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Review: Assassin's Creed recria histórico Cerco de Paris como drama viking

Bruno Izidro

Do START, em São Paulo

19/08/2021 04h00

O Cerco de Paris, segunda grande expansão de Assassin's Creed Valhalla, traz um dos melhores aspectos da série da Ubisoft: a possibilidade de experienciar um evento histórico na forma de um videogame.

Foi assim com a Renascença (AC II), Revolução Francesa (AC Unity), Guerra do Peloponeso (AC Odyssey) e outros períodos. Os jogos não chegavam a ser material didático escolar, e o papel da história era mais de um palco para construir narrativas fictícias, no mínimo, interessantes: e é o que acontece também nesse novo conteúdo.

O outro lado da história

O real cerco de Paris aconteceu entre os anos 885 e 886 d.C, quando centenas de vikings tentaram invadir e pilhar a cidade.

O principal registro histórico desse evento está no poema Bella Parisiacae urbis, escrito pelo monge Abão, o curvo, e que dava o olhar dos parisienses ao conflito.

Já a expansão de Assassin's Creed Valhalla mostra o outro lado, a visão dos invasores. Afinal é no papel de Eivor que vamos para a Frância, em auxílio do líder do cerco viking, Sigfred - a primeira das muitas figuras históricas reais presentes.

Além dele, encontramos gente como Eudo, Conde de Paris, a rainha Ricarda e, claro, o rei Carlos III, mais conhecido como Carlos, o Gordo.

Figuras históricas em Assassin's Creed Valhalla - Reprodução/START - Reprodução/START
Eudo, conde de Paris (centro) ao lado de Goslino, o padre guerreiro que é outra figura histórica no jogo
Imagem: Reprodução/START

Tanta gente que existiu de verdade assim em um videogame faz com que a expansão tenha um foco mais do que justificável na narrativa, que também é um dos pontos altos, por explorar essas figuras históricas.

As estrelas aqui são, sem dúvidas, Carlos e Sigfred. Os líderes rivais ganham uma complexidade maior do que se espera.

Carlos apresenta uma dupla personalidade que o faz ter sua própria guerra particular. Em muitos dos diálogos, percebemos o tormento dele com um "diabo interior" que toma controle, chegando a mostrar traços de loucura.

rei Carlos III, da França, representado no game Assassin's Creed Valhalla - Reprodução/START - Reprodução/START
Eivor e o rei Carlos III
Imagem: Reprodução/START

Mesmo que o rei seja pintado como o grande vilão pelo jogo, ainda há certa empatia e até entendimento das motivações dele, o que é muito importante para uma das escolhas finais da expansão.

Já em Sigfred, vemos o líder de um clã se perdendo cada vez mais na vingança cega pelos francos, por eles terem matado o irmão e principal conselheiro.

É o típico personagem trágico em plena queda.

Viking Sigfred em Assassin's Creed - Reprodução/START - Reprodução/START
Não é Halfdan não, esse é Sigfred, viking que liderou os viking no Cerco de Paris
Imagem: Reprodução/START

Historicamente, Sigfred não ficou até o final do cerco, mas no jogo, como ele sai de cena ganha uma importância e decisão bem maiores para a narrativa e, principalmente, para o tipo de Eivor que os jogadores estão interpretando.

Afinal, não vamos esquecer que Valhalla é muito mais RPG do que qualquer Assassin's Creed jamais foi.

Por vermos essas pessoas importantes dos livros de história sendo reinterpretados assim, a narrativa ganha um peso maior, e foi mais do que o suficiente para me prender nas cercas dez horas que a expansão possui.

Mudando a história

Uma coisa, porém, é preciso deixar bem clara: O Cerco de Paris não é uma recriação historicamente exata, e há muitas, digamos, liberdades artísticas.

Algumas para dar mais dramaticidade à narrativa, e outras para facilitar o gameplay.

Assassin's Creed Valhalla O Cerco de Paris - Reprodução/START - Reprodução/START
Vikings invadindo Paris
Imagem: Reprodução/START

Por exemplo, o ápice da aventura é a missão de invadir Paris e batalhar dentro da cidade (com frame rate sofrível, mesmo no PS5), algo que não aconteceu de verdade, porque os vikings nunca conseguiram quebrar as defesas parisienses.

