Topo

Mari Rodrigues

O que aprendi num período com mobilidade reduzida

Mari Rodrigues

10/10/2020 04h00

Depois de quase um mês me recuperando de uma cirurgia no tornozelo, esta semana finalmente consegui andar com os dois pés no chão. Ainda me dói um pouco, mas logo isso passa. E preciso externar alguns pensamentos que me vieram neste período.

Pessoas que foram amigas de verdade e me ajudaram a fazer coisas básicas, ainda mais neste período complicado de pandemia em que vivemos, nunca as esquecerei. Já falei em outros textos sobre a importância de manter uma rede de apoio e sobre a importância de manter os laços de amizade, e essas reflexões se tornaram extremamente válidas nesse período de convalescença. Foram para além da retórica.

É extremamente difícil depender de outrem para tudo. Especialmente quando se é muito independente, pedir ajuda parece um pesadelo, mas os apoios que recebi mostram que sou uma privilegiada por ter tido essa ajuda quando mais precisei.

Devo também externar que pude perceber, da forma mais dolorosa possível, o quanto a cidade de São Paulo não está preparada para as pessoas com mobilidade reduzida. Seja no meu caso, andando temporariamente de muletas, ou no caso de pessoas que precisam usar cadeira de rodas, tudo é bastante complicado. Calçadas irregulares, efeito de nosso relevo muito acidentado e da falta de planejamento urbano que englobe as pessoas com mobilidade reduzida, tornam a vida mais difícil para quem tem esses comprometimentos.

Lembro-me de um colega de trabalho, cadeirante, que fazia longo trajeto no transporte público, de sua casa nos confins do Distrito Federal até o centro de Brasília. Fico imaginando a força de vontade de superar tantos obstáculos de percurso.

E isso me faz refletir sobre o direito à cidade, se ele é universal. Me parece que não. Fica a dica para o colega Rodrigo Hübner Mendes, que posta aqui em ECOA e tem muito mais propriedade que eu para falar sobre o tema, trazer uma reflexão mais próxima sobre isso.