As baleias nos perdoaram: gigantes do mar se exibem no México

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Há um único lugar no mundo onde as baleias parecem vir para "observar humanos" e, de fato, apreciar as interações que ocorrem há décadas: em Baja California Sur, no México.
Gigantes amigáveis, as baleias-cinzentas que se aproximam de pequenos barcos — da metade do seu tamanho — e nos olham nos olhos (olhos do tamanho de uma bola de tênis) já seriam motivo para uma história incrível. Mas essas baleias nos ensinaram muito mais do que isso.
No início do século passado, as baleias-cinzentas da região foram caçadas até quase serem extintas. As águas rasas e calmas da baía, que hoje proporcionam experiências inesquecíveis para turistas de todas as partes do mundo, já foram palco das condições ideais para a caça indiscriminada desses mamíferos.
Eram tempos em que o mundo dependia do óleo de baleia — época que, por bons motivos, inspirou histórias como Moby Dick, já que esses animais tendem a ficar agressivos quando lutam por suas vidas.

A caça na região só cessou com a moratória internacional e, até então, as baleias não eram nada amigáveis. Afinal, estamos falando de animais altamente inteligentes, capazes de transmitir conhecimento entre gerações.
Mesmo após o fim da caça, os pescadores locais as temiam. Foi apenas em 1972 que tudo começou a mudar: Pachico (Francisco) Mayoral, durante mais um dia de pesca, viu uma baleia-cinzenta emergir ao lado de seu barco e permanecer ali, imóvel. Movido pela curiosidade e pela coragem, Pachico colocou a mão na água. Para sua surpresa, a baleia se esfregou em sua mão e ficou ali.
A história de pescador começou a se espalhar entre humanos e baleias. Logo, outras pessoas tiveram experiências similares com outros animais na região.
O governo mexicano não demorou a agir e criou uma unidade de conservação, a Reserva San Ignacio. Na década de 1990, a área passou a receber grupos de turismo e foi declarada Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco.
A população de baleias-cinzentas se recuperou e, em 1994, saiu da lista de espécies ameaçadas.
Hoje, é possível testemunhar mães aproximando seus filhotes recém-nascidos dos barcos, exibindo-os orgulhosamente e ensinando-os a interagir com humanos. Para quem vive essa experiência, não restam dúvidas: as baleias nos perdoaram.
Até os cientistas mais céticos reconhecem que há algo único nessa interação. E não faltam exemplos de visitantes que se mobilizaram pela conservação após visitar o local.

Pachico, o pescador que viveu a primeira interação, tornou-se referência no ativismo ambiental. Nos anos 2000, ele desempenhou um papel fundamental em impedir a instalação de uma mina de sal na região. Ele morreu em 2013, mas sua família permanece na comunidade, gerindo os passeios de forma controlada e respeitosa.
Nos últimos anos, no entanto, a crise climática trouxe novas ameaças à população de baleias-cinzentas: a sobrepesca e o aquecimento das águas têm afetado os cardumes que servem de alimento, levando muitas baleias à fome. Além disso, doenças ainda pouco compreendidas têm causado a morte de animais que poderiam viver mais de 60 anos.
Não sei o que as baleias veem em nós. Nós, que somos ensinados desde pequenos a nunca confiar em estranhos, recebemos, sem mais nem menos, a confiança de gigantes marinhos. As baleias nos perdoaram. O que faremos com esse perdão?
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