Elânia Francisca

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Opinião

'Nunca mais vou amar de novo': adolescentes e a primeira decepção amorosa

Já conversamos aqui sobre afetividades de adolescentes e como acolher o primeiro namoro. Também já falamos sobre como construir combinados em casa para que o ato de namorar seja saudável e protegido.

Agora proponho a você, pessoa adulta, uma reflexão sobre algo que, muito provavelmente, acontecerá com adolescentes: o fim de um namoro.

Como acolher e lidar com adolescentes que acabaram de terminar um namoro?

Andei perguntando para algumas pessoas adultas que são mães, pais ou trabalham diretamente com jovens como lidam com adolescentes que terminaram um namoro. Muitas dessas pessoas me responderam algo como:

Pai de adolescente de 16 anos: "Ah, eu não converso muito sobre isso, meu filho é meio 'fechadão' e não me conta essas coisas".

Educadora: "Aqui no Saica (Serviço de Acolhimento Institucional de Crianças e Adolescentes) eles vivem começando e terminando namoro, então às vezes a 'fossa' dura pouco, às vezes a gente tenta perguntar como se sentem, mas eles são muito reservados quanto a isso".

Mãe de adolescente de 16 anos: "Minha filha terminou o namoro com um menino tão legal, acho que eu senti mais o rompimento do que ela".

Mãe de adolescente de 17 anos: "Elas vivem indo e vindo, então quando terminam eu só digo 'daqui a pouco vocês voltam'".

Todas essas respostas me chamaram a atenção pelo fato de as pessoas com quem eu conversei não terem associado o fim de relacionamento com um momento de fragilidade emocional.

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Perguntei se recordavam como se sentiram com o fim do primeiro namoro, daí as respostas tinham outro tom:

Educadora: "Nossa, menina. Foi difícil, eu não queria falar com ninguém, ver ninguém".

Mãe de adolescente de 16 anos: "Eu só chorava escondida, minha mãe não sabia que eu namorava, então eu precisava chorar escondida".

Pai de adolescente de 16 anos: "Eu não chorava, não, mas eu fui ficando bravo. Brigava muito em casa e na escola, ficava irritado".

Quando perguntei como cada pessoa lidou com isso, as respostas foram a mesma:

"O tempo..."

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A gente sabe que curar a dor de amor é uma questão de tempo, mas também de movimento. Deixar o tempo passar e se movimentar para conhecer novas pessoas e viver novas experiências.

Adolescentes, quando findam uma relação, seja por escolha própria ou da(s) outra(s) pessoa(s) com quem se relacionavam, precisam aprender a lidar com aquele rompimento, e nós, pessoas adultas, precisamos mostrar que estamos ali caso queiram conversar ou até mesmo ficar em silêncio junto. Podemos enfatizar que essa dor vai passar, mas que enquanto ela não passa, estaremos ali se precisarem.

Obviamente, muitas pessoas na adolescência não vão querer se abrir para nós e a gente precisa acolher isso também, inclusive esse é um ótimo momento para sugerirmos a psicoterapia, caso adolescentes desejem iniciar esse percurso.

Apaixonar-se é uma nova experiência para adolescentes e isso quer dizer que tudo que envolve esse sentimento também será novidade: afeto correspondido é novo, não correspondido também, inicio e fim de namoro, conhecimento de outras formas de viver afetos para além do namoro.

Tudo é novo e por isso precisamos nos colocar à disposição para estar por perto, para que adolescentes saibam que lidar com o coração partido também pode ser saudável. Precisamos nos fazer presentes para que a dor do rompimento seja suportável e que seja fortalecedor caminhar até um novo amor chegar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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