A ciranda de Lia de Itamaracá: 'Eu desejava estar no Rock in Rio'
Patrimônio vivo do Estado do Pernambuco, Lia de Itamaracá parece estar em todos os lugares. Aos 81 anos, a rainha da ciranda segue firme em uma agenda concorridíssima, espalhando sua música e história pelos mais diferentes palcos no Brasil e Exterior.
"Eu comecei a me interessar pela música com 12 anos de idade. Com 19 anos para 20, assumi a responsabilidade de cantar", contou, em entrevista ao TOCA, antes da apresentação que a cantora fez com as Pastoras do Rosário, na Casa Natura, no final do ano passado.
Mas, para seguir carreira, precisou buscar inspiração fora do berço que era a Ilha da Itamaracá, tombada como patrimônio histórico de Pernambuco. "Eu ia ver ciranda no Pátio de São Pedro. São Pedro era o foco da ciranda", explica, referindo-se à tradicional igreja de Recife. "Eu ia para lá pra ver como era o andamento dos mestres, porque tem muito mestre lá, né? Eu ia pra ver como era o andamento deles. Aí eu disse: vou entrar por aqui."
Durante os anos 1960 e 1970, Lia organizou e frequentou rodas de ciranda na Ilha e na capital pernambucana. O primeiro disco veio em 1977, "Rainha da Ciranda", que ajudou a popularizar ainda mais a ciranda e coloca a cantora como nome forte do gênero, mas sem proporcionar nenhum retorno financeiro.
Lia só foi ganhar o devido destaque e reverência mais de duas décadas depois, quando é redescoberta no Festival Abril Pro Rock de 1998. A partir do final da década de 1990 e começo dos anos 2000, ela participa de festivais no Brasil e no Exterior, grava um novo trabalho ("Eu Sou Lia") e é chamada para fazer parcerias com uma nova geração de artistas, como o rapper Rincon Sapiência e a banda Nação Zumbi.

Esse caráter gregário, próprio da ciranda, é constante tanto na obra quanto na vida de Lia.
"Não, minha ciranda não é minha, é de todos nós. Essas pastoras, para mim, são meu sangue. Eu tenho essas pastoras como minha família", diz, referindo-se às Pastoras do Rosário, grupo vocal que convidou Lia para o lançamento de seu disco "Da Nebulosa ao Brilho", no final do ano passado.
O ano que passou, aliás, foi movimentadíssimo para Lia. A cirandeira foi tema de duas escolas de samba (a paulista Nenê da Vila Matilde e a carioca Império da Tijuca), rodou pelo Montreux Jazz Festival em Miami, ganhou o Prêmio da Música Brasileira na categoria Lançamento Regional, virou secretária de Turismo da Ilha de Itamaracá e? tocou no Rock in Rio.
Ousado? Não para Lia.
"Tudo que eu queria era entrar no Rock in Rio. Eu tinha esse desejo. Ôxe! Mas, menino, entrei e entrei bonitinha", diz, gargalhando.
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