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Defesa de lutador condenado à morte no Irã une Trump, ONU e Atletas

O lutador Navid Afkari foi condenado a morte por protestar contra o governo iraniano - Reprodução/Instagram
O lutador Navid Afkari foi condenado a morte por protestar contra o governo iraniano Imagem: Reprodução/Instagram

10/09/2020 04h00

A pressão internacional para que o Irã desista de executar o lutador de wrestling Navid Afkari, que teria sido torturado para confessar um crime que não cometeu, uniu figuras políticas que recentemente têm se oposto. Saíram em defesa de Afkari, apelado ao regime iraniano, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, a Organização das Nações Unidas, a maior associação de atletas do mundo e o Comitê Olímpico Internacional.

Trump foi o primeiro grande líder internacional a entrar no debate, com um tuíte na quinta-feira passada. "Para os líderes do Irã, eu apreciaria muito se vocês poupassem a vida desse jovem, e não o executassem". Em seguida, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Morgan Ortegus, tuitou: "Nós nos unimos ao mundo na indignação com a sentença de morte do regime iraniano para Navid Afkari, que foi torturado para fazer uma confissão falsa após participar de protestos pacíficos em 2018."

Ontem (8), o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, se pronunciou, por um porta-voz. Disse que o COI precisa, em primeiro lugar, seguir o princípio respeitar a soberania e o sistema judicial dos países soberanos. Mas que Afkari é um atleta e, por isso, o comitê se sente próximo a ele.

"É por isso que o COI, junto com a United World Wrestling (federação internacional de wrestling), estavam e estão extremamente preocupados com o caso de Navid Afkari. O Comitê Olímpico do Irã e a Federação Iraniana de Wrestling estão fazendo o possível para facilitar uma solução -para o caso. Vocês podem entender que, devido às circunstâncias específicas — e aos esforços ainda em andamento — não posso oferecer mais detalhes neste estágio", disse Bach.

Ainda no domingo, o porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU) também deixou claro o posicionamento da entidade: "Nós firmemente nos posicionamos contra a pena de morte. As pessoas não devem ser punidas com suas vidas", disse. Já na terça, a Associação Mundial de Atletas (AMA) pediu que o Irã seja banido do esporte se executar Afkari.

"O ato horroroso de executar um atleta só pode ser considerado um repúdio aos valores humanitários que sustentam o esporte", disse Brendan Schwab, diretor da AMA. "Em resultado, o Irã deve perder o direito de ser parte da comunidade universal do esporte".

Afkari foi considerado culpado pelo "homicídio doloso" de um funcionário da autoridade pública de água em Shiraz, no sul do Irã, em 2 de agosto de 2018. Como várias outras localidades do país, a cidade era palco de manifestações hostis ao regime iraniano naquele dia. Logo os protestos, que inicialmente questionavam a péssima situação socioeconômica do Irã e a falta de água, se transformaram em apelos pela derrubada do regime teocrático. Reprimidos com violência, esses atos deram em nada.

Atleta de sucesso regional no wrestling, Afkari e seus dois irmãos trabalhavam na construção civil em Shiraz e estiverem nos protestos de rua. Um mês e meio depois, agentes de segurança iranianos bateram à porta da casa deles e levaram Afkari e um dos irmãos. O outro foi preso três meses depois.

Eles foram acusados de "travar uma guerra contra o Estado, de corrupção na terra e de formar um grupo antirrevolucionário". Foi quando surgiu a acusação de que Afkari teria esfaqueado um segurança de um aqueduto. Julgado, ele recebeu duas sentenças de morte, enquanto seus irmãos foram condenados a 54 e 27 anos de prisão. Além disso, segundo a organização humanitária Observatório Internacional, os três receberam 74 chicotadas cada.

A condenação foi mantida pela Suprema Corte do Irã, apesar das queixas formais apresentadas contra os interrogadores por cometerem tortura. Afkari detalhou como foi forçado a dar falsas confissões enquanto era submetido à "mais severa tortura física e psicológica" durante quase 50 dias na detenção policial. Mas a queixa foi ignorada pela Suprema Corte.

Na semana passada, um áudio atribuído a Afkari foi vazado de dentro da prisão. Nele, o lutador diz que o tribunal que o condenou nunca o ouviu e que até então estava calado na expectativa de uma justiça de fato justa. Ao perder as esperanças, apelava para uma pressão internacional.

"Daqui em diante, minha família e eu precisamos de ajuda. Não estou me dirigindo apenas aos iranianos. Estou me dirigindo a qualquer pessoa que acredita na humanidade e é honrada. Seu silêncio significa que você está apoiando os opressores e a opressão. Significa apoiar a execução de uma pessoa inocente", disse ele no áudio.

A gravação chegou ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que se posicionou em defesa de Afkari e contra o regime iraniano, do qual é adversário. O Irã respondeu exibindo, no último domingo (6), pelo canal estatal de televisão, um vídeo com o lutador dizendo que ele esfaqueou um homem. Também foram exibidas duas cartas supostamente escritas por Afkari admitindo o crime.

De acordo com o Observatório Internacional dos Direitos Humanos, a mídia estatal do Irã costuma colocar no ar supostas confissões de suspeitos em casos com acusações políticas. Em relatório divulgado em junho deste ano, a Federação Internacional de Direitos Humanos e Justiça para o Irã, com sede em Londres, disse que a mídia estatal iraniana divulgou mais de 355 confissões forçadas na última década. Autoridades iranianas rejeitam tais acusações.

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