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Peguem a pipoca: lá vêm as feministas ciumentas e raivosas

Quando Milly Lacombe escreve sobre um assunto, costumo evitar fazer o mesmo. Não há nada que eu possa acrescentar, dizer melhor, reforçar. (Menos quando o assunto é Fernando Diniz e tantos outros relacionados ao universo do futebol. Aí discordarmos o tempo todo, com muito amor.)

Ontem, minha amiga e referência profissional cometeu um texto absurdamente genial. Potente. Necessário. Devastador. De fazer chacoalhar as paredes do útero. De gerar lágrimas, de ódio, tristeza e esperança. Então, por que estou aqui hoje, querendo abordar o mesmo tópico? Porque se não escrever, corro um sério risco de perder meu réu primário ainda nesta semana.

Em "Não subestimem a raiva acumulada das mulheres", Milly usa um episódio do podcast Rádio Novelo, no qual a escritora Vanessa Barbara relata um relacionamento abusivo e descreve uma rede misógina de broderagem das mais pérfidas, para discorrer sobre a nossa raiva. Para tratar dos privilégios dos homens que a causam.

Por favor, leiam. Especialmente, os homens. Vocês precisam. Serião mesmo. Para evitar dizer ou escrever coisas como as que tenho visto nas últimas 24 horas.

Gente (do gênero masculino) comparando o caso gravíssimo a uma novela (literalmente) e chamando as reações das mulheres envolvidas de rivalidade feminina. Nossa, como deve ser divertido consumir a nossa dor, né? Peguem suas pipocas: lá vêm as feministas ciumentas. Raivosas. Histéricas.

Quando casos como este viralizam, o barulho mesmo é feito por mulheres. Dentro das nossas redes, compartilhamos dores e traumas, oferecemos apoio e acolhimento. Dos caras? Chega silêncio ou bobagem. No máximo, um textinho bem vagabundo de desculpas com a afirmação em letras garrafais: eu não sou assim. Talvez eu tenha sido, no passado. Talvez meus amigos. Mas hoje? Euzinho? De forma alguma. Sou um aliado. Acompanho minas que falam de futebol. Visto rosa. Respeito minha namorada. Votei em uma presidenta. Me autodenomino feminista nos aplicativos de relacionamento. Tenho filha. Minha mãe me deu educação. Ouço Gal e Bethânia. Sou desconstruído.

Não, não é. Você continua nos interrompendo, dando menos visibilidade ao nosso trabalho, sobrecarregando sua companheira, objetificando a coleguinha do lado, permitindo piadas machistas e homofóbicas nos seus grupos de zap. Tento mesmo acreditar no seu potencial de melhoria.

O que testemunho diariamente, porém, são os mesmos comportamentos, disfarçados por um verniz bem fininho de discurso progressista. Homens não têm a menor ideia do que passamos. Em parte, porque não param para nos ouvir. De verdade. Porque não têm empatia, muito menos o desejo de abrir mão dos tais privilégios.

Sem dúvida, também não entenderam ainda o tanto que precisam evoluir, o tanto que representam a raiz do problema. Façam a nós um favor, então. Não custa muito, juro.

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Ouçam o podcast, leiam a sua repercussão, aprendam com a Milly, ouçam ativamente as mulheres à sua volta. Sem falar. Façam a lição de casa e melhorem. Melhorem muito. Apenas melhorem. A gente não aguenta mais.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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