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Mudança do Garcia: o bloco do contra que não poupa ninguém

Aurelio Nunes

Colaboração para o UOL, em Salvador

24/02/2020 14h19

Quem será o grande "homenageado" pela Mudança do Garcia no Carnaval deste ano? A pergunta que não que agita o meio político baiano às vésperas da apresentação do tradicional bloco criado em 1926 foi respondida na tarde desta segunda-feira, quando os foliões tomaram de assalto as ruas do Circuito Riachão, o sambista que é patrono do bloco.

Se ano passado o presidente Jair Bolsonaro foi disparado o mais alvejado pelas críticas irreverentes dos foliões, desta vez ele dividiu o trono com o governador Rui Costa e o prefeito ACM Neto. Ou seja, em 2020, o Garcia não poupou os chefes do executivo de nenhuma das esferas, seja a federal, a estadual ou a municipal.

Primeiro veio a ala dos professores universitários, descontentes com o presidente da República e seus ministros, especialmente os da Educação, Abraham Weintraub, e da Economia, Paulo Guedes, a quem os professores não perdoou por ter chamado servidores públicos de parasitas.

"Pior que o Coronavírus é o parasita Guedes", replicava um dos cartazes. "Eu acredito na Educação, o Bozo não", disparava outra.

Na sequência vieram os representantes do sindicato dos vigilantes, para quem o "governador elege vigilantes como inimigos". Logo atrás estavam os professores das escolas municipais reclamando de falta de estrutura nas escolas e salário defasado dos profissionais de ensino.

Cada ala traz sua própria charanga, e embora o repertório seja diversificado, o ritmo predominante é o samba, e o pagode, o que faz do Mudança do Garcia uma dessas raras manifestações populares de fora do Circuito do Samba que incorporam instrumentos como pandeiros e cavaquinhos em suas apresentações. Incorporado ao bloco pela primeira vez em protesto contra o fato de não ter sido contemplado no edital público de seleção de atrações do Circuito batatinha, no Pelourinho, o Afoxé Corimagô foi além e trouxe para agogôs feitos de garrafas pets e uma cuíca gigante feita de papel.

"Tudo aqui é feito de material reciclado", disse o lutiê Mestre Ulisses, líder da banda.

Na verdade, a Mudança do Garcia é um bloco em que cabe todo tipo de protesto, mas não é meramente isso. Alheio a todas essas reivindicações, o gari Cláudio Augusto de Jesus puxava o abre alas do bloco, comandado pela banda de pagode Deixe a Vida de Kelé, distribuindo água, cerveja e um enorme orgulho de fazer parte do grupo.

"Tenho 50 anos de vida e de Carnaval. Desde que me entendo por gente desfilo na Mudança. Troquei meu plantão para ontem só pra estar aqui hoje", contou.

Ele sabe que no cortejo entre o Garcia e o Circuito Campo Grande, ponto alto da apresentação, outras manifestações coletivas e individuais vão engrossando o cordão do bloco. Mas que no final das contas, quem faz do Mudança resistir ao tempo são os moradores do Garcia.

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