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Depois da Black Friday, vem aí o Dia de Doar; saiba como participar

Arrecadação de brinquedos foi uma das ações do Dia de Doar realizada no ano passado; iniciativa acontece na próxima terça (3) - Divulgação/Dia de Doar
Arrecadação de brinquedos foi uma das ações do Dia de Doar realizada no ano passado; iniciativa acontece na próxima terça (3) Imagem: Divulgação/Dia de Doar

Antoniele Luciano

De Ecoa

30/11/2019 04h00

Na esteira da Black Friday, liquidação importada da cultura norte-americana e que inaugurou a temporada de compras natalinas na sexta-feira (29), uma outra data promete mobilizar brasileiros nos próximos dias. O mote, no entanto, deve passar longe do consumismo. No Dia de Doar, celebrado em 3 de dezembro, a meta será propagar atos de generosidade.

A ação, chamada de Giving Tuesday, a Terça da Doação, nos Estados Unidos, chegou ao Brasil em 2013, um ano depois de começar na terra do Tio Sam. Trata-se de uma mobilização criada na sequência de datas comerciais famosas no hemisfério norte, que, além da Black Friday, tem a Cyber Monday, a Segunda-feira Cibernética. A data é comemorada na primeira terça-feira após o Thanksgiving Day, o Dia de Ação de Graças.

"O movimento do Giving Tuesday começou com uma ONG de Nova York. Na época, percebeu-se que, por causa da crise econômica, as pessoas estavam doando menos. A ideia então foi estimular a cultura de doação, algo a que o mundo todo aderiu", explica João Paulo Vergueiro, diretor executivo da Associação Brasileira dos Captadores de Recursos (ABCR), entidade à frente do Dia de Doar no Brasil.

João Vergueiro, diretor executivo da ABCR, que organiza o Dia de Doar no Brasil: "Não existe regra para participar" - Divulgação/Dia de Doar  - Divulgação/Dia de Doar
João Vergueiro, diretor executivo da ABCR, que organiza o Dia de Doar no Brasil: "Não existe regra para participar"
Imagem: Divulgação/Dia de Doar
Hoje, a mobilização está presente em 190 países, a partir da metodologia "faça você mesmo". No Brasil, optou-se, na tradução, por deixar a "terça-feira" fora da nomeação oficial. Ainda assim, o modelo é bem semelhante ao norte-americano. "Assim como nos Estados Unidos, nós promovemos a ideia e cada localidade pode fazer do seu jeito. Cada um faz acontecer, seja no interior no Amazonas ou no Rio Grande do Sul", pontua Vergueiro.

Doação não precisa ser apenas material: voluntários podem doar serviços ou tempo - Divulgação/Dia de Doar - Divulgação/Dia de Doar
Doação não precisa ser apenas material: voluntários podem doar serviços ou afeto
Imagem: Divulgação/Dia de Doar
Até o final da semana, mais de 120 ações de solidariedade haviam sido enviadas por organizações, como empresas, instituições de ensino e entidades sociais, à página do Dia de Doar na internet. As iniciativas convocam a sociedade para participar de campanhas diversas, como de doação de sangue, arrecadação de dinheiro, roupas, calçados ou de visitação a abrigos e casas que acolhem idosos, crianças e adolescentes.

Em Betim, Minas Gerais, por exemplo, o Lar de Idosos Naept fará um café para mobilizar voluntários a passarem um tempo com o público assistido. Já em São Paulo, o projeto Beija Flores Solidários receberá doações de materiais escolares para crianças de abrigos da região. É possível consultar a relação de atividades cadastradas no site.

"A pessoa pode doar dinheiro, materiais ou tempo dela. Não existe regra. O importante é participar, divulgando isso nas redes sociais com a hashtag #diadedoar. Quanto mais falarmos sobre doação, mais as pessoas vão participar", observa o diretor da ABCR.

Segundo ele, no ano passado, o Dia de Doar resultou na arrecadação de R$ 1,2 milhão e impactou 22 milhões de pessoas nas mídias sociais.

Campanhas comunitárias

O advogado catarinense Inácio Tanchella Nandi, de 37 anos, optou por doar trabalho na data. Ele é morador de Tubarão, a 130 quilômetros de Florianópolis (SC). A cidade, de 106 mil habitantes, contará no dia 3 de dezembro com um evento comunitário para estimular doações junto a 18 entidades locais.

Advogado Inácio Tanchella Nandi será voluntário no Dia de Doar - Divulgação/Dia de Doar - Divulgação/Dia de Doar
Advogado Inácio Tanchella Nandi será voluntário no Dia de Doar
Imagem: Divulgação/Dia de Doar
"Vou ajudar na organização e na divulgação, até para que mais pessoas possam saber do evento e conhecer as instituições participantes", comenta Nandi, que é voluntário fixo da Associação Tubaronense de Apoio às Famílias. "Comecei dando instrução jurídica para as mães atendidas, depois instruções de informática para as crianças. O voluntariado nos permite ter uma visão diferente do mundo", define.

