Estudantes de escola pública criam fralda biodegradável de R$ 1,40 em PE

O Brasil é o terceiro maior consumidor de fraldas descartáveis do mundo, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Cada fralda leva, em média, de 450 a 600 anos para se decompor na natureza e foram esses números que motivaram estudantes da Escola Técnica Estadual Paulo Freire, localizada em Carnaíba, no sertão de Pernambuco, a criar uma alternativa sustentável.

A Ekofralda é um protótipo de fralda descartável biodegradável, feita à base de casca e fibra de coco. A invenção foi uma das finalistas do Prêmio Solve for Tomorrow, que incentiva a produção científica de estudantes de escolas públicas focadas na sustentabilidade ambiental.

"Esse protótipo foi desenvolvido dentro das atividades da disciplina eletiva de química, na qual os estudantes tinham que observar problemas ambientais e econômicos à sua volta", explica Gustavo Bezerra, professor que coordenou a equipe de pesquisa. "Além do problema ambiental, vimos o alto custo financeiro que o consumo de fralda descartável causa."

Plástico biodegradável e fibra de coco

A Ekofralda é composta por um suporte de plástico biodegradável (que é reutilizável) e custa 1 real. A absorção dos resíduos líquidos e sólidos é feita por um cartucho, composto por camadas de casca e fibra de coco envolvidas em tecido de algodão. "A fibra de coco tem alta capacidade de absorção e pode conter até dez vezes o volume da sua massa", explica o professor.

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Imagem: Arquivo ETE Paulo Freire

Esse material é sobreposto em várias camadas e envolvido em tecido de algodão, o mesmo usado nas fraldas tradicionais que, segundo o professor, possui baixo tempo de degradação, formando o cartucho descartável. "Esse cartucho fica bem protegido no tecido para evitar o contato com o bebê, eliminando o risco de alergias e contaminação. Ele possui capacidade de absorver até 150 ml de resíduo e seu custo é de R$ 0,40.

A ideia é que o consumidor reutilize o suporte de plástico e use a quantidade de cartuchos que necessita. Segundo Ribeiro, o suporte leva dez anos para se decompor, enquanto o cartucho em um período de 30 dias já havia se decomposto quase completamente.

Se compararmos o tempo de decomposição do suporte de plástico com a fralda descartável, o ganho é grande.
Gustavo Bezerra, professor

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Os aprendizados

O jovem José Henrique Rocha, estudante da ETE Paulo Freire, fez parte do desenvolvimento do protótipo da Ekofralda. Ele, que quer se graduar em Química, reconhece que a experiência teve grande importância e deixou muitos aprendizados.

Foi muito importante desenvolver algo que vai fazer a diferença na vida das pessoas. Deu para absorver muito da avaliação de cada júri e, agora, a gente segue aperfeiçoando o projeto.
José Henrique Rocha, estudante

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Imagem: Arquivo Escola Técnica Paulo Freire

Além de ser finalista do Solve for tomorrow, o protótipo foi apresentado em outros três eventos científicos. QCiência, uma feira estadual promovida pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e o Ciência Jovem, evento realizado pelo Espaço Ciência de Recife.

Nesses espaços, os juris costumam avaliar e recomendar medidas para aperfeiçoar cada projeto. "Além de pensarmos em como destinar os cartuchos à compostagem, ou seja, reciclar o material transformando em adubo, vamos realizar novos testes para garantir total segurança ao produto", explica o estudante.

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Testes de alergia

A reação do público ao conhecer a Ekofralda nas redes sociais foi muito positiva. "Muita gente já queria encomendar uma. Essa reação mostra o interesse do público de cuidar da natureza", avalia Gustavo Bezerra.

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Imagem: Arquivo Escola Técnica Paulo Freire

Mas antes de ser comercializada, a fralda precisa passar por várias etapas, que demandam tempo, recursos e infraestrutura. "O nosso laboratório é escolar e para realizar os testes de segurança precisa de novos equipamentos. Nós conseguimos uma parceria com o Instituto Federal de Porto Velho para realizar os testes de alergia", informa o professor.

Nesta nova etapa, os estudantes seguem envolvidos com a pesquisa e, segundo Gustavo, com a mesma empolgação do início do projeto. "Esses meninos estão de parabéns. Muitas vezes, mesmo após um turno escolar de oito horas, eles ainda ficavam na escola, pesquisando, trabalhando no projeto. Hoje eles já manuseiam os objetos de laboratório e se comunicam em público com desenvoltura, isso é um grande resultado."

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