Elânia Francisca

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Opinião

Quer que seu filho tenha educação saudável? Informe-se sobre sexualidade

Quando eu era adolescente, meu pai não me deixava namorar. Na verdade, ele era muito enfático ao dizer que o namoro era uma ação passível de punições físicas, caso acontecesse (ou ele descobrisse que acontecia).

Recordo de uma vez em que meu pai decidiu me buscar na escola sem avisar. Era uma espécie de fiscalização: "Deixa eu ver o que ela faz quando está retornando para casa".

De fato, naquela época, eu voltava da escola como a maioria de adolescentes voltam: brincando, cantando alto, correndo, pulando e rindo muito com minhas amigas, mas era só isso. Eu nunca fui uma adolescente dentro dos padrões de beleza da época (estamos falando dos anos 90), mas meu pai sempre acreditou que havia meninos muito interessados em mim na escola. Ledo engano!

Meu pai —ou qualquer outro membro de minha família— não tinha lido nada sobre preterimento da menina e mulher negra. Então ele achava que eu vivia cercada de meninos querendo namorar comigo. A realidade era que nenhum menino me cogitava como parceira para o amor romântico.

Pois bem, dessa vez em que meu pai me buscou na escola de surpresa, tivemos um desencontro. Eu fiz um caminho e ele fez outro. Cheguei em casa antes dele e fui tomar banho.

Meu pai chegou em casa e eu estava preparando meu prato para jantar. Lembro-me de ele ter dito que eu iria apanhar porque ele viu uma menina muito parecida comigo beijando um menino no beco perto de nossa casa.

Mesmo eu tendo minha mãe e irmãs como testemunhas de que eu cheguei mais cedo, eu estando de banho tomado e prato posto à mesa, ele me bateu. Alegou que estava me batendo como forma de prevenir um namoro e, consequentemente, uma gravidez.

Hoje meu pai assume que naquela época ele não tinha repertório nem recurso emocional suficientes para dialogar comigo sobre namoro, sexo e prevenção. Então onde não há informação para alimentar um diálogo, a ignorância faz a violência ocupar esse lugar. E assim foi.

Minhas lembranças de conversas sobre sexo e sexualidade com meus pais são de muita imposição de uma regra descabida e sem fundamento ou de agressões como forma de conter meus desejos.

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Quem me acompanha aqui na coluna deve se recordar do caso do vício em pornografia ou do dia em que perguntei ao meu pai o que era "gozar", afinal eu tinha lido na carteira de trabalho dele "gozo de férias".

Voltando ao assunto: eu digo tudo isso para enfatizar o quanto a informação sobre sexualidade é importante para promover diálogos saudáveis em casa, e essa é a base do trabalho de educação sexual. Educação em sexualidade ou educação sexual é extremamente importante para não crescermos com falsas crenças ou experiências perigosas em nosso desenvolvimento (e só não se desenvolve quem já morreu). Todo mundo precisa falar sobre sexualidade.

Se você acredita que esse tema deve ser falado em casa, então é compromisso seu —e de todo mundo— aprender sobre o tema com ética, ciência e sem pré-conceitos.

Vamos fazer isso?

Informação sobre sexualidade e diálogos saudáveis com adolescentes

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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