A ação da qual o advogado participará se chama Doa Tubarão e está sendo organizada pelo Fórum das Entidades Não-Governamentais do município. Além de tendas com as entidades na praça central, o Dia de Doar terá um concerto solidário. "A ideia é que nesse dia as pessoas possam conhecer as entidades, as causas e já fazerem a própria doação", explica a coordenadora geral do Fórum, Silvana Zardo Francisco.

Pelo menos outras 25 campanhas que buscam incentivar a doação em uma comunidade específica, de forma mais ampla, já foram cadastradas junto ao movimento Dia de Doar. É o caso da Doa Maringá, no Paraná; Doa Mogi, em São Paulo; e Dia de Doar Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.

Empresas

Entre o empresariado, o Dia de Doar deve envolver o repasse de valores arrecadados a instituições e programas sociais. A Casa Bauducco, por exemplo, atuará como posto de arrecadação: vai transferir seu tradicional Dia Fatia, até então realizado no dia 25 de cada mês, para 3 de dezembro. Cem por cento da renda obtida com a venda de fatias de panetone e chocotone será doada ao Instituto Fazendo História, de São Paulo. A organização atua com cerca de 1,2 mil crianças e adolescentes em situação de acolhimento.

Daniela Vasconcelos é coordenadora de Desenvolvimento Institucional do Instituto Fazendo História - Divulgação/Instituto Fazendo História - Divulgação/Instituto Fazendo História
Daniela Vasconcelos é coordenadora de Desenvolvimento Institucional do Instituto Fazendo História
Imagem: Divulgação/Instituto Fazendo História
Setenta e quatro lojas da Casa Bauducco em todo o país participarão da iniciativa. A estimativa é que sejam vendidas entre 10 mil e 15 mil fatias de panetone e chocotone na nova data, a um preço médio de R$ 8,90. "Vamos fazer a doação dos recursos para o programa Famílias Acolhedoras, que prepara crianças para retornar para suas famílias de origem ou ir para famílias adotivas. É uma iniciativa que faz muito sentido para os nossos valores", diz o diretor de Marketing e Logística da Casa Bauducco, Paulo Cardamone.

Cerca de 20 famílias voluntárias compõem o programa do Instituto Fazendo História. Elas recebem em suas casas crianças de 0 a 6 anos de idade, podendo ficar com elas por até um ano e meio. "São famílias que passam por seleção, treinamento de seis meses e que não podem estar na fila de adoção. Algumas já estão no quarto acolhimento", relata a coordenadora de Desenvolvimento Institucional do Instituto Fazendo História, Daniela Vasconcelos.

Outro programa do Instituto Fazendo História que deve ser beneficiado pelo Dia de Doar é o Apadrinhamento Financeiro de Jovens, em que os padrinhos financiam bolsas mensais para jovens atendidos pela organização, nos valores de R$ 60, R$ 120 e R$ 240, ao longo de um ano. "Os valores mudam de acordo com a idade deles, começando com R$ 60, a partir dos 16 anos. Tudo que é gasto é justificado, do transporte a cursos que eles possam fazer", explica Daniela.

O que doar

A participação no Dia de Doar pode ser feita de várias maneiras. Veja algumas sugestões da organização:

  • Promover uma campanha de arrecadação na internet e reverter os valores para uma ONG;
  • Organizar um aniversário solidário, com presentes sendo trocados por doações, como alimentos, para uma entidade de sua cidade;
  • Oferecer-se para ser voluntário em instituições sociais, ensinando algo, prestando algum serviço ou visitando o público atendido;
  • Procurar um hemocentro para fazer uma doação de sangue;
  • Reunir roupas e calçados em bom estado e repassá-los para entidades que promovam "bazares do bem".


Plataformas que conectam

Quem deseja fazer alguma doação neste 3 de dezembro também pode contar com a ajuda de algumas plataformas que conectam doares a instituições. A Benfeitoria e a Doa Brasil, por exemplo, reúnem projetos de todo o país que precisam arrecadar recursos financeiros para saírem do papel ou seguirem adiante.

Já a Atados conecta pessoas que querem doar tempo como voluntárias em causas de seu interesse. É possível encontrar no site não só ONGs, mas também vagas de voluntariado por estado.

Há ainda a Quero na Escola, que conecta voluntários a pedidos de estudantes da rede pública com demandas que vão além do currículo escolar obrigatório. É o caso de cursos de fotografia, palestras na área de psicologia e oficinas de defesa pessoal, por exemplo. A ONG faz a ponte entre o voluntário e a escola.