Porém, um game sem esse tipo de ação iria ser, no mínimo, chato. Por isso, essas deslizadas históricas são muitos bem desculpadas.

Sua Paris está cheia de ratos

Em 885 d.C Paris não era maior do que uma ilha no meio do rio Sena. Literalmente. A cidade é bem diferente do que a gente viu em Asasssin's Creed Unity.

Paris no game Assassin's Creed Valhalla - Reprodução/START - Reprodução/START
Paris em Assassin's Creed Valhalla
Imagem: Reprodução/START

Os limites da cidade iam pouco mais do que a chamada Île de la Citê (Ilha da cidade), e parte da "magia" de games como esse está justamente na imersão em visitar uma recriação assim.

Mesmo que ainda não tivesse sua Torre Eiffel, Paris já tinha outro patrimônio bem ilustre: ratos, e são eles uma das novidades no gameplay da expansão.

Asasssin's Creed Valhalla - Divulgação/Ubisoft - Divulgação/Ubisoft
Ratos viraram mecânica de jogo na expansão
Imagem: Divulgação/Ubisoft

Os ratos são imortais em O Cerco de Paris. Não adianta tacar fogo, flechas ou dar golpes de espada. Nada mata as criaturas. Então, a solução é atraí-los para atacar os inimigos.

Porém, o destaque fica para a nova habilidade de arco de Eivor, que atira uma isca no chão para brotar uma ninhada, o que serve tanto para missões stealth quanto no meio da batalha.

Só é uma pena que a expansão ainda caia em muitos clichês e problemas de estrutura de Assassin's Creed.

Paris pode até ser pequena, mas o mapa da expansão é forçado a ser aberto, com as regiões em volta para explorar, mas de forma bem pouco criativa.

Mapa da expansão O Cerco de Paris do game Assassin's Creed Valhalla - Reprodução/START - Reprodução/START
Mapa da expansão O Cerco de Paris
Imagem: Reprodução/START

Muitas das atividades acabam se limitando há algumas missões paralelas repetitivas e sem graça. Por isso, o melhor fica mesmo para as missões principais, que trazem de volta uma abordagem mais aberta em como matar os alvos de Eivor:

  • Eu entro na igreja pelo portão da frente, usando a senha que encontrei explorando Paris?
  • Ou me infiltro pela porta de trás, que abre com a chave que tirei dos ladrões depois que segui outra pista?

O resultado vai ser o mesmo, mas essas possibilidades a mais deixa a brincadeira bem mais divertida, inclusive com assassinatos especiais.

Por falar em alvos, aí vem mais um clichê da série: membros de uma sociedade secreta. A de vez se chama Bellatores, um grupo radical da igreja.

Só que eles servem meramente como objetivos para Eivor ter o que matar nas missões principais, e impacto quase nulo na história.

Ou seja, além de clichê, é um que acaba sendo mal utilizado.

Assassin's Creed Valhalla - O Cerco de Paris

Muito do que faz O Cerco de Paris uma expansão realmente interessante está no fato dela se basear em fatos históricos. Experienciar esses eventos (mesmo que distorcidas) e interagir com figuras reais trazem um peso bem mais excitante e divertido para a aventura.

Tire essa camada, porém, e o que temos é uma expansão que não acrescenta tanto assim ao game no geral, e funciona como só mais uma história no rodapé da saga de Eivor.

Assassin's Creed Valhalla O Cerco de Paris - Divulgação/Ubisoft - Divulgação/Ubisoft
Imagem: Divulgação/Ubisoft

Lançamentos: 12/08/2021
Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X e S e PC
Preço: R$ 99,99 (PC) e R$ 109 (consoles)
Classificação Indicativa: 18 anos (Violência extrema, conteúdo sexual e drogas)
Português: Sim (legendas e dublagem)
Desenvolvimento: Ubisoft Singapura
Publicação: Ubisoft
OBS: É necessário o jogo base para executar a expansão

*Um código para a expansão foi enviado pela Ubisoft ao START
** O PS5 usado para jogar foi enviado pela Sony ao START

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