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Federações negam apoiar destruição de piscina e estádio do Ibirapuera

Complexo Esportivo do Ibirapuera - Gabriel Cabral/Folhapress
Complexo Esportivo do Ibirapuera Imagem: Gabriel Cabral/Folhapress

08/12/2020 04h00

O governo de São Paulo tem usado uma carta assinada por federações paulistas de diversas modalidades como um endosso ao projeto de concessão do Complexo do Ibirapuera à iniciativa privada que prevê a destruição do conjunto aquático com piscina olímpica e tanque de saltos e do estádio Ícaro de Castro Mello. Entidades que assinaram aquela carta, porém, negam que defendam o projeto como ele é. Uma delas, a de futsal, retirou sua assinatura.

A carta, como contou o Olhar Olímpico, foi escrita pela Secretaria de Esporte na semana retrasada e apresentada pronta às federações em uma videoconferência em que o secretário Aildo Rodrigues (Republicanos) defendeu a importância de se substituir o velho ginásio do Ibirapuera por uma arena moderna. A reunião aconteceu na quinta, dia 26, e a carta seria apresentada na reunião do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), realizada na segunda-feira seguinte, dia 30, e que discutiria a abertura de um processo de tombamento.

Como antecipado pelo blog, a carta foi apresentada pelo governo como um aval, do meio esportivo, para a concessão, afirmando, em síntese, que apenas reformas não atenderiam as necessidades do esporte. As federações dos esportes aquáticos (FAP) e de atletismo (FPA) não assinaram. A primeira sequer participou da reunião, por discordar da proposta de destruir o principal parque aquático do Estado, enquanto a de atletismo demonstrou no encontro ser contrária, assim como a de ginástica.

Isso não foi dito na reunião do Condephaat, onde a carta foi utilizada na estratégia do governo de evitar a abertura de um processo de tombamento e, depois, passou a ser utilizada pelo governador João Doria (PSDB) como estratégia para defender a concessão no modelo apresentado pelo governo. Em uma postagem no Instagram, ele comparou o complexo "como é hoje" e como ficaria "após a concessão" e incluiu, na primeira coluna, uma "estrutura defasada reconhecida por diversas federações esportivas".

Não há discussão sobre a estrutura do complexo, como um todo, ser defasada. Mas as federações dos principais esportes olímpicos não concordam com um projeto que deixe o estado sem um estádio de atletismo e um conjunto aquático adequadas para competições internacionais. A federação aquática enviou ofício a Doria, junto com a confederação brasileira, solicitando ou a reforma das piscinas do Ibirapuera ou a construção de estrutura semelhante em outro local. A confederação de atletismo fez o mesmo, enquanto que a Federação Paulista de Atletismo é mais radical: não aceita perder seu mais emblemático estádio.

Entidades que assinam carta não defendem concessão

Boa parte das federações que assinaram a carta escrita pelo estado não são olímpicas — Muay Thai, Karatê Interestilos, Karatê Kyokushin Oyama, Futebol Society e Futsal entre outras —, ou não têm relação com o Ibirapuera, como as de triatlo e ciclismo. Mas entre as signatárias estão as federações estaduais de basquete, handebol, vôlei, tênis e judô.

Depois do início da polêmica, as federações paulistas de handebol e basquete soltaram nota dizendo que defendem, sim, a construção de uma arena multiuso que atraia grandes eventos de basquete e handebol. Mas que defendem também que atletismo e natação também sejam contemplados com estruturas de primeiro nível.

"Não somos contra qualquer tipo de concessão a iniciativa privada, desde que respeitados os costumes, as tradições que se estabeleceram nesses 63 anos de existência", escrevem Paulo Moratore, da federação de handebol, e Enyo Correia, do basquete, dizendo ser importante que o estado exija no edital "no mínimo as mesmas características que hoje compõe o complexo".

Eles citam: "um ginásio que consiga abranger todas as modalidades desportivas seja coletivo ou individual, obedecidas as dimensões oficiais determinadas pelos organismos internacionais, as coletividades artísticas para realização de grandes eventos, e que traga segurança, mobilidade, facilidade, e conforto ao público, assim como o complexo aquático, a pista de atletismo, mesmo que ainda não seja no mesmo local, mas que o Governo tenha o compromisso de atender em caráter de excelência as modalidades lá existentes".

A Confederação Brasileira de Esgrima fala na mesma linha. "Se, de fato, a concessão desse espaço esportivo for irreversível, que ao menos haja por parte do governo paulista uma compensação, no mínimo, igual a perda. Nesse sentido, a Confederação Brasileira de Esgrima está ombreada àqueles que se mobilizam para que a concessão do Complexo do Ibirapuera, e, caso inevitável, não redunde em penalização ao segmento esportivo, mas, diverso disso, que seja uma oportunidade para que os esportes ganhem novos espaços públicos mais modernos e para todos", afirmou, em nota, o presidente Ricardo Machado.

Procurado pelo Olhar Olímpico, a Secretaria de Esporte emitiu o seguinte comunicado: "A Secretaria de Esportes do Estado de São Paulo esclarece que está sempre à disposição e em diálogo constante com todas as instituições esportivas. Sobre a citada carta, cabe salientar que o documento foi elaborado em conjunto com as federações, sendo que apenas uma solicitou retirada de assinatura oficialmente, no que foi prontamente atendida".