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Mariana Varella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Surto de meningite em SP chama a atenção para a necessidade de vacinação

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

19/10/2022 04h00

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Notícias sobre casos de meningite sempre assustam, em especial aqueles que se lembram da epidemia da década de 1970, em São Paulo. Na ocasião, o governo militar tentou esconder a pior epidemia da doença da história do país, mas foi difícil omitir as milhares de mortes ocorridas na capital paulistana em menos de uma década.

Na época, a cidade viveu a epidemia de dois tipos de meningite meningocócica, A e C, ambas bacterianas. As informações desencontradas por parte das autoridades só contribuíram para que os casos aumentassem.

Assim, diante da notícia de que um surto de meningite meningocócica C, causada pela bactéria meniningococo C e a mais frequente entre as meningites bacterianas, atingiu a zona leste da capital, muita gente foi atrás da vacina, que começou a faltar em algumas unidades básicas. No entanto, especialistas apontam que não há necessidade de pânico.

"O meningococo tem um caráter endêmico, ou seja, os casos acontecem regularmente, e a imensa maioria ocorre entre crianças e adolescentes, público que já deve ser vacinado de acordo com o Calendário Nacional de Vacinação", explica o infectologista e pediatra Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).

Isso significa que a ocorrência de casos de meningite bacteriana não são raros, embora possam evoluir com rapidez para quadros graves que levam à óbito em poucas horas. A doença ataca as meninges, três membranas que envolvem e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso, e é transmitida pelo ar, pelo contato com secreções das vias áreas.

O que aconteceu entre os dias 17 de julho e 15 de setembro deste ano, na capital paulista, foi a identificação de um surto na zona leste da cidade, mais precisamente nos bairros de Vila Formosa e Aricanduva, onde ocorreram cinco casos da doença.

É considerado surto sempre que são constatados três ou mais casos do mesmo tipo na mesma localidade, em um prazo de 90 dias.

Quando são identificados surtos da doença, deve-se fazer o que especialistas chamam de vacinação de bloqueio, a ampliação da faixa etária do público-alvo que deve receber o imunizante.

No caso da zona leste, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo já vacinou mais de 30 mil moradores, estudantes e trabalhadores entre três meses e 64 anos de idade, em um perímetro de 3 quilômetros na região em que foram localizados os cinco casos.

Programa Nacional de Imunizações

A vacina contra a meningite meningocócica C é oferecida pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações) para crianças em 3 doses, que devem ser tomadas ao 3, 5 e 12 meses de idade. "Como essa vacina só começou a ser oferecida pelo SUS em 2010, crianças nascidas antes desse ano também podem tomar o imunizante gratuitamente', explica Kfouri.

De forma excepcional, o PNI oferecerá, até junho de 2023, a vacina meningocócica ACWY para adolescentes de 11 a 14 anos. Outras vacinas contra outros tipos de meningite podem ser encontradas em clínicas privadas.

Em São Paulo, de acordo com Kfouri, crianças e adolescentes devem se vacinar normalmente, e os adultos com até 64 anos que moram ou frequentam a região em que está ocorrendo o surto também devem receber o imunizante. "Não há recomendação de estender a vacinação para todos os adultos de toda a cidade", afirma o médico.

É importante lembrar que profissionais de saúde e pessoas imunocomprometidas devem receber um esquema de vacinação especial.

"É fundamental tomar a vacina, que é segura, utilizada há muitos anos, sem grandes efeitos colaterais e que protege muito bem contra a doença", conclui Kfouri.

Queda da cobertura vacinal

A SBIm tem chamado a atenção para a queda da cobertura vacinal de todas as vacinas oferecidas pelo PNI.

O Brasil, que sempre teve uma das maiores coberturas vacinas do mundo e cuja excelência do seu programa de vacinações é reconhecida internacionalmente, tem visto as taxas de vacinação caírem desde 2015.

Os motivos são muitos: desinformação; horário limitado de funcionamento das UBSs (Unidades Básicas de Saúde); falta de divulgação das campanhas; entre outros.

O receio dos especialistas é que as desinformações que circularam a respeito das vacinas contra a covid-19 acabem aumentando a hesitação vacinal e, consequentemente, reduzindo ainda mais a cobertura vacinal.

O sarampo, doença que havia sido erradica do país, voltou a causar surtos no país, e o risco de termos de volta a poliomielite é grande.

De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, até julho deste ano a cidade havia vacinado 79,92% do seu público-alvo contra a meningite meningocócica C. O Ministério da Saúde recomenda a vacinação de 95% desse grupo, para que haja proteção coletiva.

Sintomas da meningite

Os sinais e sintomas de meningite variam conforme a idade, de acordo com o Ministério da Saúde. Veja quais são:

Nos bebês, os sintomas e sinais mais frequentes são:

  • Febre, mãos e pés frios (dificuldade de circulação);
  • Baixa atividade (criança "derrubada") ou irritabilidade, choro intenso e inquietação;
  • Rigidez de nuca (dificuldade para flexionar a cabeça);
  • Recusa alimentar - não aceita nada do que é oferecido;
  • Gemência e sonolência, com dificuldade para despertar;
  • Manchas vermelhas na pele;
  • Convulsões;
  • Fontanela abaulada (moleira abaulada);
  • Vômito e diarreia.

Nas crianças maiores, adolescentes e adultos, os principais sintomas são:

  • Febre alta;
  • Dor de cabeça;
  • Vômitos, muitas vezes em jato;
  • Rigidez de nuca (dificuldade para flexionar a cabeça);
  • Sonolência;
  • Convulsões;
  • Dor nas articulações;
  • Aversão à luz.

Em casos suspeitos, é recomendado procurar um serviço de saúde rapidamente.