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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Supositório de PEP tem resultados promissores em estudos. Você usaria?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

03/03/2023 04h00

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Depois do sucesso obtido na prevenção do HIV com o uso das PrEP e PEP (Profilaxias Pré e Pós-Exposição), respectivamente, as pesquisas clínicas nessa área têm incansavelmente buscado novas drogas e vias de administração para serem usadas. O objetivo dessa corrida é diversificar as alternativas de métodos de prevenção.

Uma ideia absolutamente sensata pensada por alguns pesquisadores já há algum tempo foi a de administrar o medicamento antirretroviral profilático diretamente na mucosa vaginal ou anal, as principais portas de entrada do HIV, próximo à relação sexual.

No ano de 2015, foi publicado o estudo VOICE, o primeiro grande ensaio clínico avaliando essa via de administração de antirretrovirais. Ele testou em mulheres cisgênero na África uma PrEP feita com a aplicação intravaginal diária de um gel do antirretroviral tenofovir. No entanto, os resultados mostraram que o grupo que utilizou a PrEP em gel teve o mesmo número de infecções por HIV que o placebo.

A análise da adesão ao gel vaginal por meio de detecção do antirretroviral no corpo das participantes apontou que apenas 25% delas aplicaram o medicamento da forma prescrita, o que pode perfeitamente justificar a não eficácia preventiva da intervenção. Outra hipótese para explicar essa falha poderia ser o uso de um antirretroviral isoladamente.

O tempo passou, os planos foram revistos e nos últimos anos uma nova tentativa para a mesma ideia começou a ser testada. Dessa vez, utilizando dois antirretrovirais (tenofovir alafenamida e elvitegravir) na forma de um supositório semelhante a um pequeno comprimido que se dissolve rapidamente em mucosas. Os estudos em macacos mostraram que quando aplicados tanto em mucosa vaginal quanto anal após uma exposição experimental ao HIV, os supositórios garantiam uma proteção contra essa infecção maior de 90%.

O sucesso nos estudos em animais permitiu que fossem iniciados os ensaios clínicos em humanos. Recentemente foram divulgados os resultados da primeira etapa dessa avaliação. Os estudos de fase 1, realizados para avaliar principalmente a segurança da intervenção, mostraram que o uso retal e vaginal do supositório de antirretrovirais não provocou efeitos colaterais graves, causando em apenas uma pequena parte dos participantes inflamação leve e passageira da mucosa.

A avaliação do nível dos antirretrovirais no corpo dos participantes até 72 horas depois de uma única aplicação do supositório sugeriu que aparentemente a dose adequada pós-sexo para se usar em futuros estudos que pretendam testar a eficácia protetora contra uma infecção por HIV pode ser a de um supositório para a aplicação vaginal e dois para a anal.

Dentro da compreensão mais moderna da prevenção do HIV, entende-se que os melhores métodos para cada indivíduo são aqueles que ele escolhe usar por se considerar capaz de usá-los de forma correta.

O desenvolvimento de cada vez mais alternativas de PrEP e PEP é fundamental para que todos os diferentes contextos de vida sexual e de preferências pessoais possam ser contemplados com algum método eficiente de prevenção.

Os resultados divulgados do supositório de antirretrovirais são de fato animadores, mas é preciso ter cautela. A eficácia em animais nem sempre significa que uma intervenção também funcionará em seres humanos. Além disso, algumas fases da pesquisa clínica ainda precisam ser completadas para que possamos um dia utilizar essa forma de PrEP e PEP.

Enquanto isso, fique por dentro de todas as alternativas de prevenção do HIV que já estão disponíveis gratuitamente pelo SUS, tais como a PEP ou a PrEP na forma de comprimidos tomados diariamente ou sob demanda.