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'Mãezinha': leia trecho inédito do romance vencedor do Prêmio Caminhos

Grávida, uma cirurgiã entra num delicado trabalho de parto prematuro. Acompanhando o drama da mulher e de seu filho, ambos em risco, o leitor se aproxima dos medos, aflições e esperanças de quem passa por um momento tão delicado.

Dessa forma que o romance "Mãezinha" (nome provisório) é apresentado. Inédito, o livro acaba de vencer o novato Prêmio Caminhos de Literatura. Quem assina a obra é Izabella Cristo, médica paraense que vive em São Paulo. O livro chegará aos leitores no primeiro trimestre de 2025, com edição da Dublinense e tiragem inicial de 2.000 exemplares.

É bom ver nascer mais uma premiação focada em novos escritores e que tem o anonimato da autoria como um de seus pilares. Nenhum dos jurados sabia de quem eram os 342 romances avaliados em dois momentos distintos.

Os livros inscritos primeiro passaram por subcomissões formadas por Ana Lima Cecilio, Bethânia Pires Amaro, Caê Guimarães, Carlos Eduardo Pereira, Jéssica Balbino, Marcos Peres e Márwio Câmara. Depois dessa avaliação inicial, 20 títulos foram selecionados para que a comissão final, formada por Micheliny Verunschk e Marcelo Moutinho, decidissem para quem iria o prêmio.

Como escrevi em outra ocasião, olhar para quem julga é fundamental para compreender um pouco melhor por que certos livros, não outros, ficam com a honraria. Vale para o Caminhos, vale para qualquer premiação literária.

Saber quem está por trás do prêmio também é importante. O Caminhos foi criado pelo escritor e produtor cultural Henrique Rodrigues, nome central do Prêmio Sesc de Literatura até o começo do ano.

Não por acaso, o novo reconhecimento tem estrutura bem semelhante ao prêmio mais antigo, hoje com a credibilidade abalada após o imbróglio provocado por gente que se espantou com uma leitura do romance "Outono de Carne Estranha", de Airton Souza.

Além da publicação de seu livro e de R$ 5.000 de adiantamento, a vencedora do Caminhos receberá mentoria sobre a carreira na escrita e o mercado literário. Para a edição do ano que vem, Henrique estuda ampliar a premiação para também contemplar livros de contos.

Leia um trechinho de "Mãezinha", de Izabella Cristo, disponibilizado com exclusividade para a Página Cinco:

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Você atravessa a porta automática da maternidade na madrugada fria de inverno. Passa da meia noite. É uma sexta-feira 13.

Entra sozinha, em teoria, porque é seu corpo gravídico que se move, mas, tecnicamente, não está só, você não é mais um ser único.

Você é um útero. Um combo. Carrega dentro uma outra pessoa
ou seria quase-pessoa?
de 33 semanas de vida.
ou seria de quase-vida?

O feto está inteiro, mas a bolsa está rota.

Bolsa rota, você sabe.

Veio sentindo o resto de líquido amniótico escorrendo pela vagina a cada sacudida no banco do carro enquanto dirigia. Bem diferente de quando a bolsa rompeu e você nem notou estourando, afinal, você estava muito ocupada, trabalhando.

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Agora, o que vaza entre suas pernas não é só o esperado líquido cor de urina. Sai sangue. Bastante sangue.

Suas hemácias escorrem da placenta, seu abdômen está contraído. Nem é preciso ser médica para diagnosticar o percurso anormal da sua gravidez. As grandes tragédias são sempre veladas da cor vermelho rutilo.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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