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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Crítica a jogadoras trans, Tandara ajudou Osasco a contratar Tiffany

Tandara, do Osasco, em ação pela seleção brasileira durante os Jogos Olímpicos de Tóquio - Angela Weiss/AFP
Tandara, do Osasco, em ação pela seleção brasileira durante os Jogos Olímpicos de Tóquio Imagem: Angela Weiss/AFP

15/10/2021 15h36

Apesar de manter a opinião pessoal de que uma mulher transexual não deveria ser autorizada a participar de competições de vôlei feminino, a oposta Tandara atuou pessoalmente para ajudar o Osasco a contratar a ponteira Tiffany para a atual temporada. A retomada da polêmica movimenta o clube exatamente no dia do primeiro jogo da final do Campeonato Paulista, hoje (15), quando a equipe recebe o Barueri.

Tandara já havia expressado sua opinião contrária à permissão para Tiffany jogar em um time feminino no primeiro confronto entre as duas, em fevereiro de 2018. "Eu respeito a história dela, para a sociedade é muito importante, dar a cara para bater, é uma pessoa que eu respeito muito. É um assunto delicado. Eu estava segurando para falar sobre isso porque estava esperando nosso confronto. Estudei, falei com muita gente sobre o assunto, tive um respaldo, e eu não concordo com ela jogar no vôlei feminino", afirmou, na ocasião.

Naquela época, Tiffany havia acabado de bater o recorde de mais pontos em um mesmo jogo de Superliga, que até então pertencia a Tandara. A fala de jogadora do Osasco chegou a ser usada para justificar um projeto de lei, no estado de São Paulo, que visa proibir mulheres trans em qualquer esporte.

Há pouco mais de um ano, Tandara se posicionou contra o projeto, mas manteve a opinião que havia expressado em 2018 e que repetiu agora. "Não sou eu, nem o deputado que está tentando aprovar esse projeto que vai decidir isso. Não é assim que as coisas funcionam. Mas a minha opinião não mudou. São várias jogadoras que atuam na mesma posição dela e que podem estar disputando uma vaga em um clube. Isso precisa ser estudado profundamente", afirmou à Agência Brasil, em agosto de 2020.

Apesar das opiniões divergentes, Tandara e Tiffany têm ótima relação fora da quadra, a ponto de o técnico Luizomar Moura, que é também o gestor do time de Osasco, ter pedido à ponteira para que convencesse a ex-jogadora do Sesi/Bauru a fechar com a equipe, em transferência anunciada no dia do Orgulho LGBTQIA+, 28 de junho. A transação foi a mais relevante entre clubes brasileiros na temporada.

A própria Tandara contou isso em entrevista ao podcast Oz Pod. "Eu fui uma das principais pessoas a ligar para ela e falar: 'Vem jogar comigo. Vamos jogar junto. Vai ser bacana. Vamos ter essa experiência'. Tanto que ela até brinca: 'Tem a pitbull, e eu sou a rottweiler'", contou Tandara, chamada de pitbull pela torcida do Osasco.

A jogadora não tem treinado com o elenco porque está suspensa provisoriamente por doping desde agosto. Por causa do gancho, Tandara não pode participar de atividades do clube e treina por conta, em academias, ainda que frequente o ginásio do Osasco como torcedora.

Tandara alega que consumiu involuntariamente a substância proibida ostarina, e o caso ainda está na fase de instrução na Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD). A jogadora ainda não foi denunciada ao Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD-AD), e por isso não há data para um eventual julgamento. Caso consiga voltar às quadras durante a Superliga, será utilizada pelo Osasco, com quem tem contrato. Por enquanto, suspensa, está sem receber.