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Izquierdo, Selena e seus filhos: a dor que deveria ser proibida

Quando o quadro de Juan Izquierdo começou a se agravar e a esperança de que o atendimento rápido fosse lhe salvar a vida passou a se esvair, eu só conseguia pensar em uma coisa: quem tem filho pequeno não pode morrer. Não pode. Simplesmente não pode.

Ele e a companheira Selena são pais de uma menina de 2 anos e um bebê que hoje completa 12 dias. Doze dias. Selena acabou de parir. E está de luto. Precisa contar à filhinha que o papai não vai voltar para casa, enquanto cuida da sobrevivência de um recém-nascido — e da própria. Uma dor sem fundo. Impensável, inconcebível, inumana. Uma dor que deveria ser proibida.

Ao me tornar mãe ganhei, junto com o amor incomensurável, um medo abjeto da morte. Da morte do meu filho e da minha. Uma consciência um pouco aterradora de que não tenho mais o direito de faltar. Aconteça o que acontecer, preciso estar aqui.

Mas a vida não funciona assim. A vida nos tira o direito de viver sem lógica, sem motivo, tantas vezes sem aviso prévio.

Um jovem atleta de 27 anos, sob cuidados físicos diários, exercendo uma profissão que lhe permitiu receber atendimento médico em segundos, partiu assim, do nada. Testemunhou o nascimento do filho na sexta, viajou para jogar em São Paulo na quinta e morreu na terça.

Lendo a notícia ontem, tendo acabado de colocar meu filho para dormir, eu queria voltar correndo para o quarto e abraçá-lo bem forte, sussurrando: a mamãe tá aqui, o papai tá bem, tá tudo bem. Queria abraçar também Selena, tirar a sua dor com a mão e prometer a todas as crianças que nada de ruim pode lhes acontecer no mundo. Nunca, nunquinha.

O que a realidade nos impõe, porém, é seguir. Sabe-se lá de que jeito. Como Selena escreveu diante da notícia inadmissível, "hoje me resta seguir por nossos filhos e encontrar forças onde não há".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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