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Olhar Olímpico

Esquema que envolveu Bia também funcionava no Esporte do Rio, diz MP

Bia Figueiredo - Ilya S. Savenok/Getty Images
Bia Figueiredo Imagem: Ilya S. Savenok/Getty Images

27/06/2020 04h00

O suposto esquema criminoso que desviava recursos da saúde do Rio de Janeiro e levou à prisão o marido da piloto Bia Figueiredo também operou na Secretaria de Esporte do Rio, de acordo com a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) que embasou a operação Pagão.

De acordo com o Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (GAECC), pessoas ligadas ao ex-deputado estadual André Lazaroni (MDB), então secretário de Esporte, sacaram mais de R$ 140 mil na boca do caixa, em pequenas operações, das contas de uma empresa que recebia recursos da secretaria. Um ex-assessor de Lazaroni foi preso na quinta (26). O ex-deputado segue influente no esporte do Rio. Este mês, outro ex-assessor dele foi nomeado pelo prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) como subsecretário do Legado Olímpico.

Como mostrou o Olhar Olímpico, o suposto esquema denunciado pelo MP era comandado pelo médico Juracy Batista, sogro de Bia Figueiredo, e diretor-presidente do Instituto dos Lagos Rio, uma organização social (OS) que opera equipamentos públicos de saúde e recebeu ao menos R$ 650 milhões do governo do Rio, de acordo com o MP. Parte desses recursos foi desviada pela empresa F71 Serviços e Comércio, que por sua vez repassou mais de R$ 1,5 milhão a Bia Figueiredo.

A cúpula da OS era formada por Juracy e seus filhos, incluindo Fábio, marido de Bia. O terceiro da hierarquia da OS era Sildiney Gomes, ex-funcionário concursado do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) que antes havia sido assessor parlamentar dos deputados estaduais Noel de Carvalho e Geraldo Moreira.

A relação com o Esporte

Deputado estadual de 2003 a 2018, Lazaroni se afastou da ALERJ no início de 2013 para ser secretário estadual de Esporte e Lazer. No cargo, contratou uma OS para gerir o Complexo Esportivo da Rocinha, a Associação do Conselho Gestor de Esporte e Lazer do Estado do Rio de Janeiro (ASCAGEL), que recebeu R$ 4,2 milhões somente por dois aditivos assinados depois que Sildiney assumiu a presidência da entidade.

Ele só se afastou temporariamente da ASCAGEL por quatro meses, no segundo semestre de 2014, quando, segundo o MP, Sildiney participou "ativa e conjuntamente" da campanha de Lazaroni pela reeleição. No dia seguinte ao pleito, os dois festejaram juntos a vitória do deputado, que nomearia Sildiney como seu assessor no início de 2015, mantendo-o no seu gabinete até setembro de 2016.

Ainda em 2014, assim que se afastou da ASCAGEL e deixou a diretoria do Instituto dos Lagos Rio, Sildiney tornou-se sócio de Gisele de Souza do Espírito Santo Barbuto, vice-presidente da associação, em uma nova empresa, que ganhou o nome de Rio de Janeiro Serviços e Comércio. Gisele também fez, segundo o MP, "ativa militância" na campanha de Lazaroni.

Esporte + Saúde

A trama se encontra quando, seis dias após ser formada, a Rio de Janeiro apresentou proposta de preços para o Instituto dos Lagos Rio e venceu processo seletivo para fazer manutenção de três Unidades de Pronto Atendimento (UPA's) administradas pelo instituto. A empresa fica no mesmo endereço da ASCAGEL. A associação, assim como o instituto, também fez contrato supostamente de fachada com a F71.

"Evidentemente, ambas as fornecedoras (F71 e Rio de Janeiro) prestavam-se a servir de instrumento para dar vazão ao dinheiro público", diz a denúncia do MP. O dinheiro saía do governo do Estado, passava pelas OS (Instituto Lagos e ASCAGEL) e, delas, seguia para a F71. Esta última (a mesma que repassou R$ 1,5 milhão a Bia Figueiredo) fez depósitos de R$ 227 mil na conta corrente da Rio de Janeiro.

Sempre de acordo com a investigação, o dinheiro saiu da conta da Rio de Janeiro a partir de cheques descontados na boca do caixa "por pessoas atreladas a Sildiney e ao deputado André Lazaroni". Só Luiz Leal Monteiro Leal foi beneficiário de aproximadamente R$ 100 mil em operações "dotadas de características de fracionamento, já que praticadas no mesmo dia ou em dias próximos, a fim de evitar a comunicação de operação em espécie ao COAF".

O MP, porém, avalia que Luiz Leal "não ostenta qualquer sinal de ser o destinatário final dos recursos". Antes de começar a descontar os cheques da Rio de Janeiro, ele fez campanha por Lazaroni nas eleições de 2014. Outros R$ 46 mil foram sacados por André Reis Gonçalves, que era sócio de Sildiney em outra empresa. A denúncia anexa uma foto de Lazaroni, André e Luiz abraçados. Já Alberto Rocha Menezes da Costa, membro do conselho administrativo da ASCAGEL, sacou outros R$ 36 mil.

Apesar de ser citado 15 vezes na denúncia, o ex-deputado André Lazaroni não é acusado formalmente de nenhum crime pelo MP, assim como Bia Figueiredo e os demais citados nesta reportagem, com exceção de Juracy Batista (sogro de Bia), Fábio (marido dela) e Sildiney. Os três foram detidos ontem. A reportagem não conseguiu contato com a defesa deles.

Lazaroni foi procurado pelo Olhar Olímpico, mas não quis comentar a denúncia do MP. Já a assessoria de imprensa de Bia Figueiredo disse que a piloto não foi acionada ou notificada judicialmente e que vai responder a todos os questionamentos feitos pela imprensa assim que os advogados analisarem todo o processo. A reportagem enviou e-mail e telefonou para os números informados no site do Instituto dos Lagos Rio, mas não houve retorno.