Professor nomeado por papa mostra luta pelo meio ambiente no Vaticano
"Rezemos para que o grito da Terra e dos pobres seja ouvido e que este encontro possa dar respostas eficazes e oferecer esperança concreta às gerações futuras". Assim o papa Francisco se referiu à COP26, evento que reúne centenas de países para discutir as mudanças climáticas.
Mesmo sem ir ao encontro, o papa tem demonstrado interesse na COP e pedido orações aos fiéis católicos pelo evento, que começou em 31 de outubro e acaba hoje (12). Mas não é de hoje que o Vaticano, principalmente na figura do papa Francisco, tem demonstrado atenção às questões climáticas.
Em 2019 aconteceu o Sínodo para a Amazônia para discutir o papel da Igreja e dos católicos no enfrentamento das problemáticas envolvendo o bioma, como a devastação da floresta e o ataque a povos indígenas.
"A preocupação do papa com relação aos temas ambientais se estende por toda Igreja. O papa é o líder principal e, obviamente, isso representa uma inspiração e orientação para todos", comentou Virgilio Viana, superintendente geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).
Em setembro deste ano, Viana foi convidado pelo próprio papa Francisco para integrar a Pontifícia Academia das Ciências Sociais. Engenheiro florestal e um dos responsáveis pela maior implementação de unidades de conservação do estado do Amazonas, Virgilio Viana, que também é católico, levará para a academia mais temas ligados ao meio ambiente.
Tendo em vista o posicionamento do papa frente a COP26 e a nomeação de Viana, Ecoa conversou com o especialista para entender mais sobre a participação dos católicos em discussões sobre o clima.
Como você recebeu o convite para compor a Pontifícia Academia das Ciências Sociais? Você já tinha tido contato com o papa antes?
Tenho tido um contato com a Academia de Ciências Sociais do Vaticano há muitos anos e em várias ocasiões tive a oportunidade de encontrar pessoalmente com o papa. Esse convite eu recebi com um sentimento muito grande de honra e ao mesmo tempo de um desafio pelo que ele representa. É uma missão extremamente desafiadora.
Qual trabalho você vai desempenhar na organização? Há outros brasileiros na equipe? Ela dará maior visibilidade às questões ambientais?
Não existem outros brasileiros na Academia de Ciências Sociais. Meu trabalho será debruçar sobre as grandes questões da humanidade, que é a pauta que tem sido abordada nos últimos anos. E a tendência é que a Academia dê mais visibilidade às questões ambientais nas suas interfaces com os temas que são os maiores desafios para a humanidade, como as mudanças climáticas, por exemplo.
Como a Igreja entende eventos como a COP 26?
A Academia de Ciências não tem nenhum papel de representação da Igreja propriamente dita. É uma instituição voltada para ciência e que assessora e informa o Vaticano. As políticas e os posicionamentos da Igreja e do papa são independentes. A Academia, apenas quando consultada e chamada a opinar, dá base científica ao posicionamento do papa sobre grandes temas relacionados à humanidade.
Para você, qual a importância da Igreja Católica, por meio da figura do papa Francisco, se posicionar frente a questões ambientais e especificamente em relação à Amazônia?
Tem sido extremamente importante o posicionamento do papa Francisco em relação aos grandes temas ambientais do planeta. Talvez o mais emblemático seja por meio da encíclica Laudato si [que é uma carta do papa que critica o desenvolvimento irresponsável além de fazer um apelo a favor do combate à degradação ambiental]. E, além disso, o papa tem se posicionado muito em relação à Amazônia, coordenou o Sínodo da Amazônia, que foi liderado pelo cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes e que foi um processo muito rico e envolveu centenas de eventos preparatórios e serviu para reorientar o posicionamento da Igreja e, ao mesmo tempo, chamar atenção sobre o tema em relação a outros credos.
O papa Francisco disse em 2019 que gostaria de criar no Vaticano um departamento dedicado somente à região amazônica. Esse departamento foi criado? Como anda esse processo?
O papa criou a Conferência Episcopal da Amazônia e isso está sendo guiado pelo Dom Cláudio Hummes, que tem dado historicamente uma contribuição muito grande para a Igreja Católica no que diz respeito à Amazônia. É o principal ponto focal e nomeado pelo papa para diferentes funções desde o sínodo e agora nessa Conferência Eclesiástica pela Amazônia.
A Igreja Católica tem estado presente na Amazônia desde a colonização do País e muitas vezes de forma tida como predatória frente às questões e povos indígenas. Como a Igreja entende a realidade desses povos hoje e quais suas propostas para mitigar os ataques que eles vêm sofrendo ao longo dos anos?
O papa fez um gesto muito emblemático: foi pedir perdão por muitas das ações da Igreja Católica no passado em relação aos povos indígenas. E isso foi algo muito relevante e vai no sentido de repensar o posicionamento da Igreja, e ao mesmo tempo reconhecer aquilo que não foram posicionamentos e atitudes corretas em outros períodos da história.
O Sínodo para a Amazônia, que aconteceu em 2019, gerou críticas de católicos mais conservadores e outras pessoas que tinham como opinião que a Igreja não deveria intervir no território. Como você avalia que foi o evento e, para você, qual foi sua relevância e ensinamentos?
O Sínodo foi extremamente relevante para criar uma doutrina e uma abordagem da Igreja com relação à Amazônia. É lógico que a Igreja tem diferentes correntes de pensamento, mas todas elas se unem em torno do que é a orientação principal do papa. Eu acredito que a principal questão do Sínodo foi identificar a necessidade de uma reconciliação com a história e com os povos indígenas, e um olhar para o futuro com o reconhecimento do papel dos povos indígenas e populações tradicionais como os guardiões da Amazônia, além da necessidade da Igreja ter uma ação e uma doutrina diferenciada em relação a estes povos da floresta.
O papa não fala só para o catolicismo, ele fala para outras igrejas cristãs e para outras matrizes religiosas também
Virgilio Viana, superintendente geral da Fundação Amazônia Sustentável e integrante da Pontifícia Academia das Ciências Sociais
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