. Parece que ninguém percebeu o feito, mas eu, sim. Ali a gente já via a luta interna de não se entregar. Foi o início da subida.
Russell chegou em Denver aliviado e feliz. No fundo, ele sabia que tinha ganhado na Mega Sena da virada do basquete. Jogar com Nikola é quase isso, Jamal Murray e Aaron Gordon que o digam. Fato é que o jogo dele mudou, ou melhor, reviveu.
Westbrook entendeu que ele não precisa ficar pedindo a bola antes da linha dos 3 pontos ou tentar uma jogada sozinho, ele só precisa se movimentar na quadra. Pode parecer simplório e é, mas ele sabe que o melhor jogador de basquete na atualidade vai achá-lo. E a química está tão natural que até triplo-duplo ele voltou a fazer e junto com Nikola, para desespero dos outros times.
A verdade é que Russell tinha tudo para desistir, já tinha conquistado prêmios, teve uma temporada absurda e não precisava provar nada para ninguém, mas ele quis mais e encontrou uma equipe — ou melhor, um companheiro de equipe — disposto a encontrar o melhor dele.
Não há história melhor do que essa atualmente.
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