Quase na Libertadores, Corinthians escreveu certo por linhas tortas?
O Timão teve dois 2024. Em um, passou vinte rodadas no Z4. Nem quando foi rebaixado, ocupou a zona da degola por tanto tempo. No outro, já conquistou oito vitórias seguidas, a maior sequência da sua história — o recorde absoluto é de nove, do Galo (2021) e do Inter (2020).
No primeiro, encarou o abismo, a possibilidade de ter apenas o estadual e a Série B, em 2025. No segundo, garantiu-se na Série A, conquistou vaga para a Copa do Brasil e pode, com uma rodada de antecedência, alcançar um improvável lugar na Libertadores do ano que vem (basta que o Cruzeiro perca hoje do Palmeiras).
O que mudou? Entre outras coisas, a dívida da instituição. Passou de 1,9 bilhão para 2,4 bilhões de reais. Ou seja, a gestão dobrou a aposta e seguiu investindo o que não tinha, na tentativa de sobreviver. Trouxe Memphis Depay, Carrillo, André Ramalho, Hugo, e continuou não pagando por atletas que já estavam na equipe.
Apesar da consolidada carreira internacional, Memphis trazia um risco. Não atuava por 90 minutos havia meses, poderia não se adaptar à realidade do futebol brasileiro, poderia se lesionar, poderia simplesmente não jogar bem. E o que aconteceu? Está cada dia melhor fisicamente, mergulhou na vida e cultura locais mais do que muita gente daqui, e não só vem entregando tudo dentro de campo, como melhorou significativamente a qualidade técnica dos colegas. Para citar apenas dois exemplos, Garro parou de precisar carregar o time nas costas e Yuri Alberto desabrochou, tornando-se o artilheiro do Brasileirão. O holandês de Itaquera tem sido contagiante e contagioso.
Classificação e jogos
E agora? O que dizer da irresponsabilíssima janela de meio de ano do Corinthians, sem falar em toda a gestão Augusto Melo? Era melhor ter contido gastos e estar lutando contra o rebaixamento? Como podia brigar com os grandes sem colocar dinheiro no elenco? Quanto teria custado cair e não estar nas copas? Não valeu a pena? Os meios não justificam os fins, quando os fins dão certo?
Neste exato momento, Melo pode até conseguir se salvar de um impeachment, agarrado em decisões judiciais e no desempenho extraordinário da equipe nas últimas rodadas. Mas se a gente tem uma certeza na vida, é que a conta chega. Às vezes, demora. Mas sempre chega. Pelo menos para os mortais.
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9 comentários
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Marcelo Lima Mennocchi
A conta chega - e muitos pagam a conta quando chega. O importante é pagar e continuar a ter crédito no mercado. Só consegue criar dívida quem tem capacidade de pagamento. Abraços
Roberto Albieri Serino
Informe-se. O Corinthians não gastou 500 M em reforços na janela do meio de ano para mudar de patamar. Os gastos não chegaram nem a 100 M. O aumento da maioria da dívida (1,9 para 2,4 Bi) foi proveniente majoritariamente dos juros de da estratosférica herdada. Houve investimento. Sim, óbvio, mas ele é responsável por pequena parte do aumento da dívida. E o principal investimento foi no início do ano, esse sim um pouco mais alto. Mas o que fez o time mudar de patamar ( a aposta) não chegou nem a 100 Mi. Aliás, foi bem menos que isso.
Humberto Pellegrini Maia
"Os meios não justificam os fins, quando os fins dão certo?" Frase muito, mas muito questionável, não? E, ao mesmo tempo, uma frase que simboliza os tempos presentes. "Tá valendo" um time competir de forma desonesta e desigual contra rivais que pagam em dia e contratam apenas quem podem pagar. Corinthians na Libertadores é um tapa na cara de quem sonha por um país mais ético. No fundo, é um sinal de isso não vai acontecer. Continuaremos com uma população corrupta e permissiva em relação aos malfeitos cometidos por ela e seus amigos e parentes. O que vale é "eu me dar bem".