Redescoberta das antas é marco para a conservação no Rio de Janeiro
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Em um feito histórico, as antas (Tapirus terrestris), dadas como extintas no estado do Rio de Janeiro há cerca de um século, foram recentemente flagradas em vida livre no parque Estadual Cunhambebe, segundo maior do RJ. A descoberta, realizada pelo Inea (Instituto Estadual do Ambiente), em parceria com a Vale, com o auxílio de armadilhas fotográficas, não apenas marca o retorno de uma espécie emblemática, mas também reforça a importância das políticas de conservação ambiental para a proteção de ecossistemas.
Esse registro é mais do que um simples reencontro com a fauna fluminense. Trata-se de um sinal claro de que esforços de conservação, como a proteção de quase meio milhão de hectares de Mata Atlântica em unidades de conservação estaduais, estão produzindo resultados concretos. O retorno da anta, com registros de grupos e até de uma fêmea com filhote, sugere uma população viável e autossustentável, algo impensável há algumas décadas.
A anta-brasileira, maior mamífero terrestre da América do Sul, possui um papel vital no equilíbrio ecológico. Como dispersora de sementes, ela contribui diretamente para a regeneração de florestas, conectando diferentes áreas do habitat e promovendo a biodiversidade. Sua presença no estado, especialmente após a devastação causada pela urbanização, caça e perda de habitat no último século, simboliza não apenas a resiliência da espécie, mas também o potencial de recuperação ambiental quando há investimento em políticas públicas eficientes.
O Parque Estadual Cunhambebe, onde os registros foram feitos, é um exemplo do impacto positivo dessas iniciativas. Além de proteger quase 40 mil hectares, o parque promove ações de reflorestamento, fiscalização e educação ambiental, integrando as comunidades locais no esforço de conservação. Esses esforços se refletem em dados animadores, como a redução de 68% no desmatamento da Mata Atlântica no estado em 2023.

A parceria entre o Inea e a Vale, que faz parte da Meta Florestal da Vale, que tem como objetivo recuperar e proteger 500 mil hectares além das fronteiras da empresa, viabilizou o monitoramento da fauna com armadilhas fotográficas e monitores ambientais, também destaca a importância de alianças entre órgãos públicos e o setor privado na busca por soluções baseadas na natureza. A coleta de dados permite não apenas celebrar o retorno da espécie, mas também planejar estratégias mais eficazes de conservação.
Ainda assim, a redescoberta das antas é um lembrete de que há muito a ser feito. A inclusão da espécie na Lista Vermelha da IUCN como vulnerável ressalta os desafios que persistem. A proteção contínua de habitats, a fiscalização contra atividades ilegais e o engajamento da sociedade são pilares fundamentais para garantir que este marco não seja apenas um feito isolado, mas o início de um movimento mais amplo pela recuperação da biodiversidade no Brasil.

O retorno das antas ao Rio de Janeiro é, sem dúvida, um motivo para celebração. Mais do que isso, é um apelo à ação. A presença dessas "jardineiras da floresta" nas encostas da Costa Verde reafirma o papel das áreas protegidas como refúgios essenciais para a vida selvagem e nos lembra de que a conservação não é apenas um compromisso com o passado, mas uma promessa para o futuro.
* Cléber Ferreira é diretor de Biodiversidade, Áreas Protegidas e Ecossistemas do Inea (Instituto Estadual do Ambiente). Marcio Santos Ferreira é gerente de Recursos Naturais e Áreas Protegidas da Vale.
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